sexta-feira, 8 de maio de 2020

O ATAQUE DO DENTE DE SABRE


Nota 1 Com premissa semelhante a sucesso de Steven Spielberg, longa é execrável do início ao fim


Muitos filmes trashs tem em sua essência a vontade de parodiar ou pegar carona em sucessos alheios, mas caracterizam-se por serem trabalhos que muitas vezes se levam a sério demais sem ter condições para tanto. Como exemplo, temos centenas de produções que investem no filão da fera ou monstro criado a partir de experimentos mal sucedidos, mas as pretensões de seus diretores geralmente vão além do permitido (entenda como limitações de orçamento e até mesmo de criatividade). Parece que eles fazem questão de escrever o nome de suas criaturas no mundo do cinema, tal qual King Kong, por exemplo, mas o máximo que conseguem é um lugar de destaque nas listas dos piores filmes. O Ataque do Dente-de-Sabre só não foi amplamente malhado pela crítica e público porque a distribuidora teve o bom senso de lançá-lo diretamente em homevideo e de forma muito discreta, assim só os aficionados pelo estilo tomaram conhecimento de sua vil existência. Boa estratégia, até porque na época do lançamento pagar o módico preço de uma locação por um lixo como esse não causava tanta revolta quanto desembolsar uma boa grana para ver semelhante coisa em tela grande com os custos adicionais (pipoca, estacionamento, uma comprinha no shopping). 

A quem interessar, a trama se passa em uma ilha paradisíaca onde o milionário Niles Green (Nicholas Bell) investiu uma grande fortuna em um parque temático conhecido como Valalola Park, um espaço que, além de propiciar excelentes aposentos para os hóspedes e o contato direto com a natureza, também lhes oferece a chance de verem ao vivo animais exóticos e selvagens bem de perto, inclusive uma espécie que está extinta há milhões de anos: o tigre dente-de-sabre. Ele ganhou vida novamente através de modernas técnicas científicas, porém, a experiência dá errado e os riscos de trazer esse animal para os dias atuais não são bem calculados. Quando alguns incidentes resultam no destravamento dos sistemas de segurança dos portões das jaulas dos animais, o terror toma conta do parque. Apesar de ser avisado por empregados do perigo eminente, Green não quer que nada estrague a recepção para possíveis investidores, estes que não imaginam que podem se tornar vítimas de feras que não atacam necessariamente por fome, mas são motivadas pelo simples instinto de matar.


Os trash movies geralmente eram produzidos já com o intuito de abastecerem as saudosas videolocadoras e tiveram grande importância na manutenção desse tipo de comércio. Hoje eles continuam sendo produzidos agora para abastecer os catálogos de streamings, mas produtores se arriscam gastando tempo e dinheiro (ainda que quantia irrisória) em produtos que inevitavelmente carregam o rótulo de bizarrices. Pura diversão com um quê de masoquismo? Só pode ser essa a explicação para justificar o apreço de um nicho de público que sacia suas vontades perversas e sádicas assistindo humanos bobocas sendo trucidados por criaturas não raramente vexatórias com seus visuais fakes nos quais são gritantes o emprego do que há de mais tosco em termos de efeitos especiais. Muita gritaria, corre-corre e piadinhas infames fora de hora são marcas registradas desse tipo de filme que investe em situações que ultrapassam o limite do bizarro e causam risos involuntários com sequências de mutilações e mortes que reforçam a precariedade de todo o conjunto, da criação do argumento à decupagem final das cenas.

O Ataque do Dente-de-Sabre, o que se esperar de um filme com tal título? George Miller é a mente brilhante por trás deste pastiche. Ele deve ser viciado em Parque dos Dinossauros e acabou fissurado na ideia de realizar um filme do mesmo estilo, mas para fugir de acusações de plágio e com recursos escassos optou por trazer o famoso tigre dente-de-sabre de volta a vida na marra e ingenuamente pensou que ia lucrar com isso. Há muitas referências à famosa produção de Steven Spielberg, desde a ambientação, um parque em que as cercas das jaulas estrategicamente pararam de funcionar quando o local estava recebendo visitantes, até a história da recriação de bichos pré-históricos através de materiais fossilizados, mas não espere o mesmo apuro técnico. O tigre, ou melhor, os tigres, não demoram a mostrar as garras, mas as criaturas digitais não se encaixam bem na maioria das cenas. Mostradas de relance elas até podem enganar, mas para uma participação do tamanho almejado os efeitos especiais parecem mais defeitos propositais. Sim, o longa até merece um pequeno elogio, afinal assumir seu lado trash dá um pouco de dignidade à obra. 


Tal pérola, redigida pelos roteiristas Phil Botana e Tom Woosley, chega ao ápice da precariedade na reta final quando desenhos animados também são inseridos substituindo sequências que seriam difíceis de realizar com a interação dos atores reais com as criaturas digitais. Quanto as interpretações, bem, você já sabe que sentirá vergonha alheia. Péssimos atores, com interpretações robóticas e as frases clichês como de costume, tentam permanecer o maior tempo possível no filme antes que virem almoço dos bichanos. Se a intenção do diretor era fazer um trabalho que mesclasse aventura e terror, não deu certo. Já se a proposta era uma comédia trash, até que o resultado final se encaixa bem na pretensão. De qualquer forma, Spielberg deveria ter processado Miller não só por plágio, mas também uma ação reclamando de danos morais também viria a calhar. 

Terror - 92 min - 2005

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