terça-feira, 21 de abril de 2015

A PROPOSTA (2009)

NOTA 8,0

Após vários fracassos,
Sandra Bullock faz as pazes
com o sucesso atuando em
seu gênero cativo
Após muitos anos protagonizando comédias fraquinhas, Sandra Bullock voltou a ganhar os holofotes há alguns anos estampando a publicidade de três longas que estrearam em datas muito próximas. Ganhou o Oscar de Melhor Atriz por Um Sonho Possível, um dia antes foi eleita no Framboesa de Ouro a pior intérprete por Maluca Paixão e, por fim, fez as pazes com as bilheterias com A Proposta, comédia romântica que não traz inovação alguma e talvez por isso mesmo seja perfeita. Quando a receita é boa, não importa quantas vezes ela seja repetida, mas é preciso tomar cuidado para não errar na seleção dos ingredientes. A diretora Anne Fletcher, de Vestida Para Casar, não nega a previsibilidade da premissa do longa, mas consegue suavizar isso com um roteiro bem trabalhado, uma edição caprichada, um elenco de coadjuvantes excepcionais e, principalmente, um casal de protagonistas em perfeita sintonia, embora inicialmente possa causar certa estranheza pelo fato do mocinho da fita, Ryan Reynolds, parecer muito mais jovem que sua companheira, uma impressão que temos provavelmente por causa do tempo de carreira de cada um. Sandra interpreta Margaret Tate, a pretensiosa e mandona executiva de uma editora de livros que não faz a menor cerimônia para pisotear seus subordinados. Andrew Paxton (Reynolds) é seu assistente há anos e perdeu o direito a ter um tempo só seu. Ele vive atendendo aos pedidos da chefe, desde os mais simples até os mais insanos, sem receber um único agradecimento, mas aguenta o sufoco sonhando que um dia poderá realizar seu maior sonho: ter um livro publicado. Todavia os dias de manda-chuva de Margaret estão contados. Por ser canadense ela vive nos EUA como imigrante e depende do visto para permanecer no país e isto lhe é negado e em breve ela será deportada. A única maneira de se ver livre de uma vez por toda da fiscalização do governo é estar casada com um cidadão americano.

Margaret logo encontra uma solução para seu problema. Ela simplesmente obriga Andrew a fingir um relacionamento amoroso com ela por alguns meses e imediatamente terão que conviver por um final de semana para conhecerem mais um do outro e conseguirem passar no teste obrigatório da imigração. O rapaz então propõe uma viagem até sua cidade natal, no Alasca, onde sua família está toda reunida para a comemoração dos 90 anos de sua avó, a espevitada Annie (Betty White), mas pede uma promoção e a publicação de seu livro como recompensas. A primeira parte do longa lembra um pouco a premissa de O Diabo Veste Prada. As cenas são rápidas, as piadas e gags são fartas e seguem a mesma linha da relação patrão versus subordinado realizada entre Meryl Streep e Anne Hathaway. Margaret trava diálogos irônicos e humilha descaradamente Andrew. Mesmo quando forja cenas de amor no escritório, a durona executiva não desce do salto, mas essa é a chance de seu subordinado se vingar. Antes sempre cabisbaixo, agora ele está com a faca e o queijo na mão para se vingar dos maus tratos, mas ainda assim ele pega leve com sua suposta noiva.  As coisas complicam mesmo quando eles chegam ao Alasca, pois a imigração não dá colher de chá e o agente Gilbertson (Denis O’Hare) está na cola do casal para comprovar a veracidade da relação. Sendo assim, o clã dos Paxtons fica em êxtase, pois acreditam que Andrew vai se casar realmente e Margaret se vê em meio a situações que jamais imaginou viver, momento em que brilha o elenco coadjuvante composto por nomes como Craig T. Nelson e Mary Steenburgen, como os pais do noivo, e de Malin Akerman como sua ex-namorada. O ódio existente entre Margaret e Andrew acaba sendo amenizado neste convívio forçado, o que os levam a questionar se devem levar a farsa adiante ou contar toda a verdade para não iludir a família do rapaz.

Esperar originalidade e surpresas de um roteiro de comédia romântica é buscar a decepção com toda a certeza. Seguindo perfeitamente as regras básicas do gênero, a narrativa do estreante Pete Chiarelli guarda também semelhanças com outros títulos além do já citado acerca do mundo da moda. O gancho do enredo é uma referência óbvia ao antigo romance Green Card – Passaporte Para o Amor em que um homem e uma mulher precisam conhecer o máximo possível um do outro em pouco tempo para passar no teste da imigração. Conhecer a família do cônjuge e se acostumar com os costumes e bizarrices de seus parentes também é o ponto-chave de humor de Entrando Numa Fria e Eu, Meu Irmão e Nossa Namorada, todos com a tradicional rusga do casal poucos minutos antes do final para que finalmente caia a ficha de que eles foram feitos um para o outro, além do contraste entre os representantes da cidade grande e os de regiões mais interioranas se fazer presente. Todavia, não podemos acusar o roteirista de plagiador, afinal as situações que ele criou, ou melhor, recriou para o longa são corriqueiras em produções do tipo e necessárias para fisgar o espectador desse tipo de produção. Os tipos comuns e as situações repetitivas fazem parte da diversão. Ainda que alguns apontem a relação de Margaret e Andrew como algo nada crível, é necessário destacar o esforço de seus intérpretes em não entregar os pontos rapidamente. Eles tentam reprimir o carinho que seus personagens passam a nutrir um pelo outro o máximo de tempo possível, deixando o ódio existente primeiramente ser expresso através de diálogos e expressões faciais sarcásticas. Partindo da idéia de que os opostos se atraem, A Proposta é diversão garantida e só não deve agradar aos mais críticos, estes que nem deveriam se atrever a assistir comédias românticas, pois já sabem o que vão encontrar. Mesmo com subtramas desnecessárias, outras mal desenvolvidas e pouco mel na relação dos protagonistas, vale ressaltar como ponto positivo o descarte de cenas vexatórias, escatológicas ou de apelo sexual exagerado tão comuns em Hollywood. Ok, tem uma alusão a nudez de Sandra Bullock e uma brincadeira com o tamanho pequeno dos seus peitos, mas nada de mais. Ah, e a divertida veterana Betty White é a cereja do bolo capaz de mexer com o humor de qualquer sisudo de plantão. Uma dica para se divertir sem culpa nenhuma.

Comédia romântica - 107 min - 2009

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