domingo, 18 de março de 2018

SONHO PROIBIDO

Nota 8,0 Drama de época traz à tona a eterna rixa entre o compromisso religioso e o prazer 

Franco Zefirelli é um diretor que divide a crítica. Já foi muito elogiado pelas transposições para o cinema de peças de Shakespeare e até de famosas óperas, porém, também é muito execrado por causa do forte sentimentalismo presente em seus trabalhos. Ao contrário da fama da maioria dos cineastas europeus o italiano não busca exatamente fazer uma obra de arte com seus filmes, apesar de que o resultado geralmente seja próximo, mas busca fazer um cinema explicitamente mais comercial. Partindo de histórias clássicas que permitam que os personagens transitem em cenários de encher os olhos e vistam belos figurinos, o diretor procura sempre se cercar de um elenco de fora do território italiano visando que suas produções obtenham êxito em qualquer lugar que forem exibidas. Várias delas são de fácil acesso em lojas e locadoras, desde uma antiguidade como Irmão Sol, Irmã Lua até mais recentes como Chá com Mussolini, mas, infelizmente, algumas foram esquecidas, como, por exemplo, Sonho Proibido escrito pelo próprio diretor em parceria com Allan Baker. Baseado no romance "Storia de una Capinera", escrito por Giovanni Verga e publicado originalmente em 1870, a história se passa na Sicília, na Itália, em uma época em que uma epidemia de cólera ameaçava as vidas de todos os habitantes do local. Por ordem superior, as noviças também eram obrigadas a abandonar o convento e retornar para as casas de suas famílias até que não existisse mais o risco de ninguém contrair a doença. Maria (Angela Bettis) é uma destas jovens. Ela vive com as madres desde quando era criança. Para Mathilde (Sinead Cusack), sua madrasta, a volta repentina da enteada não é bem vista, pois ela teme que as tentações do mundo desviem as atenções da moça do caminho que ela estava seguindo até então. Realmente, é muito difícil alguém conseguir se manter afastado da rotina de uma região quando não se está enclausurado, assim, a noviça passa a viver intensamente o cotidiano do vilarejo onde sua família reside e acaba despertando a atenção de um rapaz, Nino (Jonathon Schaech).

Com a convivência, os jovens acabam se apaixonando, mas Maria não se sente feliz. Sabendo que deverá voltar para o convento para honrar seu compromisso com a religião, ela fica angustiada, pois já não está certa se é isso que quer de verdade para sua vida ao mesmo tempo em que tenta evitar os cortejos de Nino. De acordo com a educação que teve, o rapaz deve ser a tentação colocada em sua vida para testá-la. Ao retornar para o convento quando o perigo da epidemia cessa, Maria recebe a incumbência de cuidar da Irmã Agatha, interpretada por Vanessa Redgrave em rápidas aparições, uma freira que enlouqueceu por causa do amor. Pouco tempo depois, ela presencia de longe o casamento de Nino com sua meia-irmã Giuditta (Mia Fothergill). Vendo o homem que ama construindo uma história de amor ao lado de outra e tendo como exemplo o triste destino da madre idosa, a moça se rebela contra o caminho que sua família lhe traçou e foge, indo pedir abrigo justamente na moradia do casal recém-formado. O roteiro um tanto novelesco não foi um problema para Zeffirelli, já que ele sempre gostou de impor em seus trabalhos uma forte carga sentimental. Aqui o tema ganha um reforço pelo lado psicológico da história. Apesar da tônica romântica, há também fortes traços dramáticos ao impor à protagonista o dilema de escolher entre desonrar seu compromisso com Deus e ser feliz ou aceitar as imposições da vida na clausura simplesmente para não envergonhar seus parentes. Além do interessante viés, o roteiro ainda retrata o cotidiano do povo siciliano, um elemento muito importante na obra que originou o filme. A reconstituição de época, muito detalhista, prepara o terreno para o drama que é desenvolvido de forma previsível e ganha reforço com a bela fotografia e trilha sonora escolhida a dedo para tocar corações. Talvez se tivesse adotado um tom mais intimista e menos melodramático o diretor alcançaria um resultado mais interessante e consequentemente mais marcante. Apesar de todo o empenho em seus trabalhos, Zeffirelli não é um nome muito lembrado atualmente, assim não é de se estranhar que Sonho Proibido não tenha sobrevivido a ação implacável do tempo, mas se o amor clássico de uma história como a de Romeu e Julieta nunca sai de moda, sempre há esperanças de que outros belos romances ganhem sobrevida.

Drama - 102 min - 1993

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