domingo, 1 de agosto de 2021

O REI LEÃO (1994)


Nota 10 Animação primorosa e trama emotiva fazem desta obra um filme único e atemporal


A Disney já viveu ao longo de sua trajetória momentos de altos e baixos, mas ainda assim continua sendo sinônimo quando o assunto é animação, porém, nos últimos anos a sua imagem caminhou atrelada a sombra da Pixar, empresa especializada em desenhos com tecnologia de ponta. Apesar de títulos como Hércules e Mulan terem sua turminha de fãs, o final da década de 1990 não foi muito feliz para a empresa que já sofria o efeito das ações de concorrentes e do poder de sedução das animações computadorizadas que não chamam a atenção apenas das crianças, mas também dos adultos, a audiência extra que não raramente é bem superior a plateia dos pequenos. Contudo, muito antes dessa revolução no mundo animado, o estúdio conseguiu estrondoso sucesso com O Rei Leão que representa até hoje o um momento glorioso para a companhia e até mesmo na História da sétima arte. A obra ainda ocupa posições confortáveis na lista das maiores bilheterias de todos os tempos e também no ranking de seu gênero, isso descartando os valores obtidos com o consumo doméstico (a fita VHS, por exemplo, atingiu números arrebatadores de venda) e o relançamento nos cinemas em 2011 aproveitando a febre da tecnologia 3D. 

Dar destaque aos animais em seus projetos sempre foi a especialidade da Disney, mesmo quando eles não falavam uma única palavra. Já tivemos em cena elefantes, ratinhos, gatos, cachorros, ursos, aves entre tantas outras espécies vivendo aventuras, divertindo e emocionando o público, sendo protagonistas ou não. No caso da história de um leãozinho enfrentando inúmeras dificuldades para viver longe de casa e da família, protagonista e personagens secundários conseguiram mexer com as emoções de milhões de pessoas no mundo todo. É fácil identificar o porquê de o desenho ter caído no gosto popular rapidamente e entre as mais variadas idades. A trama roteirizada por Irene Mecchi, Jonathan Roberts e Linda Woolverton é muito bem conduzida e carrega a essência e a ingenuidade das obras que fizeram a fama do estúdio, mas também reserva espaço para temas mais difíceis e pertinentes a discussão entre pais e filhos como inveja, ganância, perversidade e até mesmo morte. A Disney então encarava com dignidade o amadurecimento cada vez mais precoce das crianças que na época já demonstrava sinais. Todavia, a mensagem positiva que o caminho do bem é sempre a melhor opção se faz presente e somos agraciados com um final encorajador. 


O prólogo acompanha os primeiros minutos de vida de Simba, um filhote de leão que já nasce dotado de uma grande responsabilidade: suceder seu pai Mufasa no comando da savana africana. A sequência que mostra o recém-nascido recebendo a bênção do sábio babuíno Rafiki é de fazer qualquer um se arrepiar de emoção e é sem dúvida uma das mais belas e marcantes introduções de todos os tempos. O cenário imperial é sugerido por uma imensa pedra como se fosse o trono do rei e ao seu redor estão espalhados por todos os lados os diversos representantes da fauna local reverenciando a chegada do futuro monarca. Alguns anos se passam e Simba, agora um filhote arteiro e curioso, faz amizade com Nala, uma pequena leoa que se torna a sua grande companheira de aventuras, porém, também conhece a perversidade através de seu cruel tio Scar que deseja assumir o reino. Malicioso e intrigueiro, ele é o responsável pela morte de Mufasa, mas consegue fazer com que o sobrinho se sinta o culpado pela tragédia e o convence a fugir para um lugar afastado. A segunda metade da narrativa se passa em uma área de vegetação mais abundante onde Simba conhece outro universo e faz novas amizades, como Timão e Pumba, respectivamente um suricata e um javali que o ensina a viver no estilo Hakuna Matata cujo lema é simplesmente aproveitar ao máximo cada momento da vida. E dessa forma mais livre e divertida Simba aproveita sua juventude, mas quando adulto precisa decidir se continua afastado ou retorna para seu local de origem para fazer justiça e assumir seu lugar de direito na sociedade dos animais. 

Do início ao fim, são diversas as cenas que tocam fundo o espectador, mesmo que sejam por pequenos detalhes, tudo graças a percepção técnica e emocional dos diretores Rob Minkoff e Roger Allers que durante anos acompanharam em habitat natural todos os bichos que retratam a fim de conseguirem o máximo de perfeição em movimentos, cores e detalhes de seus corpos, mas adicionando personalidade praticamente humana a todos eles. Dessa forma é possível, por exemplo, sentir o medo e a adrenalina junto com Simba e Nala quando eles encontram o cemitério de animais, local habitado por malvadas hienas que os atacam a mando de Scar. Também podemos compartilhar a dor de Mufasa quando seu próprio irmão crava as garras em suas patas segundos antes de uma terrível tragédia, viver a emoção do protagonista ao conseguir se comunicar espiritualmente com o pai anos após sua morte e se arrepiar com a sequência final que repete a inicial provando que o ciclo da vida é sem fim assim como entoado na famosa música-tema. Chama a atenção que a ideia do projeto não surgiu de nenhuma obra literária, algo até então corriqueiro para o estúdio. Considerado um roteiro original, na época do lançamento houve certa polêmica envolvendo suspeitas de que seria um plágio de um desenho japonês da década de 1960 de Osamu Tezuka, mas a própria viúva do desenhista declarou se sentir lisonjeada por um estúdio tão grandioso ter se baseado na obra de seu finado marido, assim como ele também se inspirava nas produções Disney para seus trabalhos, afinal tudo que é bom merece ser perpetuado e apresentado a novas gerações. 


O passar dos anos não consegue interferir na qualidade ou na atemporalidade dessa obra, esbanjando até hoje o colorido da animação ainda produzida de forma tradicional e com uso de computadores apenas em algumas sequências isoladas, como no impressionante estouro da manada de gnus em um momento crucial da história. Para se ter uma ideia da grandiosidade e do capricho da produção, esta cena dura cerca de três minutos, mas demorou dois anos para ser concluída. Com tantos predicados, O Rei Leão sem dúvida merece destaque no portfolio Disney, uma obra que encanta as crianças e para o público adulto traz um gostinho especial de nostalgia. Quem viveu o frisson dos tempos do lançamento ao rever este clássico tem a oportunidade de recordar momentos felizes da infância, talvez a primeira ida ao cinema, a reunião familiar para curtir o tão aguardado VHS ou lembrar daqueles que dividiram a experiência de assistir a este espetáculo cinematográfico e que hoje não estão mais entre nós. Em tempo: mais de duas décadas depois, a Disney incluiu a obra em seu projeto de releituras em formato live action, mas mesmo lançando mão efeitos especiais de ponta para colocar em cena animais com o máximo de realismo, o longa não foi o sucesso esperado e, felizmente, preservou no imaginário popular a história de Simba em cores vivas, traços simples e uma narrativa profunda e tocante que não depende de firulas tecnológicas para envolver o espectador.

Vencedor do Oscar de canção e trilha sonora

Animação - 89 min - 1994 
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Um comentário:

GustavoPeres99 disse...

O Rei Leão, é perfeito todos os 3 longas, animação mais perfeita não vai existir