Nota 6,0 Estreia do ator David Duchovny na direção e como roteirista rende drama razoável
Desde que o seriado “Arquivo X” acabou o ator
David Duchovny tem tentado encontrar seu espaço no cinema, mas sem sucesso.
Talvez cansado de viver a sombra de seu personagem televisivo e não encontrando
bons projetos na praça, em 2004 resolveu fazer ele mesmo o seu próprio filme
ideal. Lançado diretamente em DVD no Brasil, Reflexos da Amizade é o
primeiro trabalho escrito e dirigido por ele que também protagoniza a obra cuja
forma narrativa descarta a rapidez hollywoodiana para adotar o estilo mais
emotivo e reflexivo próximo do cinema tradicional europeu. O roteiro escrito em
apenas seis dias conta a história de Tom Warshaw (Duchovny), artista plástico
que leva uma vida boêmia em Paris, mas precisa urgentemente reatar laços com
sua esposa Coralie (Magali Amadei) e Tommy (Anton Yelchin), seu filho de 13
anos. Para tanto ele começa a resgatar memórias de quando ele tinha a mesma
idade do adolescente, período em que morava em Nova York. Ele havia perdido o
pai recentemente e sua mãe, a enfermeira Katherine (Téa Leoni), ingenuamente
acreditava que qualquer doença poderia ser evitada consumindo grandes
quantidades de verduras, assim ela infernizava o filho na hora das refeições.
Desde que perdeu o marido, ela oscilava entre momentos de lucidez e outros de
insanidade, como resolver usar o banheiro ao mesmo tempo em que o filho tomava
banho, além de ter se entregado ao vício dos cigarros e chorar constantemente.
Para fugir desse ambiente depressivo e sufocante, o jovem Tom gostava de passar
o máximo de tempo em companhia do seu melhor amigo, o deficiente mental Pappas
(Robin Williams). Juntos eles faziam entregas para um açougue e juntavam
trocados para gastar no cinema e com guloseimas. O que sobrava eles enterravam
em frente a uma delegacia feminina, afinal elas já estavam presas e não
ofereciam riscos, além de ser uma forma de evitar que o pai de Pappas (Mark
Margolis) roubasse o próprio filho a quem ele culpava pela morte da esposa
alegando que ela não suportou o fardo de ter um filho retardado.
Um dos passatempos prediletos de Tom era ir
até o esconderijo contar o dinheiro, o que o fazia se sentir poderoso, e certo
dia ele passa a conversar a distância com uma presidiária. Lady Bernadette
(Erikah Badu) estava confinada em uma solitária e a janela de sua cela ficava
bem acima do chão, mas mesmo assim ela passou a conversar rotineiramente com
Tom sobre assuntos que ele deveria tratar com a mãe. Mesmo não vendo seu rosto,
a voz desta mulher inspirava a confiança do jovem que passou a dividir seus
problemas e confidencias como o fato de estar apaixonado por Melissa (Zelda
Williams). Graças aos conselhos da amiga ele consegue se entender com a garota,
mas na mesma noite sofreu uma grande decepção por conta de alguns atos de
Pappas, situações que ele ainda era imaturo para compreender, mas o amigo,
mesmo com sua deficiência, parecia compreender que chegaria o momento em que
eles não poderiam mais manter a amizade e só queria ajudar a apressar esse
desfecho. O problema é que seus feitos acabaram deixando Tom em maus lençóis
perante o reverendo Duncan (Frank Langella), o diretor da escola, o afastaram
de Melissa, deixaram Katherine ainda mais perturbada e provocou uma briga com
Lady. Com todo esse histórico de relações de amizade conturbadas, é fácil entender
o porquê de Tom não ser compreendido por sua esposa e filho. É justamente
voltando a sua terra natal que o desenhista tentará desatar os nós do passado
que o impedem de ser feliz no presente. Reflexos da Amizade não é um drama arrebatador,
mas possui seus momentos honestos de emoção e até provoca alguns risos graças a
Pappas e suas trapalhadas e falas espontâneas. O problema é que a volta do
protagonista a Nova York, embora com um belo reencontro com o amigo, não tem a
força que o clímax pedia, talvez pelo fato do engessado Duchovny não conseguir injetar a mesma naturalidade da fase jovem a seu personagem quando adulto. De qualquer forma vale uma
conferida.
Drama - 96 min - 2004
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