NOTA 10,0 Com animação tradicional aliado a um roteiro inteligente, longa prova que desenhos também são negócios de gente grande |
Talvez nunca ninguém imaginasse, mas simples galinhas um dia
conseguiram fazer muito mais sucesso que astros de carne e osso e
protagonizaram um dos melhores desenhos de longa-metragem de todos os tempos.
No final dos anos 90, o terreno para as animações feitas em computador
praticamente do início ao fim já estava preparado e os desenhos tradicionais já
não chamavam mais atenção, porém, ainda havia pessoas que acreditavam que
imagem não é tudo e que um bom roteiro salvaria qualquer técnica arcaica. Na
base do stop-motion, o bom e velho recurso de trabalhar com bonecos de
massinha, é que foi projetado A Fuga das Galinhas, um excepcional trabalho
voltado ao público infantil, mas que já adiantava a tendência de que desenho
animado deveria agradar também aos adultos que então não usariam mais a
desculpa que assistiam produções do tipo por causa das crianças.
Definitivamente as animações estavam virando programa de gente grande. O
roteiro inteligente é uma colcha de retalhos que alinhava sequências inspiradas
em clássicos filmes de guerra, só que a guerrilha aqui é entre galináceas e uma
dupla de humanos. A granja da Sra. Tweedy durante o dia parece
aparentemente normal, mas a noite, enquanto os humanos dormem, o galinheiro
fica agitado. As galinhas que vivem lá sonham com uma vida melhor e não se
conformam com o triste fim de virar assado quando pararem de produzir ovos. Uma
delas é a inteligente Ginger que está elaborando planos para que todas escapem
voando para fora da cooperativa. O único problema é que as galinhas não podem
voar mais que alguns centímetros acima do chão, suas asas produzem movimentos
limitados. Todas as tentativas de fuga são frustradas e a preocupação aumenta
quando a dona da granja compra uma máquina de fazer tortas de frango para
aumentar seus lucros, o que indicaria que um número maior de galinhas perderia
a vida todos os dias. Porém, a salvação
cai literalmente do céu. Um belo dia, Rocky, um galo persuasivo e conhecido por
suas façanhas no ar, aterrissa na granja por acaso. Ele estava fugindo de seus
donos circenses e as galináceas aceitam a permanência dele naquele território
com uma condição: ele deve ensiná-las a voar. O canastrão aceita a proposta,
mas conforme o tempo passa o cerco fecha e todos aqueles animais correm o risco
de morrer naquela espécie de campo de concentração. Mesmo assim, com trabalho
de equipe, determinação e um pouco de sorte, o bando destemido trama uma última
tentativa para conseguir a liberdade. A idéia básica deste desenho surgiu do
longa Fugindo do Inferno, protagonizado por Steve McQueen, no qual um
grupo de soldados tentam de todas as maneiras escapar de um campo de
concentração, premissa que já foi usado em muitas outras produções de guerra,
mas talvez pela primeira vez adaptada para o universo infantil. Há ainda espaço
para satirizar Indiana Jones, Guerra nas Estrelas, entre tantos outros
títulos de sucesso e clichês do cinemão americano, porém, mesmo quem não tem um
amplo conhecimento cinematográfico ainda irá conseguir dar boas gargalhadas.
Até política entra no meio do sarro com a citação da velha rixa existente entre
americanos e ingleses.
O longa já nasceu com pinta de cult graças aos nomes de Peter Lord e Nick Park que assinam a direção e o roteiro depois de décadas da fundação do estúdio Aardman especializado em animações stop-motion. Após dois curtas premiados com o Oscar e o sucesso da dupla Wallace e Gromit que futuramente ganharia o próprio filme, eles estrearam em grande estilo no campo dos longas-metragens, mas contando com o apoio de Steven Spielberg e sua empresa Dreamworks para atingir distribuição mundial. O resultado é um delicioso desenho que chegou aos cinemas como um sopro de originalidade em um cenário dominado pela computação gráfica. Para os adultos esta é uma chance de voltar no tempo e lembrar o quanto são encantadores os trabalhos quase artesanais e ainda com o incremento de um roteiro inteligente e repleto de ótimas piadas, inclusive visuais. Para as crianças, a mudança de ares é bem-vinda, até para que elas tenham consciência de que o mundo não se resume a imagens perfeitas criadas em um ambiente virtual que sempre impressionam visualmente, mas muitas vezes deixam a desejar no quesito emoção. Em tempos em que o computador facilita tudo, trabalhar com massinhas e criar dezenas de moldes para cada personagem são opções ousadas dos realizadores que ao longo de três anos não pouparam esforços para atingir resultados perfeitos e criar uma identidade única ao projeto. Só de pensar que cada franguinha é um boneco feito de forma artesanal e animado quadro a quadro já são motivos suficientes para cobrir de elogios este trabalho que nos presenteia com tipos repletos de detalhes a serem analisados e cada um com personalidade distinta. Até mesmo os vilões da trama conseguem a simpatia do público, muito por conta do contraste visual e de comportamento de cada um. A senhora Tweedy é alta, magra e ardilosa enquanto o senhor Tweedy é totalmente o oposto, baixinho, gordinho e bobão. Além da esperta Ginger e do galanteador Rocky, a mocinha nada indefesa e o herói frouxo, mais uma boa sacada dos criadores, vale destacar também Babs, uma galinha com um impagável bordão e que vive fazendo tricô, além da dupla de roedores Nick e Fetcher que só pensam em se dar bem na vida e se divertir às custas dos outros. Claro que ninguém na Terra faz milagres e a perfeição dos desenhos é graças a alguns vários cliques no mouse e arremates via computador. Algumas trucagens e simulações de cenas foram feitas em ambiente virtual, assim como a remoção de fios e outros acessórios que sustentavam os bonecos reais.
O longa já nasceu com pinta de cult graças aos nomes de Peter Lord e Nick Park que assinam a direção e o roteiro depois de décadas da fundação do estúdio Aardman especializado em animações stop-motion. Após dois curtas premiados com o Oscar e o sucesso da dupla Wallace e Gromit que futuramente ganharia o próprio filme, eles estrearam em grande estilo no campo dos longas-metragens, mas contando com o apoio de Steven Spielberg e sua empresa Dreamworks para atingir distribuição mundial. O resultado é um delicioso desenho que chegou aos cinemas como um sopro de originalidade em um cenário dominado pela computação gráfica. Para os adultos esta é uma chance de voltar no tempo e lembrar o quanto são encantadores os trabalhos quase artesanais e ainda com o incremento de um roteiro inteligente e repleto de ótimas piadas, inclusive visuais. Para as crianças, a mudança de ares é bem-vinda, até para que elas tenham consciência de que o mundo não se resume a imagens perfeitas criadas em um ambiente virtual que sempre impressionam visualmente, mas muitas vezes deixam a desejar no quesito emoção. Em tempos em que o computador facilita tudo, trabalhar com massinhas e criar dezenas de moldes para cada personagem são opções ousadas dos realizadores que ao longo de três anos não pouparam esforços para atingir resultados perfeitos e criar uma identidade única ao projeto. Só de pensar que cada franguinha é um boneco feito de forma artesanal e animado quadro a quadro já são motivos suficientes para cobrir de elogios este trabalho que nos presenteia com tipos repletos de detalhes a serem analisados e cada um com personalidade distinta. Até mesmo os vilões da trama conseguem a simpatia do público, muito por conta do contraste visual e de comportamento de cada um. A senhora Tweedy é alta, magra e ardilosa enquanto o senhor Tweedy é totalmente o oposto, baixinho, gordinho e bobão. Além da esperta Ginger e do galanteador Rocky, a mocinha nada indefesa e o herói frouxo, mais uma boa sacada dos criadores, vale destacar também Babs, uma galinha com um impagável bordão e que vive fazendo tricô, além da dupla de roedores Nick e Fetcher que só pensam em se dar bem na vida e se divertir às custas dos outros. Claro que ninguém na Terra faz milagres e a perfeição dos desenhos é graças a alguns vários cliques no mouse e arremates via computador. Algumas trucagens e simulações de cenas foram feitas em ambiente virtual, assim como a remoção de fios e outros acessórios que sustentavam os bonecos reais.
Os anos passam, mas o tempo não consegue tirar o charme, o
brilho e a inteligência deste desenho que, diga-se de passagem, parece ter
agradado muito mais ao público adulto que o infantil, até porque a técnica do
stop-motion é uma lembrança da infância de muito marmanjo. Infelizmente, as
crianças das novas gerações acostumaram-se demais à adrenalina e ao espetáculo
visual oferecido pelas produções moderninhas e agora temos até os efeitos 3D
para dar continuidade a lavagem cerebral precoce, embora nem os mais velhos
estejam imunizados de tal epidemia. Não que tais produtos não devam existir,
mas tudo que é demais traz efeitos colaterais. Uma criança acostumada a sempre
ver o mesmo estilo de filme, de traço de desenho, acaba se fechando para outros
conceitos e novidades, salvo quando eles são oferecidos literalmente conectados
ao universo tecnológico. Park e Lord são artistas estranhos no ninho
cinematográfico sem dúvidas. Além de preferirem trabalhos artesanais, eles
também não se preocupam com lucros extras que um filme pode gerar, tanto é que
não se teve notícias de brinquedos e outros produtos licenciados com os
personagens desta obra, a não ser peças de distribuição gratuita para promoções
da própria empresa distribuidora do título em cada país. Fica claro que eles
seguem uma linha de trabalho mais preocupada com a educação. Não é de hoje que
as crianças estão espertas demais, mas também não é preciso ser radical e
cortar o colorido de suas vidas para tornarem-se adultas rapidamente. Canções
chatinhas não estão presentes e até um personagem extremamente infantil, Little
Nobby, um pintinho que seria o irmão mais novo de Ginger, foi limado na versão
final do roteiro, todavia, a narrativa foi construída cuidadosamente para não
ofender a inteligência dos pequenos e tampouco de seus acompanhantes mais velhos.
Trazendo metáforas e ideias subliminares sobre confiança, obstinação,
convivência, tolerância e, obviamente, o direito da liberdade, A Fuga das
Galinhas é sem dúvida um marco cinematográfico que tinha tudo para ganhar
ao menos uma sequência, mas seguindo a linha de pensamento dos diretores,
qualidade em primeiro lugar, tal ideia deve ter sido cogitada apenas em off
entre os distribuidores que torciam por uma segunda aventura das galináceas.
Daria lucros certamente, mas seria difícil ofuscar o original e poderia ocorrer
o pior: transformar um belo trabalho em um refém do consumismo. Às vezes menos
é mais e neste caso muito mais. Pena que não havia o Oscar de Melhor Filme de Animação
na época. Ganharia fácil, até porque já tinha sido indicada ao Globo de Ouro de
Melhor Comédia e a concorrência da categoria seria fraquíssima.
Animação - 84 min - 2000
Animação - 84 min - 2000
3 comentários:
Divertida animação.
http://cinelupinha.blogspot.com/
fuga de galinhas e um galo metido a voador, nada haver né, mas o filme se torna um clássico pelo valor a liberdade, é 10, recomendo, tem aventura, romance, ação e uma dose de terror,...
Já passou a época que animação era somente para crianças, atualmente possuem roteiros de adultos e melhor brilhantes como este...
A Fuga das Galinhas é cheia de feitos incríveis,como uma protagonista feminina forte,mensagens motivacionais,reflexivas e pertinente,paralelos com o holocausto judeu e aliando tudo isso a uma animação em stop motion muito bem executada.é um filme que impressiona com sua genialidade de entreter tanto crianças e adultos,tornando-a uma animação excelente.
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