quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

UM SONHO POSSÍVEL

NOTA 7,0

Com certas passagens que soam
artificiais, longa baseado em
fatos reais tenta mostrar a
adoção de forma diferenciada
Quando um filme destaca em sua publicidade que a história que está trazendo ao público é baseada em fatos reais significa que os produtores identificaram nela algo que a faria valer a pena, geralmente emoções ligadas a lições de vida envolvendo superações e conquistas. Não é a toa que produções destacando ícones do mundo esportivo existem aos montes e são vários os exemplos de pessoas que venceram ou se reconciliaram com a vida dessa forma. O problema é que isso já está tão clichê que nenhum roteiro do tipo parece se destacar hoje em dia. Todos eles seguem as mesmas fórmulas narrativas, são previsíveis e elevam seus protagonistas a títulos de heróis servindo como uma metáfora sobre valores humanos. Todavia, assim como as comédias românticas esquemáticas tem seus fãs fervorosos, os filmes envolvendo esportes também tem e eles adoram ver mais do mesmo, mas o entusiasmo pode ser ainda maior quando grandes estrelas resolvem emprestar seus talentos a tais produções. Baseado na história verídica do jogador de futebol americano Michael Oher, Um Sonho Possível estreou nos cinemas americanos sem grandes expectativas, mas aos poucos conquistou o público oferecendo o que eles mais gostam: esporte e uma das queridinhas de Hollywood, Sandra Bullock. Provavelmente se não fosse a presença da atriz este drama estaria fadado a ter passagem relâmpago pelos cinemas ou ser lançado diretamente em DVD em muitos países, inclusive o Brasil já que o futebol americano ainda é alheio a nossa cultura. Porém, provando que a Academia de Cinema está cada vez mais atenciosa ao lado comercial da sétima arte, o longa do diretor John Lee Hancock ganhou uma publicidade extra conseguindo a proeza de figurar na famigerada lista dos indicados ao Oscar de Melhor Filme, mas sua obra ficará marcada como a produção que deu a tão cobiçada estatueta dourada à Bullock. Dizer que esta produção foi uma das melhores de 2009 é um pouco de exagero e claro exercício de poder das produtoras de cinema e mídias sobre as premiações, mas é inegável que a atriz surpreende demonstrando talento para filmes dramáticos já que seu território seguro são as comédias. Mais contida que de costume, mas ainda assim mantendo seu carisma e sua energia positiva, os votantes das premiações (não só do Oscar) provavelmente decidiram premiá-la mais pela política da boa vizinhança afinal de contas ela não faz nada de extraordinário aqui, inclusive em certas partes até causa estranheza os seus cuidados exagerados da mãe adotiva que interpreta, mas, segundo dizem, é assim mesmo que a matriarca da vida real reagia diante das dificuldades que seu filho de coração passava.

O enredo nos apresenta Michael Oher (Aaron Quinton), mais conhecido como Big Mike, filho de uma mãe viciada em drogas e que sempre levou uma vida miserável. O rapaz é negro, obeso, se sente rejeitado pela sociedade e não sabe muito sobre suas raízes, pois viveu praticamente toda a sua existência nas ruas e isso o prejudicou muito, tanto que chegou a adolescência sem ter ambições na vida. Sem nunca encontrar acolhimento de verdade em um lar e os vários traumas de sua infância o transformaram na pessoa que é hoje, fingindo ser indiferente as situações que o cerca e em diversos momentos aparentar ter algum tipo de deficiência mental. Isso é um mecanismo de defesa comum que algumas pessoas usam para evitar se machucarem, como se quisessem ficar invisíveis aos olhos dos outros. A vida do rapaz começa a mudar quando Mike encontra os Tuohy, o exemplo de uma família americana exemplar. Leigh Anne (Sandra Bullock) é uma mulher rica e exagerada, mas leva uma vida regida por valores cristãos e tem boa índole, assim como seu marido, Sean (Tim McGraw), um ex-jogador de basquete que após largar a profissão passou a se dedicar ao ramo da culinária. Os dois levam uma rotina confortável ao lado dos filhos, a adolescente Collins (Lily Collins) e o esperto S.J. (Jae Head). Ao encontrar Mike sozinho na rua em uma noite fria, Leigh decide ajudá-lo e o leva para casa. Aos poucos, o rapaz acaba sendo inserido nesse núcleo familiar e passa a usufruir de coisas tanto materiais quanto emocionais que jamais imaginou pode ter um dia. Os Tuohy o acolhem, acreditam em seu potencial para os esportes e passam a incentivá-lo. Mesmo sem um bom currículo escolar, ele é admitido por causa de sua habilidade para os esportes, principalmente o futebol americano, o que poderia render prestígio ao colégio nas competições. Assim, ele pôde finalmente sonhar com a possibilidade de ter um bom estudo, uma profissão e o futebol americano seria essencial para essas mudanças significativas em sua vida, mas é claro que nem tudo são flores.  A força que move todo esse processo de superação é da mãe adotiva, que não deixa seu filho de coração desistir e enfrenta os desafios necessários para agregar o garoto em uma sociedade injusta e para tanto não se importa em bater de frente com viciados ou os treinadores do time cheios de marra. Embora o diretor consiga envolver o espectador mostrando a personagem Leigh percebendo o mundo alienado em que vivia graças ao contato que passa a ter com realidades sociais que aparentemente até então ignorava, faz falta conhecermos um pouco de seu histórico de vida para compreendermos de onde vem tanta bondade e até mesmo o comportamento dos demais membros de sua família.

A produção é um drama leve do tipo que traz boas mensagens ao público. O viés do enredo é tratar do tema adoção, mas de uma forma diferente das que estamos acostumados. Hancock não quis se arriscar e seguiu à risca a cartilha que rege os grandes filmes com tom edificante para atingir o emocional de quem assiste e roteirizou o longa baseando-se no livro "The Blind Side: Evolution of a Game". Logo no início já é dada a explicação para o termo "blind side". A expressão é usada no título original e é derivada de táticas do esporte que serve como fio condutor da história. Como a modalidade é desconhecida em vários países, a explicação cai muito bem e servirá para ligar a história dos protagonistas.  O diretor ganha créditos ao evitar transformar seu longa em um produto triste e lacrimejante, armadilha muitas vezes difícil de escapar. Apesar de o protagonista ter sofrido muita na infância, como é indicado por sua conduta e aspecto físico, somos poupados de cenas de violência em flashback. Há quem diga que o roteiro é muito romanceado e derrapa em diversas partes consideradas um tanto exageradas, como as constantes atitudes de carinho e compreensão da família com o filho adotivo, mas nada que atrapalhe a apreciação do enredo, até porque os personagens reais que inspiraram a história seriam de uma bondade espantosa, algo raro nos dias de hoje entre os clãs mais bem servidos financeiramente falando. Um Sonho Possível não caiu no gosto popular a toa. Revelar o amor oferecido sem expectativas de receber algo em troca e a superação através do esporte são alguns temas que mexem profundamente com o emocional de grande parte do público e talvez esteja justamente no seu roteiro simples o segredo do sucesso. A narrativa trata de adoção, mas sem os clichês de costume. Ao invés de uma criança, quem é adotado no caso é um adolescente. Ele não é branquinho e de olhos claros. Ele é negro e bem forte. Ao invés de irmãos ciumentos que vão fazer de tudo para infernizar a vida do mais novo membro da família, aqui ele é bem recebido por todos. E nem é feita uma adoção cheia de burocracias. Simplesmente ele é acolhido em um bondoso lar, vai ficando e aos poucos passa a usufruir de uma vida que jamais imaginava que um dia teria. Literalmente se transforma em um filho de coração. Talvez o único clichê do filme esteja realmente na esperança de conquistar um bom futuro através do esporte. Já está na hora de exaltar mais outras áreas de formação como as artes plásticas e a música.

Vencedor do Oscar de atriz (Sandra Bullock)

Drama - 128 min - 2009 

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Um comentário:

Rafael W. disse...

Achei o filme muito bom *___*

E devo ser o único na face da Terra que acha que a Bullock mereceu o Oscar.

http://cinelupinha.blogspot.com/