sábado, 9 de outubro de 2021

TREM FANTASMA


Nota 1 Basta um maníaco perseguindo jovens incautos e você já sabe o final da viagem deste trem


Apesar do título, o longa de horror Trem Fantasma não tem como cenário uma locomotiva assombrada por almas penadas. Muito melhor que isso. Explorando a propícia ambientação da atração homônima ao filme, uma das mais populares dos parques de diversões, o diretor Craig Singer deita e rola com as possibilidades oferecidas pelo brinquedo. Só que não! Ainda que dispense o caminho manjado de espectros tocando o terror (argumento que também faria jus ao título), o roteiro do próprio cineasta em parceria com Robert Dean Klein aposta em um argumento nada original, algo desavergonhadamente copiado do clássico oitentista Pague Para Entrar, Reze Para Sair. As duas produções têm em comum inclusive o fato de terem um desenvolvimento lento na primeira parte baseado em diálogos para aproximar o espectador do universo dos personagens. A diferença é que Craig oferece conversas tão interessantes que anulam qualquer possibilidade de construção de um clima adequado para a proposta do longa. 

O prólogo se passa em 1989 num parque de diversões em New Jersey quando duas adolescentes gêmeas estão fazendo um passeio pelo tal trem fantasma, uma entusiasmadíssima enquanto a outra não esconde seu temor como se soubesse que algo de ruim estava para acontecer. Ambas são vítimas dentro do próprio brinquedo de um maníaco que as esquarteja. O assassino é capturado pela polícia que encontra no local outros tantos corpos violentados. Ele é condenado a cumprir pena em uma prisão psiquiátrica e o parque é interditado, sendo reaberto ao público mais de quinze anos após o incidente. É nesse ponto que conhecemos uma turma de jovens que estão prestes a pôr o pé na estrada com destino à New Orleans para curtir um feriado, mas é claro que ao saberem sobre a reinauguração do brinquedo não vão resistir e decidem fazer um pequeno desvio na viagem e conferirem a atração antes do público. E tudo para economizarem uma noite de hotel! Já diz o ditado, o barato sai caro.


A turma de incautos só poderia ser uma reunião de clichês. O motorista Jim (Alex Solowitz) é um porra-louca viciado e promíscuo; Steve (David Rogers) faz o tipo amigável e que está sempre de bom humor; Bill (Patrick Renna) seria o nerd da turma cuja cultura se resume a cinema; e, por fim, Cathy (Jamie-Lynn DiScala) e Liz (Jennifer Tisdale) disputam palmo a palmo os troféus de chatas e insossas do grupo, além de se juntar a eles a maluquinha e tarada Jen (Andrea Bogart), uma caroneira. Em certos momentos ficamos na dúvida se a intenção era parodiar o gênero terror cruzando-o com o estilo American Pie e derivados, já que drogas e sexo dominam o papo dos adolescentes protagonistas desta abobrinha, um elenco um tanto canastrão para combinar com uma produção que tenta tirar leite de pedra das batidas histórias de seriais killers. Por cerca de uma hora o espectador é torturado com situações e diálogos enfadonhos, não raramente apresentados no breu total para aumentar o tédio. 

Até chegar ao que interessa de fato, a única cena que se salva (e sendo muito benevolente nesta avaliação) é a que mostra o tal maníaco fugindo do manicômio duas semanas antes da viagem dos estudantes. Obviamente, o criminoso vai buscar refúgio no lúgubre brinquedo onde mascarado pode facilmente se esconder entre as dezenas de estranhos adereços que deveriam assustar os visitantes, mas não raramente causam risos involuntários de tão bizarros que são. Ainda assim, lembrando bonecos de ventriloquismo, os detalhes da direção de arte ajudam a criar um clima de que a qualquer momento algo impactante pode acontecer, pena que Singer não saiba tirar proveito disso apostando no feijão-com-arroz de sempre. Como manda a cartilha dos slashers movies, os jovens bobocas começam a se espalhar pelo trem-fantasma e um a um passam a ser perseguidos, sendo que os depravados morrem primeiro como sempre. 


Além da previsibilidade dos sustos, o ritmo lento e o modo esquemático como é explicado o real motivo destes visitantes enxeridos curtirem uma pré-estreia não oficial do tal brinquedo comprometem totalmente o envolvimento do espectador, até dos mais fanáticos pelo subgênero. Com uns dois ou três momentos mais inspirados, como algumas mortes envolvendo cabeças decepadas, sequências realizadas com trucagens à moda antiga, Trem Fantasma certamente faria sucesso na década de 1980, época em que fitas do tipo surgiam em pencas e até as mais obscuras faziam sucesso. Já lançado tardiamente e durante uma nova crise dos slashers movies, ficou como apenas mais um filmeco de terror que você assiste como desculpa para reunir os amigos e se empanturrar de pipoca e refrigerante, mas o esquece em questão de minutos.

Terror - 94 min - 2006

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