NOTA 7,0 Comédia exagera nos estereótipos, mas arranca risadas com situações que beiram o absurdo interpretadas por elenco afiado e a vontade com o gênero |
Três amigos estão cansados dos abusos cometidos por
seus chefes e passam a fantasiar planos para eliminar seus respectivos
carrascos, chegando até mesmo a pedir a consultoria do ex-presidiário MF Jones
(Jamie Foxx), porém, são eles mesmos que vão ter que executar o serviço sujo.
Nick Hendricks (Jason Bateman) se dedica muito ao seu trabalho em um escritório
e sofre com as ordens descabidas de Dave Harken (Kevin Spacey), mas aguenta
firme sonhando com uma promoção. Já Dale Harbus (Charlie Day) é o assistente da
despudorada dentista Julia Harris (Jennifer Anniston), que vive assediando o
rapaz que se mostra muito correto e fiel à noiva, mas, ardilosa como ela só, a
gata do motorzinho já tem um plano na manga para fazer seu pupilo sair da linha
na marra. Por fim, Kurt Buckman (Jason Sudeikis) é um contador que vai precisar
se adaptar ao novo chefe, o filho do antigo patrão, Bobby Pellit (Colin
Farrell), um boa vida que passa mais tempo no banheiro fazendo o que não deve
do que trabalhar. O elenco, como visto, é muito bom e todos com experiência no
campo do humor, aliás, alguns já tem até demais. Entre os patrões, é impossível
não gargalhar desde a primeira cena de Jennifer, deixando de lado o tom
anestesiado que adota geralmente em suas comédias românticas, mas para Farrell
sobra um puxão de orelha por sua caracterização horrenda, ainda que ela ajude a
compor um tipo que deve causar repulsa em quem assiste. Já o trio de heróis (ou
talvez anti-heróis), todos se saem bem, porém, o crédito maior deve ser dado a
Day em seu primeiro papel de protagonista no cinema. Ele faz o tipo bocó da
trupe e tem as piadas mais divertidas, muitas aproveitando o perfil “viajado”
do personagem. Até Foxx que não aparece muito tem seu momento de brilhar com uma
piada acerca do motivo que o levou à prisão (ah se no Brasil a polícia fosse
tão eficiente assim). A cena é rápida mais crucial para compreendermos o que
leva o trio de vingadores sem experiência à luta. Entre piadas criativas,
outras previsíveis, muitas que se apoiam nos recursos visuais e outras tantas
de teor escatológico ou apelativo, obviamente ninguém pode esperar um filme
revolucionário. A história trata de alinhavar direitinho as peripécias dos
protagonistas contando com uma edição ágil e sem encher linguiça. Praticamente
do início ao fim é possível dar boas risadas.
O roteiro é assinado pelos estreantes no cinema
John Francis Daley, Jonathan M. Goldstein e Michael Markowitz, todos oriundos
de seriados de TV, e provavelmente eles devem ter se inspirado em fatos de suas
próprias vidas para criar esta produção escapista que não tem pretensões de
fazer críticas audaciosas quanto às relações e ambientes de trabalho, embora
não seja difícil que muitos expectadores reconheçam seu cotidiano na tela,
sejam eles empregados ou patrões. O filme já começa bem com uma introdução que,
apesar de rápida, apresenta claramente qual o conflito de cada um dos
personagens e já começa a disparar piadas, o que ajuda o espectador a entrar no
clima anárquico do enredo. Apesar do ar escrachado, boa parte do humor adotado
aqui é coisa rara ultimamente, ainda que algumas tiradas já sejam manjadas. Por
exemplo, quantas vezes o cinema já não adotou a tática da vítima estar na
frente do seu possível assassino e este se embananar e deixar a chance passar?
Provavelmente você já deverá ter esquecido a última vez que gargalhou com tanta
vontade quando ver Harbus apunhalando repetidas vezes o chefe de um dos amigos
com uma injeção de insulina sem saber que ele era um dos alvos a serem eliminados.
Salvar essa vida é só uma das várias bolas fora do personagem. Ao longo de toda
duração de Quero Matar Meu Chefe o espectador é convidado a
participar de um turbilhão de sequências excêntricas, exageradas e frustradas
que parece não ter fim. Uma das grandes proezas desta comédia é fazer
pegadinhas. Quando achamos que as coisas estão para ser resolvidas, um fato
novo embola tudo outra vez. Pelo menos, a história consegue prender atenção e
não é desonesta. Anos atrás tivemos um sucesso cult chamado Como Enlouquecer
Seu Chefe e seria fácil algum marqueteiro sugerir a ligação entre os dois
filmes para atrair a atenção. Gordon já deixa avisado desde a premissa que seu
objetivo é fazer humor puro, sem se preocupar com grupos que podem apontar sua
obra como ofensiva ou desagradar quem busca uma comédia do tipo cabeça. Ainda
que no conjunto a imagem de humor convencional prevaleça, esta produção guarda
boas surpresas que merecem serem descobertas. Deixe o espírito extremamente
crítico de lado e relaxe, afinal nas férias nada melhor que sonhar com a
possibilidade de seu chefe não existir. Quem nunca viveu um momento como o dos
protagonistas reclamando em uma mesa de bar após um dia duro de trabalho que
atire a primeira pedra.
Comédia - 100 min - 2011
Comédia - 100 min - 2011
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