sexta-feira, 13 de agosto de 2021

A REDE SOCIAL


Nota 9 Abordando disputa por direitos autorais, longa discute comportamento, moral e interesses


A tecnologia invadiu o cotidiano das pessoas de uma maneira irreversível, ainda mais com a pandemia do coronavirus que ditou novos rumos para nosso dia-a-dia. Trabalhar, estudar, fazer compras, realizar pagamentos e até consultas médicas sem sair de casa. Tudo é possível com os avanços tecnológicos. E se a busca por um relacionamento amoroso sério ou casual ou até mesmo uma simples amizade por meio de redes sociais parecia ultrapassado, aprendemos novamente a conhecer e a estreitar laços com pessoas até mesmo do outro lado do mundo. O Facebook é uma das ferramentas mais utilizadas seja para informar, entreter, promover amizades ou divulgar trabalhos, mas também é a razão da discórdia que sustenta o filme A Rede Social, produção super badalada e vencedora de diversos prêmios. O enredo começa a ser desenvolvido no ano de 2003 quando o jovem Mark Zuckerberg (Jesse Eisenberg), um gênio da programação de computadores, após sofrer uma decepção amorosa resolve criar um site para avaliação das garotas de sua universidade. Seja para descobrir o que os outros rapazes achavam da jovem que o dispensou ou até mesmo para encontrar um novo amor, o fato é que sua ideia tornou-se um sucesso imediato e chamou a atenção de outras pessoas para investir no projeto, como de seu amigo Eduardo Saverin (Andrew Garfield), brasileiro estudante na mesma instituição.

O site extrapolou os limites da universidade e se tornou uma opção que caiu no gosto popular por todos os cantos do mundo, mas acabou se revelando um excelente investimento apenas para o seu principal entusiasta. Aos poucos Zuckerberg conseguiu passar a perna em cada um de seus companheiros nessa empreitada, impulsionado pelos conselhos do arrogante Sean Parker (Justin Timberlake), também criador de sites que viu no rapaz uma figura facilmente manipulável. O caso foi parar na justiça e o jovem empresário, milionário antes de mesmo de chegar à casa dos 30 anos, colecionou um grande número de inimigos e continuou na solidão que sempre o perseguira. Contraditoriamente, através de sua criação ele conseguiu fazer com que milhares de pessoas no mundo todo fizessem amizades. Felizmente, o longa usa a disputa pelos direitos autorais do Facebook apenas para alinhavar conflitos e prefere discutir o comportamento dos seus criadores. O perfil dos personagens coadjuvantes vai sendo delineado de acordo com o desenvolvimento da história do protagonista que divide opiniões. É difícil ficar do lado de um indivíduo que se mostra mau caráter do início ao fim. Zuckerberg é um nerd amargurado e isolado, mas ao mesmo tempo muito altivo e ganancioso que deseja ser popular e traça estratégias para tanto, porém, passa a cometer erros gravíssimos quanto a ética e a boa conduta. 


Para incrementar seu projeto de rede social, Zuckerberg rouba sem nenhum remorso ideias e o dinheiro dos amigos que fez por puro interesse, como os gêmeos Cameron e Tyler Winklevoss (Armie Hammer) pertencentes a uma classe mais privilegiada e que sempre tiveram tudo que desejavam. Quando seu sonho está consolidado,  trata de dispensar seus colaboradores um por um sem piedade e tampouco pensar nas consequências, afinal já estava dominado pelo poder do dinheiro que compra tudo. Será mesmo? O jovem milionário não passa de um pobre coitado que por trás de toda sua pose de soberania é uma pessoa sozinha louca para que alguém lhe estenda a mão e o leve para dentro da sociedade bacana que sempre desejou. O personagem de Timberlake entra na história como o diabinho que ajuda a fazer a cabeça de seu pupilo para se livrar dos sócios e também para levá-lo a seu mundo ideal, onde o espírito interesseiro dita as regras. Curiosamente, o diretor David Fincher, declaradamente mais adepto a trabalhar com histórias cujos personagens principais são do sexo masculino, terminou a década de 1990 com uma obra polêmica que muitos consideram como um epílogo daquele período. Se Clube da Luta representou isso no passado, a história verídica a respeito de um quiproquó entre estudantes veio para ocupar a mesma vaga só que na década seguinte. Há quem diga que ela define a geração da década de 2000/2010, para alguns de forma positiva e para outros negativamente. 

Até o conceito de quem é nerd o filme redefine. Outrora considerados os bobões das escolas, os alvos perfeitos para chacotas, hoje eles fazem parte de um seleto grupo. Rotulados como bem sucedidos, com raras exceções, eles deixaram para trás a imagem de pessoas chatas que só pensavam em leituras, música e filmes para intelectuais e adotaram posturas descoladas, sendo profundos conhecedores dos universos dos videogames e tecnologia. Com posições profissionais ou familiares confortáveis que garantem acesso a certos luxos, os nerds atuais chamam atenção e conseguem fazer amizades mais facilmente, mas se não fosse os benefícios que suas companhias agregam será que realmente eles possuiriam amizades verdadeiras? Zuckerberg até poderia ter amigos de verdade que confiaram nele quando resolveram se unir ao projeto de implantação do Facebook, mas foi ele mesmo quem se revelou falso e interesseiro e se deixou tomar pelo poder de sua criação. É preciso observar que todos os desafetos que o rapaz fez em um curto espaço de tempo possuíam características e personalidades bem diferentes das suas, como se ele necessitasse estar perto delas para se sentir completo. Todavia, não soube aproveitar a oportunidade para agregar o que havia de melhor em seus companheiros e tampouco desenvolver suas próprias qualidades. Entrou em um time pensando apenas em seu próprio proveito e traçou estratégias para chegar a seus objetivos de maneira rápida e sem envolvimentos afetivos. 


A equipe de edição foi esperta ao trabalhar com dois tempos narrativos em paralelo, alternando flashbacks do processo de criação do site a outros do momento de reivindicação da propriedade do mesmo em caráter jurídico, assim é possível ver o jogo de manipulação que foi usado pelo protagonista e suas formas de se esquivar das acusações. O desfecho do imbróglio foi amplamente divulgado pela mídia internacional, mas no Brasil o assunto ganhou certa relevância devido a participação de um brasileiro na concepção do projeto que, assim como outros, entrou em um acordo financeiro e sumiu do mapa. O filme poderia ser revoltante, até porque no final das contas o vilão da história, digamos assim, se dá bem, mas o roteiro de Aaron Sorkin e Ben Mezrich não se deixa contaminar pelo mau caráter de seu protagonista e deixa explícito que fama e dinheiro não compraram sua felicidade. Existe também uma discussão sobre questões éticas envolvendo o compartilhamento de filmes e músicas, por exemplo, mas o tema não é aprofundado e talvez até seja obsoleto anos depois do lançamento de A Rede Social, obra que indiscutivelmente serve como retrato de um período e de sua sociedade, além de despertar o espectador para a reflexão sobre o futuro das relações humanas, comportamento, tecnologia e muitos outros temas relevantes. Uma pena que nem todo mundo enxergue estes conceitos e prefira apenas exaltar que, quaisquer que sejam os meios, é graças a perspicácia de Zuckerberg que hoje usufruímos dos benefícios Facebook. 

Vencedor do Oscar de roteiro adaptado, trilha sonora e edição

Drama - 121 min - 2010 

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5 comentários:

renatocinema disse...

Gostei do filme. Mas, questionei muito em manter minha página no facebook.kkkk.

marcosp disse...

Rede Social num primeiro instante é filme cansativo, irritante e da um desprazer de ver uma pessoa tão rasa de humanidade. O roteiro é brilhante contando a estória em tres perspectivas distintas e muito ligeira, se vc possui dificuldade de acompanhar as legendas como acontece nos filmes italianos terá que re- assistir se assim conseguir, no final de tanto "aborrecimentos" você vai acabar gostando do filme e sentindo dó do "pobre rico"

Rafael W. disse...

Não chega a ser uma obra-prima, mas sem dúvida, define uma geração.

http://cinelupinha.blogspot.com/

Anônimo disse...

Quero assistir. Primeiro, pq foi amplamente divulgado; segundo, pq gosto de navegar na net; e terceiro, pq tenho uma pág no facebook! rsrs
Bjs ;)

Caio Coletti disse...

Eu acho que é um grande filme, talvez o melhor dessa nossa década que acaba de começar, até agora. Fincher faz um trabalho sutil e brilhante na direção e, contido como está, Jesse Einsenberg constrói um personagem que, por mais que tenha seus desvios de conduta (e, como você apontos, são muitos!), ainda é um ser humano de verdade. Quem somos nós, sempre tão divididos entre a ética e os nossos objetivos, para julgá-lo, uma vez que a própria lei não o fez?

Enfim, de uma forma ou de outra, o prêmio de Melhor Roteiro Adaptado foi mais que merecido! Aaron Sorkin tirou do filme sobre a criação de uma rede social um conto interessante sobre o isolamento humano.

Abraços! ;D