domingo, 8 de maio de 2016

DUAS VIDAS (2000)

Nota 4,5 A possibilidade de mudar os rumos da vida é desperdiçada em comédia sem graça

Pouco tempo depois das experiências sobrenaturais que vivenciou em O Sexto Sentido, Bruce Willis logo em seguida teve em mãos outro projeto que o colocaram em dúvida sobre o que é real e o que é fantasia. E desta vez sem um garotinho medonho sussurrando que vê pessoas mortas. Por outro lado, temos um guri que volta do passado para confrontar com si próprio no presente e questionar seu futuro. Explicando assim parece que Duas Vidas é um super projeto mesclando drama e ficção, um sério candidato a cult movie. Todavia, não passa de uma açucarada, porém, sem graça, comédia da casa do Mickey Mouse e não por acaso seu título original é "Disney´s The Kid".  O ponto de partida da roteirista Audrey Wells surgiu da ideia de que todos inevitavelmente a certa altura da vida repensam suas trajetórias até então e relembrar a infância e seus sonhos faz parte, talvez seja essencial. Russ Duritz (Willis) é um bem sucedido consultor de imagem que coloca sua profissão acima de qualquer coisa, assim sua vida particular é melancólica e solitária. Talhando cuidadosamente o perfil de políticos, executivos e outros ricaços para saírem, popularmente falando, bem na foto exaltando sucesso e felicidade perante os demais pobre mortais, ele não consegue moldar sua própria figura simplesmente porque não sabe como lidar com seus próprios sentimentos, assim geralmente parece rude, mal-humorado, sarcástico, enfim todos os adjetivos negativos lhe caem como uma luva. Mesmo assim, a jovem Amy (Emily Mortimer), sua fiel escudeira no trabalho, nutre uma paixão reprimida por ele que ainda ganha os paparicos de Janet (Lily Tomlin), sua secretária pessoal que faz praticamente o papel de uma mãe coruja em sua vida. Tudo muda quando um certo garotinho aparece repentinamente em sua vida cheio de conselhos e indagações. Quem é ele? Simplesmente o próprio Duritz com apenas oito anos de idade, bem rechonchudo e então atendendo pelo nome de Rust (Spencer Breslin). O garotinho vem para agitar o metódico cotidiano de seu eu adulto com muitas travessuras e o desejo de encontrar sua casa.

O diretor Jon Tuteltaub é famoso por transformar argumentos interessantes em produções muitas vezes idiotas e assim o fez mais uma vez com Duas Vidas. Adicionou tanto açúcar que acabou tendo um efeito contrário. Até a estratégica trilha sonora cheia de rompantes de emoção (reiterando o que já vemos em imagens) ajuda a melar tudo ainda mais. A comédia não faz rir, no máximo arranca um sorrisinho amarelo vez ou outra, mas não se pode jogar toda culpa para cima do cineasta, afinal trata-se de um legítimo produto Disney, ou seja, censura livre, com cenas lacrimejantes, humor rasteiro e fantasia sobrepondo-se a realidade. A premissa absurda nunca é justificada, mas nada que prejudique o longa que é levado apoiando-se na química cativante entre Willis e Breslin, cujos personagens carregam especificamente a frustração e o sonho em ser um piloto de avião. O veterano não deixa a peteca cair com seu timing para humor, mas tem que engolir a redenção de seu personagem que ao invés de emocionar chega a constranger de tão piegas. Do argumento também não se podia esperar muito já que foi reciclado trocentas vezes. Culturalmente nos EUA a chegada da temida meia-idade, na faixa dos 40 aos 50 anos, marca uma espécie de rito de passagem para os homens. Teoricamente, seria uma fase de pleno vigor físico e amadurecimento emocional e intelectual, assim para alguns um momento de renascimento, a chance de dar novos rumos a suas vidas, enquanto para outros soa como motivo de amargura por conta de planos não concretizados e ausência de expectativas para o futuro. Em outras palavras, resgata um conflito bastante comum na juventude, a aceitação social em grupos que se dividem entre vencedores e perdedores, populares versus isolados, descolados contra nerds. Vendo por esse prisma, o roteiro poderia render muito mais e ainda assim oferecer um produto que atingisse as crianças e interessasse aos adultos. Tuteltaub acabou fazendo um filme que não diverte e nem comove plenamente nenhuma faixa etária, sempre fica aquela sensação de que faltou algo. Até uma exploração maior da profissão do protagonista seria benéfica ao longa por levantar uma crítica a respeito da importância da imagem física e financeira nos tempos atuais em detrimento ao ser verdadeiro.

Comédia - 104 min - 2000

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