sábado, 31 de março de 2018

PECADOS DA FÉ

Nota 6,0 Apesar da narrativa ligeira e pouco desenvolvida, longa ousa tocar em temas polêmicos

Um líder religioso deve ser alguém respeitável e livre de qualquer tipo de pecado. Bem, se a afirmação é correta, é no mínimo incoerente que os pastores possam constituir famílias. Quem aproveita o pecado da luxúria... Sem querer fazer julgamentos morais sobre as regras que comandam os cultos religiosos não cristãos, digamos que o suspense Pecados da Fé é um verdadeiro soco no estômago de seus fiéis. Por outro lado, é uma pena que tenha sido lançado no Brasil por uma distribuidora pequena e hoje seja uma fita esquecida na casa de pessoas que o adquiriram em saldões de locadoras. A trama escrita por John Benjamin Martin gira em torno do casal Emily (Alexandra Paul) e Ted Wendell (J. C. MacKenzie), pessoas respeitadas e bem-sucedidas que construíram suas reputações a frente de uma pequena congregação na região sul da Pensilvânia. Eles ilustram com perfeição o ditado que diz que por trás de todo grande homem existe uma grande mulher. Emily administra a casa e os negócios do marido desde que ele a resgatou de uma vida deprimente que quase a levou a morte. Contudo, a felicidade deles é abalada pelo próprio sucesso. Ted já transmitia seus sermões através das ondas do rádio, mas recebeu um convite para ter um programa na TV e desde então mudou a forma de tratar a esposa. Sentindo a mudança de comportamento, para Emily veio a calhar a chegada de um forasteiro, o jovem Luke McElroy (Corey Sevier), que imediatamente passa a ser protegido por seu marido que não dá ouvidos as suas desconfianças iniciais. Podendo morar no quarto dos fundos da igreja e tendo passe livre na casa do pastor, o rapaz logo começa a assediar Emily que também não demora a fantasiar um relacionamento extraconjugal. Quando se entrega ao pecado da paixão, no entanto, ela se arrepende amargamente. Não é apenas a traição que pode colocar a reputação dos Wendell em risco, mas Luke revela-se um criminoso que sabe muito sobre o obscuro passado desta mulher e passa a chantageá-la para se livrar de uma dívida.

A temática é polêmica. Traição, ganância, corrupção e vingança podem abalar as estruturas do casal-modelo e quantos religiosos na vida real também devem praticar atos ilegais e pecaminosos encobertos pela falsa imagem de honestos e adeptos da caridade? O diretor Timothy Bond realmente tinha um material quente em mãos, mas é uma pena que o utilizou para um telefilme. Se já não bastasse o visual pobre, para o lançamento em DVD não tiveram nem o cuidado de refazerem a edição, assim são perceptíveis os cortes para originalmente ceder espaço a intervalos comerciais. A curta duração também prejudica o desenvolvimento do argumento. Tudo acontece com uma rapidez impressionante, o que deixa os primeiros minutos com informações truncadas. De uma hora para a outra Ted passa a ser ríspido e Emily esquece muito facilmente suas desconfianças quanto à Luke. As revelações de segredos a respeito da protagonista também surgem de forma apressada e o diretor até arrisca uma virada surpresa na reta final. Mesmo com os problemas narrativos, Pecados da Fé é uma opção curiosa por colocar o dedo no vespeiro, ainda que de forma tímida. Para quem acredita que religião hoje em dia não é mais uma crença e sim um comércio deve vibrar com algumas alfinetadas do roteiro, como o uso de dinheiro de doações para resolver assuntos pessoais, mas é certo que os mais devotos devem se ofender, porém, não precisam levar tudo a ferro e fogo. É certo que existem congregações muito sérias e que realmente fazem trabalhos assistenciais merecedores de elogios, mas temos que ter a consciência de que não faltam picaretas pregando a palavra de Deus e na intimidade literalmente fazendo aquilo que o Diabo gosta. Martin deveria ter vendido seu argumento para algum outro roteirista, diretor ou ter procurado apoio de um estúdio de renome. A ideia central realmente poderia render um filme no mínimo razoável caso fosse uma produção com atores mais gabaritados e feita para o cinema, assim poderiam ter cenas mais ousadas e que revelassem de forma mais crua a podridão do ser humano, seja ele um criminoso libidinoso, uma pecadora regenerada ou um religioso de fachada.

Suspense - 88 min - 2006

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