NOTA 1,5 Tentando fazer humor em cima dos filmes de roubo a banco, comédia é sem graça e não não envolve o espectador |
Filmes cujo tema principal são golpes e assaltos já
tiveram seu auge, mas aos poucos a repetição de clichês cansou o espectador e
este subgênero que mescla ação e suspense passou a ser visto com ressalvas. Onze
Homens e Um Segredo deu um gás a esse tipo de produção injetando uma
generosa dose de humor e reunindo um time de peso. Assim uma nova leva de
filmes protagonizados por quadrilhas de assaltantes passou a invadir cinemas e
locadoras, a maioria trazendo um tom de ironia implícito. Fazer uma comédia
legítima já é um tanto difícil, imagine então extrair risos de uma situação que
teoricamente era para deixar qualquer um com os nervos a flor da pele ou ao
menos sob o efeito delirante das descargas de adrenalina. Bem, Assalto em
Dose Dupla é um híbrido de ação, policial e comédia e realmente faz
rir. Sim, provavelmente o espectador irá rir de si mesmo por estar perdendo
tempo com algo tão descartável e por vezes excessivamente ignorante. Todavia, a
premissa não é das piores. Por uma infeliz coincidência duas gangues de
criminosos, uma composta por profissionais e outra formada por amadores, têm a
ideia de assaltar um mesmo banco e na mesma hora. Para não perderem a viagem,
os bandos decidem se unir para realizarem o assalto, mas tudo sai do controle,
principalmente quando os próprios criminosos começam a se equivocar para
cumprirem suas metas e os reféns tentam descobrir o que há por trás destes
misteriosos e pontuais ataques. Tripp (Patrick Dempsey), cliente do banco,
tenta proteger a todo custo Kaitlin (Ashley Judd), uma das caixas do local, por
quem ele parece ter uma quedinha, porém, ele se mostra muito astuto do que o
esperado para lidar com uma situação do tipo, o que tira um pouco do brilho do
único motivo capaz de fazer o público se envolver com este longa. Sim, fora
esse fiapo de história que une estes dois personagens, há pouca coisa para se
entreter com esta trama desenvolvida em um ambiente de certa forma
claustrofóbico, afinal toda a ação se passa dentro uma instituição financeira
cuja noção completa de espaço jamais é passada com eficiência, parecendo que os
personagens transitam sem rumo por ambientes aleatórios até que a polícia
chegasse, diga-se de passagem, uma espera que parece uma eternidade devido a
arrastada narrativa que tem poucos momentos divertidos ou de tensão.
Apesar da direção frouxa e do roteiro enfadonho, é
curioso que por trás desta produção existem nomes que merecem respeito, mas que
parecem não ter muita intimidade com a temática em questão. O diretor é Rob
Minkoff, codiretor de O Rei Leão e quem assina O Pequeno Stuart
Little e sua continuação, ou seja, o universo infantil e fantasioso é a sua
praia. Já os roteiristas Jon Lucas e Scott Moore, responsáveis pelos textos de Eu
Queria Ter a Sua Vida e Se Beber Não Case (não incluindo a sua
primeira continuação como erroneamente é divulgado até na própria capa do DVD),
flertam mais com o humor besteirol, não demonstrando terem inteligência o
suficiente para fazerem um humor inteligente e crítico satirizando um subgênero
clássico. Deveriam ter visto com atenção e repetidas vezes Queime Depois de
Ler dos irmãos Ethan e Joel Coen, por exemplo, que consegue a proeza de
alfinetar os principais clichês dos filmes de espionagem, a começar pela
inversão de papéis onde os bonitões são apresentados como verdadeiros patetas e
as mulheres “ajeitadinhas” se acham o máximo. Para provar que desde as suas
raízes o projeto já apontava que não sairia do convencionalismo basta fazer uma
rápida análise do personagem Tripp que desde que entra em cena o enxergamos
como o herói da história (será mesmo?), embora ele surja dotado de
características peculiares que seriam um prato cheio a serem exploradas pelo
roteiro. Dempsey vive um usuário de calmantes e antidepressivos, mas sem os
tais medicamentos a mão em um momento caótico sua dependência vira o
combustível para que o sujeito passe a se comportar de maneira estranha e
frenética, praticamente não conseguindo ficar parado em algum lugar ou sem
falar uma palavra sequer. O ator sem dúvida é o chamariz do filme, mas
infelizmente decepciona. Pode ser preconceito já que ele não parece ficar muito
a vontade nem mesmo em comédias românticas, preferindo fazer a pose do homem
sério e de classe sem entrar realmente no espírito dessas produções, mas o fato
é que sua atuação é um tanto histriônica em muitos momentos, sendo o mais
embaraçoso quando Tripp parece ter um surto de loucura após um beijinho sem
graça em Kaitlin. Aliás, Judd tem uma interpretação tão esquisita quanto a do
parceiro, mas pelo menos os minutos finais compensa, na medida do possível,
para ambos. Se cortassem a maior parte das cenas desnecessárias, tipo de uma
hora para dez ou quinze minutos, e mantivessem o fim até que o enredo renderia
um curta-metragem envolvente, afinal as poucas ideias relevantes são esgotadas
rapidamente. E nesse passatempo chato e até esquizofrênico em alguns pontos o
espectador se sente tão refém (no mal sentido) quanto os próprios personagens
que se encontram na mira dos criminosos.
Analisando com bons olhos e espírito generoso, é até
possível dizer que Minkoff tentou fazer uma variação daqueles suspenses de
classe com ares europeus, tipo Assassinato
em Gosford Park, guardadas as devidas proporções e diferenças obviamente.
Aqui também temos muitos personagens em cena presos a uma limitação cenográfica
e o momento-clichê da queda de energia para em seguida surgir um elemento
surpresa e a dúvida de quem entre todas aquelas pessoas presas no banco está
enganando as demais, ocultando ser um dos mais perigosos e procurados ladrões
de banco em solo norte-americano. Sim, a certa altura perceberam que não dava
para sustentar um enredo sobre roubos de forma leve com base em piadas sem
graças e resolveram agregar um mistério a trama de forma a causar reviravoltas,
mas ainda assim o longa não deslancha e continua calcado em diálogos e
interpretações fracas. Com tantos personagens e situações a serem desenvolvidas
paralelamente em um curto espaço de tempo (que parece até demais aos olhares de
decepção dos espectadores), as coisas partem ladeira abaixo com uma rapidez
absurda e a identificação com a narrativa é praticamente impossível.
Curiosamente, até mesmo um dos pontos altos que deveria ser a sequência de entrada
dos criminosos no banco não funciona adequadamente, pois já estamos dopados
pelo desinteressante e rápido diálogo entre Judd e Dempsey na introdução. A
dupla de ladrões formada por Tim Blake Nelson e Pruitt Taylor Vince,
respectivamente Peanut Butter e Jelly (na tradução Manteiga de Amendoim e
Geléia), fazem o que podem para justificar a classificação do longa como
comédia, como seus próprios apelidos indicam o perfil dos personagens: dois
panacas tentando se dar bem na vida através de golpes, mas com uma capacidade e
tanto de se meterem em encrencas. No final
das contas, Assalto em Dose Dupla é uma baboseira que se enrosca em sua
própria pretensão. Querendo achincalhar os filmes de assaltos orquestrados por
quadrilhas experientes, Minkoff acabou confundindo as bolas e tirou sarro de
seu próprio trabalho a medida que a narrativa avança tentando ao máximo trazer
sentido a um roteiro que é equivocado desde sua primeira linha. Do jeito que o
projeto final ficou, a fórmula serviria para um nicho específico do cinema
brasileiro. Que tal seria “Didi e Xuxa em um Assalto em Dose Dupla”? Não duvide
que tal engodo renderia uns bons trocados e um cachê razoável para uma penca de
“subcelebridades” que se pegariam a tapa para conquistar uma vaguinha como
bandido ou refém. Há gosto para tudo.
Comédia - 87 min - 2011
Um comentário:
Boa noite, parabéns pelo seu blog. Curti bastante os posts, ótimos textos. Adoro blogs que aumentam meu repertorio sobre a sétima arte e o seu, com certeza, será um deles. muito interessante a tematica!
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Até mais!
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