quinta-feira, 19 de novembro de 2015

DOCE LAR

NOTA 6,0

Embora não se aproveite da
fórmula do triângulo amoroso
tradicional, longa é previsível
e com algumas falhas agudas
Um título adocicado. Uma bela e cativante protagonista. Dois rapazes disputando seu amor. Para completar, um elenco coadjuvante simpático para pontuar os momentos cômicos e dar aquela palavra de solidariedade à mocinha quando ela chega ao ápice de seu dilema. Esses são os ingredientes do açucarado Doce Lar, mais um trabalho cuja receita foi escolhida a dedo no manual de comédias românticas de Hollywood. Se tal invenção realmente existisse em formato impresso certamente suas páginas já estariam bastante amarrotadas e emboloradas devido ao tempo e ao tanto de vezes que as fórmulas consagradas foram reutilizadas. Todavia, em menor ou maior grau, todas elas ainda conquistam público, como ocorreu neste caso, mesmo apostando na batida dúvida se a protagonista deve casar com o homem que pode lhe oferecer um futuro seguro ou arriscar em uma paixão repentina e avassaladora, mas cujo caminho a trilhar gera dúvidas. A grande, mas ironicamente despercebida diferença deste trabalho do diretor Andy Tennant, dos ótimos Anna e o Rei e Para Sempre Cinderela, é que os pretendentes da protagonista não chegam a brigar por ela, aliás, até boa parte do filme um deles não tem nem mesmo conhecimento da existência de um rival. A briga aqui é da mocinha com ela mesma, com seu próprio passado. Melanie Smooter (Reese Witherspoon) quando decidiu sair do pacato interior do Alabama rumo a agitada Nova York literalmente virou outra pessoa. Não só mudou sua maneira de agir e se vestir como também trocou seu nome pelo pomposo Carmichael. Sete anos mais tarde, ela já é considerada uma estilista famosa e está de casamento marcado com Andrew (Patrick Dempsey), ninguém menos que o filho da prefeita da cidade, Kate Hennings (Candice Bergen), esta que não aprova o namoro do filho com uma desconhecida. Procurando informações a respeita da jovem e sua família, a governante não descobre absolutamente nada, nem a favor e nem contra, o que explica o pavor de Melanie ao perceber que seu casamento já era destaque em toda a mídia. Não é só por ter nascido em um núcleo familiar simplório ou ter vivido até a adolescência em uma região campestre que ela tenta esconder seu passado, mas sim porque existe nele um ex-marido, porém, cujos laços matrimoniais ainda não foram desfeitos perante a Lei.

Jake Perry (Josh Lucas) é um rapaz com hábitos rudes, mas que conquistou o coração de Melanie ainda na infância, sendo seu primeiro e único namorado até que eles se casaram ainda muito jovens. Ele guarda rancor pelo fato da esposa tê-lo abandonado em busca de uma vida de luxos na cidade grande e por isso está protelando há anos a assinatura dos papéis do divórcio. Melanie decide voltar ao Alabama por uns dias com a desculpa de visitar seus pais, Pearl (Mary Kay Place) e Earl (Fred Ward), com quem ela também não tem mais contato, porém, por vontade deles já que não enxergam mais a filha com os mesmos olhos de quando ela era uma caipira nata. Contudo, na realidade, ela faz a viagem para pessoalmente e secretamente resolver as pendências com o antigo marido, mas a volta ao seu lar doce lar mexe com suas emoções de tal forma que ela passa a se questionar se o novo casamento e a vida luxuosa que levará realmente lhe farão feliz. Não é só o reencontro com os pais e amigos que a fazem a repensar seu futuro, mas principalmente porque ela se dá conta que ainda ama Jake, este que aos poucos vai se mostrando um homem sensível e que estes anos todos fez o que pôde para não se divorciar simplesmente porque a amava de verdade. Apesar do roteiro do estreante C. Jay Cox, baseado em um conto de Douglas J. Eboch, ser redondinho, tudo se encaixar perfeitamente e a previsibilidade se fazer presente do início a conclusão, incluindo uma finalização especial durante os créditos finais, um ponto interessante a ser observado, como já dito, é que não há um triângulo amoroso clássico. Dempsey é apenas um coadjuvante. É nas costas de Lucas que cai o interesse romântico do enredo. É na relação entre tapas e beijos, ou melhor, entre discussões e afagos de Jake e Melanie que o longa se sustenta e seus intérpretes conseguem passar com perfeição o misto de amor e ódio que os regem. Todavia, uma coisa que incomoda entre os diálogos deste casal são as várias vezes que é mencionada uma gravidez da jovem, mas tal gancho que poderia dar um gás à melosa trama acaba sendo desperdiçado e fica mal explicado. Ela se casou grávida? Seria o filho de outro homem? Fugiu de casa porque perdeu o bebê ou provocou um aborto? Portanto existia um bom argumento a ser trabalhado, mas seus realizadores optaram pelo caminho mais fácil. Assim entre cenas de rusgas e outras carinhosas dos pombinhos, o espectador também encontra as costumeiras situações de choques entre os costumes metropolitanos e os interioranos e as cenas tocantes de Melanie recordando sua juventude, com direito a olhares entristecidos e suspiros profundos. E Dempsey onde fica nesta história? O inevitável encontro entre Jake e Andrew acontece, mas curiosamente o que era para ser o clímax da história acabou sendo extremamente apático. Os dois não brigam pelo amor da mocinha, simplesmente um deles aceita que perdeu e tira seu time de campo. Quem será? Bem, qualquer um que já tenha visto pelo menos umas duas ou três produções do tipo já deve imaginar quem é que desiste, mas quando há uma prorrogação do segundo tempo as coisas podem mudar.

Vendo hoje em dia, Doce Lar pode parecer um projeto despretensioso como tantos outros, mas na verdade na época de seu lançamento ele era uma opção ambiciosa: consolidar de vez Reese Witherspoon como uma grande estrela para produções destinadas ao público jovem e ao feminino. Após o inesperado sucesso de Legalmente Loira e com sua continuação já engatilhada, a loirinha com cara de anjo colecionava fãs o suficientes para garantir uma boa bilheteria a sua nova comédia romântica, mas os resultados extrapolaram as expectativas. Não é a toa que o melhor personagem ficou guardado para ela. Com exceção de Jake que ainda tem alguma carga emocional relevante, todos os outros simplesmente flutuam ao redor de Melanie, sendo solicitados de acordo com as ações da jovem. É até compreensível que o roteirista optasse por uma reunião de clichês para não errar logo no seu filme de estreia, mas Tennant merece uns puxões de orelha. Fez seu trabalho de forma básica, porém, com má vontade. Se Dempsey convence com seu romantismo exagerado no início, em suas últimas cenas deixam qualquer um ruborizado com sua inexpressividade diante de um fato que mudaria os rumos de sua vida. A mãe de seu personagem surge um tanto caricata. Erros de direção de atores. O diretor também poderia ter feito intervenções no texto e na edição. Quem pode garantir que a tal história da gravidez não teve desdobramentos e na hora de condensar o filme tais sequências foram limadas para não transformar um trabalho romântico em um dramalhão? O jeito como esse fato foi inserido é muito estranho, não leva os personagens a lugar algum, assim configurando na pior das hipóteses como um erro primário do roteirista. Muitas pessoas criticam ainda o fato deste trabalho também jogar de forma leve gasolina em um conflito social antigo que existe entre a população do Norte dos EUA e o pessoal que habita o Sul, por retratar o povo do interior como indivíduos que pararam no tempo e por no final das contas afirmar quase que de forma explícita que para ser feliz de verdade é preciso esquecer os sonhos de progredir na vida e aceitar a realidade que lhe foi dada desde o nascimento. Polêmicas a parte, que claramente não faziam parte da lista de prioridades dos realizadores, de qualquer forma esta produção é divertida, mexe com o emocional dos mais sensíveis e cumpriu com folga o objetivo de elevar a sua protagonista a status de estrela e transformá-la em uma das queridinhas de Hollywood de sua geração. 

Comédia romântica - 109 min - 2002 

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