NOTA 2,0
Apenas a ideia básica do longa original é resgatada nesta sequência fraca e desnecessária cuja trama tem pegada policial |
Continuações de filmes de terror já são previstas quando um novo produto
do gênero é lançado e ele nem precisa fazer sucesso para dar criar. Contudo, é
de praxe ficarmos com o pé atrás quanto a qualidade dessas sequências, ainda
mais quando nem mesmo o protagonista do original aparece para uma ponta,
portanto, não há muito o que se esperar de Espelhos do Medo 2,
suposta continuação da fita de horror estrelada por Kiefer Sutherland em 2008
que apesar das boas intenções já era uma obra irregular. Esta segunda parte
tenta seguir a mesma linha de raciocínio da anterior, mas sua narrativa já
começa mal perdendo seu protagonista. Agora quem encabeça o elenco é o jovem
Nich Stahl interpretando um personagem perturbado, praticamente um item
indispensável nas fitas de terror. Max Matheson sofreu um acidente de carro no
qual sua noiva veio a falecer e ele se sente culpado. Após um período de
depressão e de se entregar ao vício das drogas e bebidas, inlcusive chegando a
tentar suicídio, o rapaz tem a chance de recomeçar sua vida trabalhando com seu
pai, Jack (William Katt), que lhe oferece o emprego de vigia na nova loja
MayFlower, a mesma que há alguns anos foi o cenário de trágicos acidentes após
ter passado por um incêndio. Enquanto não inaugura, o rapaz será encarregado de
vgiar o espaço para evitar assaltos e depredações. Para manter-se ocupado e
tentar abandonar os vícios, Max aceita o cargo, mas nem imagina a história de
arrepiar que está prestes a vivenciar. Como herança da antiga loja, um grande espelho
em perfeito estado foi recuperado do prédio que foi incendiado, item neceessário
para fazer as ligações entre as duas obras. Logo na primeira noite de trabalho
o jovem começa a perceber imagens estranhas nos espelhos, como a visão de uma
mulher refletida, porém, ela nunca está presente nos ambientes. Depois ele passa
a enxergar a imagem de seus colegas de trabalho também, mas em situações em que
provocam a própria morte. Já fica subentendido que cada uma dessas pessoas irá
morrer em breve e tal qual da maneira que o espelho apresentou. Mesmo tentando
socorrê-los, Max sempre chega tarde demais aos lugares das visões e sabe que a
qualquer momento pode ser a próxima vítima. Agora ele precisa descobrir o
mistério da tal garota para terminar com a onda de mortes inexplicáveis e
proteger a sua própria vida.
Stahl realmente parece que estava atuando sob efeito de alucinógenos,
pois sua interpretação é fraquíssima, mas ele até tem razões para tanto por
causa de uma bola fora daquelas do roteiro. Não há explicação para o fato do
filho de um pai rico e que vai abrir uma mega loja aceitar o emprego de vigia, ainda
mais sabendo que o segurança anterior tentou suicídio lá mesmo se cortando com
cacos de espelhos (nossa que surpresa!). No mínimo ele deveria ocupar uma vaga
na área administrativa. Ficar perambulando por uma loja deserta a noite com uma
lanterninha na mão não levanta o astral de ninguém, pelo contrário, o desejo
por drogas e afins só tenderia a aumentar. Bem, desde a ausência de Sutherland
já dava para sentir que esta sequência não era realmente para ser levada a
sério, assim temos que engolir que nosso herói se sentiu motivado pelo mórbido
a lutar pelo bem. Ah, e claro que há outro clichê super batido: o rapaz tem a
premonição de mortes e quer ajudar, mas como tem trauma de dirigir carros
sempre chega atrasado e passa a ser o principal suspeito dos assassinatos já
que as vítimas são os seus colegas de trabalho e ele está sempre presente no
local dos crimes quando a polícia chega. A situação misteriosa do longa não
demora a ser apresentada e algumas mortes começam a acontecer. Até esse ponto a
narrativa guarda características e semelhanças com o primeiro filme, mas depois
diferenças perceptíveis surgem. Esta segunda produção carrega bem mais no
sangue e o enredo sobrenatural e ligado a possessão abre espaço para uma trama
mais próxima do estilo policial, rocambolesca e convencional. O que pretendia
assustar não causa o mínimo de arrepios, salvo uma ou outra parte, como a
excelente cena em que a personagem de Christy Carlson Romano, uma das gerentes
da butique, morre durante o banho, talvez a única sequência que realmente deixa
o espectador roendo as unhas. Além de ser a cena mais sanguinolento do longa,
para os marmanjos pode interessar ver a nudez gratuita da atriz que não agrega
nada à trama. É curioso que os personagens antes de morrerem conseguem observar
a própria imagem estática e com olhar diabólico refletida no espelho, porém,
esboçam mínima ou nenhuma reação, dessa forma as cenas perdem totalmente o clima
de tensão.
O diretor Víctor García, da bomba De Volta a Casa da Colina,
e o roteirista Matt Venne, oriundo do fracasso Luzes do Além, até
tinham boas intenções nesta sequência indireta do longa comandado pelo francês Alexandre
Aja, mas construíram um filme com vários furos, uma trama bem inferior à
original e sem a mesma aura de tensão que o cenário destruído da antiga loja
proporcionava. Para compensar a ausência de clima de mistério quanto ao
visual, o roteiro tenta assombrar o espectador com aquele velho clichê da alma
perturbada que se aproveita da frafilidade ou poder mediúnico de algum mortal
para tentar pedir ajuda para descobrir quem foi o responsável por sua morte. O
problema é que a fantasminha da vez, para variar, é ingrata e parece querer levara
para o além qualquer um que esteja dando sopa, mesmo que tais episódios possam
colocar o seu mediador com o mundo real em maus lençóis. E aguente flashbacks,
pistas falsas, ruídos estranhos e vultos de relance. Max chega a procurar ajuda
de uma psiquiatra, mas acaba escutando aquela velha crendice de que os espelhos
podem captar a alma de pessoas prestes a desencarnar, só enrolação para rechear
um filme que embora curto poderia ser resumido em meio hora de arte. Só o vai e
vem no tempo para mostrar as razões do trauma do protagonista é um desperdício
e tanto de tempo. Em suma, Espelhos do Medo 2 é uma produção
desnecessária que foi lançada diretamente em DVD e que não é nada mais que um
passatempo bobinho totalmente previsível e sem apuro técnico, a grande tábua de
salvação do longa original. A arte da capa é bem bacana, mas não faz jus ao
conteúdo que pela milésima vez explora o filão do espírito inquieto que clama
por justiça para poder descansar em paz e no final tudo acaba em uma grande
farofada que faz o espectador se sentir um bocó. Se não tivesse a pretensão de
ser uma parte dois e com algumas mudanças drásticas dava até para ser encarado
com um trabalho regular. Uma pena. O início mostrando o segurança da loja
devorando cacos de vidro enquanto era observado por seu próprio reflexo
prometia algo interessante.
Terror - 90 min - 2010
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