quinta-feira, 13 de agosto de 2020

DEMÔNIO


Nota 3,0 Previsível, longa não prende atenção com seus personagens que não cativam a audiência


Já se vão algumas décadas desde que O Sexto Sentido foi lançado, mas até hoje ele é considerado por muitos o filme mais apavorante de todos os tempos e marcou definitivamente a carreira de M. Night Shymalan. A prova disso é que ele virou um cineasta de um filme só e seus projetos seguintes foram massacrados por crítica e público. Com tanto bombardeio, Shymalan preferiu se esconder um pouco e passar a produzir ou ceder argumentos para outros cineastas. Sorte dele que dessa forma escapou de mais um massacre por conta de Demônio cuja premissa é das mais simples possíveis: em um dia comum, cinco pessoas que não se conhecem têm suas vidas viradas do avesso ao entrar em um elevador que simplesmente para de funcionar de uma hora para a outra. E o que para muitos já seria motivo de tensão por conta de uma natural fobia piora ainda mais quando estranhos e violentos acontecimentos começam a acontecer dentro daquele cubículo. O que eles não se dão conta é de que o próprio demônio está entre eles. 

O detetive Bowden (Chris Messina) está no mesmo prédio atendendo a um chamado de emergência e ao perceber a movimentação através das câmeras de segurança tenta controlar a situação. O problema é que ninguém consegue abrir o elevador e a única ajuda possível é através do sistema de áudio. Enquanto monitora do local por intermédio de monitores, Bowden e outros funcionários do edifício passam a ver cenas assustadoras, incluindo mortes. O argumento é do próprio Shymalan, mas o roteiro foi escrito por Brian Nelson, de 30 Dias de Noite, que não se esforçou em trazer novidades e não é spoiler dizer que cada indivíduo preso no elevador tem algum podre a esconder e será punido de alguma forma. Contudo, o que atrapalha o filme é a obsessão em plantar dúvidas onde não existem. Desde os primeiros eventos fica claro ao espectador que algo sobrenatural está acontecendo, porém, os policias que observam tudo tentam em vão encontrar conexões que possam levar a um assassino de carne e osso, tudo para encher linguiça numa trama desenvolvida preguiçosamente. Quando sobram poucas pessoas no elevador, a confusão de ideias toma conta, as expectativas caem por água abaixo e um final pouco empolgante já é de se esperar. Faltou lapidar melhor a história, fugir das situações previsíveis ou estapafúrdias e, principalmente, desenvolver melhor os personagens. 


Prender a atenção do espectador com um suspense não é tarefa fácil. Tudo quanto é ideia que se possa imaginar para causar medo já foi usada, desde simples jogos de câmeras, passando por edições cheias de adrenalina e sonorização de arrepiar, até chegar às mutilações explícitas. O uso de um local claustrofóbico também já é um recurso manjado, mas continua causando impacto, ainda mais quando o título da produção é o nome do próprio coisa ruim, uma tática que pode chamar a atenção de boa parte do público, porém, afastar uma outra parcela que não quer nem ouvir falar no assunto por medo de atrair vibrações negativas. De qualquer forma, o argumento em si é bem interessante, mas sua realização não. Aqui o negócio é causar sustos e intrigas e isso o filme consegue fazer razoavelmente bem usando situações veladas que mexem com o psicológico dos personagens e de quem assiste também. A produção até possui algumas semelhanças, guardadas as devidas proporções, com o reverenciado terror espanhol Rec justamente por preferir sugestionar ao invés de escancarar as situações de terror. Não a toa a direção ficou a cargo de John Erick Dowdle, de Quarentena, o remake americano da citada produção castelhana. 

Para que uma produção de suspense ou terror funcione adequadamente é preciso que o público se envolva com o fato que ameaça os personagens e se sinta dentro do cenário de horror proposto, mas neste caso o diretor não conseguiu nem uma coisa e nem outra. Alternando seu foco entre o grupo de pessoas presas no elevador e as demais ocorrências externas, Dowdle não mantém o clima de tensão de forma cadenciosa, ainda que curiosamente assuste com alguns dos subterfúgios mais insossos do gênero, como rompantes de sons estridentes e efeitos de luz. Aliás, a iluminação aqui é de suma importância. Com o elevador constantemente tendo quedas de energia, fica sempre a certeza de que quando as luzes se apagam algo de ruim está para acontecer. Ainda assim, são poucos os momentos de genuína tensão e para quem curte sanguinolência o filme deve decepcionar com sua economia de violência gráfica. No início a atmosfera de suspense permanece porque esperamos que aquelas cinco pessoas desconhecidas irão revelar segredos e personalidades interessantes, mas não demora muito e chegamos a conclusão de que só nos resta esperar ver quem é a próxima vítima, se todos perderão a vida, quem sabe o detetive paradão irá se revelar um herói ou se o capeta irá triunfar. 


Uma história só funciona quando o espectador se sente envolvido com quem está em cena, podendo optar por torcer, odiar, sofrer ou suspeitar de cada um dos personagens. Infelizmente aqui não temos subsídios para cultivar tais sentimentos. Assim, fica claro que Dowdle não fez o dever de casa revendo os trabalhos do produtor de sua obra. Ele simplesmente descartou a essência das histórias de Shymalan. O desenvolvimento das personalidades em sobreposição as situações de suspense foi trocado por uma sequência de sustos previsíveis que mais fazem bocejar que causar arrepios. O que se salva no final das contas é o ritmo ágil da narrativa graças a curta duração da obra. Mais alguns minutos e seria impossível tolerar um filme que tem basicamente dois cenários e atores tão inexpressivos quanto suas personagens, se é que podemos nos referir a interpretação deles dessa forma sem ofender aqueles que levam a profissão a sério. Enfim, Demônio até vale uma espiada se não tiver algo melhor para assistir. Não se preocupe se você é do tipo que se impressiona facilmente. Algumas horas depois ou até imediatamente após o término do filme você já o terá esquecido.

Terror - 80 min - 2010

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4 comentários:

renatocinema disse...

Vi semana passada, e achei razoável. Somente para quem realmente não tem outras boas opções.

Jean disse...

demônio poderia ser tudo, mas decepciona demais, roteiro confuso, sem algo que prenda realmente o espectador, apenas no desfecho que sabemos o porque o tal demonio escolhera aquelas pessoas, se for assistir, recomendo que veja outros similares e melhores...

Rafael W. disse...

Realmente, é bem confuso, as reviravoltas e as subtramas são bem ilógicas. Mas tem um bom clima de tensão, vale a conferida.

http://cinelupinha.blogspot.com/

Foose disse...

Está longe dos classicos de M. Night, mas também está longe de ser a bomba da carreira. Muitos criticos massacraram o filme e eu realmente não achei tão ruim assim! O mistério e a tensão são bem conduzidos durante o filme, mas como você mesmo disse, com certeza não daria para assistir por mais tempo. Deixou muitos e graves furos, mas não deixa de ser um tanto surpreendente e de dar um pouco de credibilidade a M. Night. E como "Demônio" é a primeira parte de uma trilogia nomeada: "The Night Chronicles", o jeito é esperar pelo que vem por aí!

Mais uma bela crítica! Um grande abraço...