sábado, 9 de julho de 2022

TERROR NO PÂNTANO


Nota 7 Na sua proposta de revival trash, longa oferece carnificina tosca e humor nonsense 

Os primeiros anos do século 21 marcaram o cinema de horror com refilmagens de produções de horror orientais e pela violência explícita de corpos dilacerados em histórias que narram sádicos jogos pela sobrevivência. O subgênero dos slashers tentou sobreviver entre fantasmas de olhos puxados e cabeças explodindo como bombas, mas nenhum vilão mascarado munido de um facão conseguiu se sobressair. Tentando unir a temática sobrenatural ao gore sem pudor, Terror no Pântano também procurou respeitar as convenções do estilo, mas quase morreu na praia, ou melhor, nas escuras águas palco desta carnificina trash. Escrito e dirigido por Adam Grenn, o longa nos apresenta a Ben (Joel David Moore), um jovem que foi convencido por alguns amigos a ir com eles a Nova Orleans para comemorar o Mardi Gras, uma espécie de carnaval,  para assim esquecer uma decepção amorosa. Lá ele resolve fazer um passeio noturno e monitorado por um pântano considerado assombrado, mesmo a contragosto do amigo Marcus (Deon Richmond), e assim conhece a calada e geniosa Marybeth (Tamara Feldman), o casal de animados idosos Shanon (Patrika Darbo) e Jim (Richard Riehle), o canastrão Doug (Joel Murray), que pretendia gravar naquele cenário nada auspicioso um filme adulto com as espevitadas Misty (Mercedes McNab) e Jenna (Joleigh Fioreavantti), e também Shawn (Parry Shen), o fajuto guia da excursão clandestina.

Durante o trajeto de barco em meio a mais completa escuridão, salvo as luzes de parcas lanternas, eles tomam conhecimento da lenda de Victor Crowley, um rapaz deformado que sofria muito preconceito e discriminação. Ele cresceu refugiado dentro de uma cabana à beira do pântano, mas isso não evitou que certa vez alguns jovens cercassem o local para amedrontá-lo com fogos de artifício para forçá-lo a sair para continuarem as chacotas. Acidentalmente a casa acaba incendiada e o pai desesperado tenta entrar quebrando a porta com um machado, mas não imaginava que atrás dela estava seu filho que morreu na hora. Desde então há boatos que seu espírito ronda o pântano para se vingar de qualquer um que se aproxime e é claro que a embarcação dos turistas vai quebrar justamente em local próximo a casa do falecido. O longa não perde tempo desenvolvendo os perfis dos personagens, afinal não passam de estereótipos, figuras comuns neste tipo de produção. Temos o nerd, o metido a engraçadinho, a garota durona, as gostosas acéfalas, um simpático casal de idade, um aproveitador... Pouco importa quem embarca nesse passeio. Ao assumir os riscos de utilizar uma precária embarcação e os serviços de um guia claramente amador, não nos resta mais nada que torcer para que todos sejam trucidados e com requintes de crueldade.

Um mais tapado que o outro, nenhum personagem parece capaz de bolar algum plano para fugirem do pântano e tudo o que fazem acaba os aproximando do assassino que já em sua primeira aparição arranca gargalhadas pela forma abrupta que aborda uma das vítimas. O diretor então se diverte punindo os tipos patéticos das piores e mais criativas maneiras possíveis, com mortes que desafiam as leis da física e inundam a tela de sangue, tudo sem um pingo de realismo e entregue a mais pura chacota. A ideia para o projeto veio da insatisfação de Green, um entusiasta do gênero, justamente com o cenário descrito no início do texto infestado de histórias copiadas de longas orientais e as de carnificina sendo transformadas em super produções levadas a sério demais. Onde estava o humor negro e anárquico que tão bem casava com as fitas de horror dos anos 1980? Assim ele resolveu fazer seu próprio revival dos trash movies inspirando-se numa lenda que ouviu quando criança. Num acampamento, um monitor o alertou para ficar longe de uma certa cabana ou então o Cara de Machado iria pegá-lo, aquelas típicas histórias para colocar limites em crianças arteiras, mas que acabam por aguçar a curiosidade delas. Já apreciador de slasher movies, ele não se acovardou como era esperado e queria saber mais detalhes sobre a aberração, mas como ninguém tinha fundamentos ele próprio inventou a origem para a lenda, assim acalentando por anos o desejo de transformá-la em um filme.

Contribuiu para o projeto o fato de Green ter participado certa vez de uma despedida de solteiro em Nova Orleans e sentindo-se deslocado entre os convidados preferiu deixar a festa e vagar a noite pelas ruas da região. Foi quando decidiu participar de um passeio por um pântano mesmo sabendo que o guia não tinha permissão por conta de não ter renovado o seguro da embarcação. De imediato, o diretor já passou a imaginar que tipos de riscos uma excursão desse tipo poderia oferecer e a ambientação casava muito bem com o conto da carochinha de sua infância. Ele batizou o vilão de Victor Crowley por achar que o nome era sonoro e amedrontador, como Michael Myers ou Freddy Krueger, já imaginando uma longa carreira ao personagem. O ator Kane Hodder, que já foi o Jason Voorhees em quatro capítulos de Sexta-Feira 13, se encarregou de encarnar a criatura, mas também interpreta o pai dela no flashback explicativo da lenda. O assassino foi inspirado na aparência de Joseph 'John' Merrick  e também de Roy L. 'Rocky' Dennis, ambos portadores de doenças deformativas do corpo e cujas histórias de vida foram narradas respectivamente nos filmes O Homem Elefante e Marcas do Destino.

Hodder mesmo quando não estava gravando mantinha-se no personagem e se escondia pelo cenário para gerar um clima de intimidação no restante do elenco. Sua maquiagem artesanal levava cerca de três horas para ficar pronta e os efeitos especiais usados nas cenas de morte dispensaram efeitos digitais, sendo empregadas técnicas utilizando aparelhos antiquados de borracha e espuma para o sangue jorrar à vontade no próprio set de filmagens. Com sua comicidade e exageros explícitos, Terror no Pântano pode ser interpretado tanto como uma paródia ou uma homenagem ao típico slasher oitentista, tudo depende da interpretação do espectador. Inclusive há pequenas participações afetivas nos minutos iniciais de Robert Englund, de A Hora do Pesadelo, e Tony Todd, de O Mistério de Candyman. Produzido motivado mais pelos entusiasmo de Green, o longa nasceu e se desenvolveu sem distribuição concreta, tendo maratonado por diversos festivais independentes ou voltados aos gêneros de horror e fantasia, mesmo com os próprios agentes do diretor relutando a representá-lo não botando muita fé no produto final. De certa forma bem recepcionado pelo público e crítica nessas premieres, o longa foi lançado nos EUA em poucas salas, mas a maioria dos países o recebeu diretamente para consumo doméstico, como ocorreu no Brasil. Mesmo sem se tornar um grande sucesso comercial, a produção deu origem a uma franquia com mais três filmes. Curiosamente, Shen é o único ator que participou de todas as produções assumindo novas identidades e reprisando o papel apenas no último assumindo o papel de protagonista.

Terror - 85 min - 2007

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