segunda-feira, 24 de janeiro de 2022

LOUCAS POR AMOR, VICIADAS EM DINHEIRO


Nota 6 Explorando o filão de golpistas por acaso, comédia é previsível e com atuações histriônicas


Filmes sobre roubos e golpes a bancos e a milionários podem ser praticamente considerados subgêneros de ação, suspense e até de comédias. É bem grande a lista de títulos que investem em tais temas, desde aquelas protagonizadas por atores novatos ou fracassados até produções milionárias com elenco de peso. As mulheres também têm vez nesse filão, mas geralmente repetem os papeis. Elas podem ser gostosonas que seduzem bobões bem de vida ou mal amadas cheias de grana que se apaixonam pelo primeiro vigarista que lhe dê um mínimo de atenção. As fórmulas já foram requentadas a perder de vista, sendo que hoje dificilmente um trabalho do tipo surpreende sendo resumido a um passatempo indolor. Vendo por esse lado, o do puro entretenimento, Loucas Por Amor, Viciadas em Dinheiro tem seu valor. Bridget Cardigan (Diane Keaton), uma dona de casa de classe média, é surpreendida com a notícia de que pode perder sua casa e seu confortável estilo de vida quando seu marido Don (Ted Danson) é rebaixado de posto no trabalho. Tentando evitar que isto aconteça, ela resolve procurar um emprego, mas o problema é que ela sempre viveu como uma dondoca. Com sorte, ela acaba conseguindo um trabalho como zeladora no Federal Reserve Bank, o Banco Central americano, um local onde o que não falta é dinheiro, incluindo cédulas que vão parar no lixo pelo simples fato de estarem desgastadas. 

Após fazer amizade com Nina Brewster (Queen Latifah), uma mãe solteira, e Jackie Truman (Katie Holmes), uma jovem avoada que nada tem a perder ou a quem dar satisfações, Bridget coloca em prática um engenhoso plano para conseguir por as mãos no dinheiro inutilizado. Como é responsável pela limpeza, a novata tem acesso a praticamente todos os departamentos do banco, enquanto a tardefa de Jackie é levar os carrinhos com o dinheiro coletado até Nina, que por sua vez, tem a missão de acionar a máquina que tritura as cédulas. Cansadas de serem sempre subestimadas, cada uma tem agora a chance de se sentir importante em algo e ainda lucrar com isso, mas a rápida mudança de vida do trio e seus excessos de compras chamam a atenção dos agentes fiscais que passam a investigá-las. O que era para ser um único roubo acabou se transformando em um vício. Contradizendo o ditado que diz que dinheiro não traz felicidade, o filme assinado por Callie Khouri mostra que dinheiro compra sim alegrias, mas também acarreta uma série de problemas quando usado de maneira incorreta, ainda mais quando é adquirido de forma ilegal. A ideia de enriquecer rapidamente fascina milhares de pessoas, mas é sempre bom lembrar que da mesma maneira que lucros vêm facilmente com rapidez igual ou maior ainda pode se perder tudo. 


Quando as damas do crime são descobertas, o enredo perde consideravelmente sua veia cômica. A trama torna-se rocambolesca e algumas situações destoam no conjunto, mas ainda bem que a parte criminal não é demorada, até porque ela é razoavelmente disseminada durante todo o longa através de interrogatórios. Todavia, o problema mais apontado deste trabalho, fora sua previsibilidade, é o fato da história simplória não ser ao menos reforçada por personagens interessantes. Keaton repete seu velho papel de mãe de família com um quê de tresloucada abusando de tiques, caretas e chiliques para se safar de problemas e divertir o público. Já Latifah aqui aparece mais comedida. Muitos não gostam de sua interpretação, mas é bom lembrar que desde o início do filme ela mostra que sua personagem preza sua honra e quer ser um modelo à sua família já que não tem um marido a quem seus filhos possam ter como exemplo. Se ela entrou de gaiato no mundo do crime o mesmo não se pode dizer da insossa Holmes que também têm seus bons momentos e deixa um pouco para trás a aura de mocinha sem sal que se acostumou a interpretar. No roteiro escrito por Glen Gers as mulheres brilham, mas o elenco masculino é jogado pra escanteio. Danson é ressuscitado, mas não tem mais fôlego para comédias. Adam Rothenberg e Roger Cross fazem pares respectivamente com Holmes e Latifah, mas também vivem personagens bem apagadinhos que só ganham importância quando a falcatrua é descoberta.

Apesar dos primeiros minutos serem dedicados a expor parte do final da trama para então desenrolar as situações que levaram os personagens ao ponto de literalmente torrarem dinheiro ou jogá-lo pela janela, o resto da projeção adota uma estética de telefilme. O próprio projeto foi inspirado em um trabalho da televisão britânica intitulado "Hot Money", mais especificamente pensando no público feminino que comumente acompanha os cônjuges na hora de ver um filme sobre assaltos, mas sempre se sente depreciada por não verem mulheres comuns na tela e sim ninfomaníacas que servem apenas para seduzir vítimas. Por isso a inversão de papeis proposta nesta obra é bem-vinda. Aqui são mulheres simples que passam por dificuldades financeiras e que acabam caindo no mundo do crime por acaso enquanto seus respectivos pares são meros pretextos para uma ou outra rusga ou piada. Embora adote uma estrutura convencional, a narrativa não é das piores. Quem não presta atenção em pequenos detalhes pode se perder na história de como o roubo do dinheiro foi planejado e como o trio de empregadas e seus cúmplices foram pegos. A própria edição pode causar esta confusão, já que os fatos são contados a partir dos relatos de todos os envolvidos no roubo após serem capturados pela polícia, mas são cenas muito curtas e que poderiam ser dispensadas. 


Outra coisa que pode não agradar são as constantes defesas dos personagens sobre os crimes que cometeram. Se o governo vai jogar mesmo o dinheiro, não vai fazer falta, qual o problema dele ser usufruído por quem precisa? Eles batem nessa tecla tentando dar explicações de diversas formas e só faltou dizer que eram os Robin Hoods da era moderna roubando dos ricos para dar aos pobres. Todavia, como já dito, Loucas Por Amor, Viciadas em Dinheiro funciona muito bem como entretenimento rápido e provoca algumas boas gargalhadas sem constranger o público com humor grosseiro ou apelativo. O fato de ter sido lançado no Brasil com um título horroroso e nada chamativo contribuiu para que o longa fosse massacrado pela crítica e até mesmo pelo público, mas, convenhamos, há coisas bem piores para serem achincalhadas. Alguém se lembra em que número está a série American Pie? Sem dúvida um farto material para ser pisoteado e lembrado na hora de avaliarmos produções rotuladas como comédias.

Comédia - 89 min - 2008 

Leia também a crítica de:

Um comentário:

Rafael W. disse...

Particularmente, detestei esse filme.

http://cinelupinha.blogspot.com/