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NOTA 7,0 O ator Ethan Hawke prova que tem talento para a direção e escrita em drama sobre amor da juventude |
O mercado cinematográfico no mundo todo parece ter um pouco de medo em investir em produções cujos idealizadores sejam atores. Kevin Costner e Mel Gibson tiveram sorte e chegaram a conquistar os Oscars de Melhor Filme e Melhor Diretor, mas da mesma forma rápida que chegaram ao ápice em uma profissão que não era a principal deles, também chegaram ao fundo do poço. O autoritarismo e a megalomania de ambos atrás das câmeras, o que gera muitos conflitos de bastidores, certamente influenciam no medo que grandes empresas têm de se envolverem na produção de filmes escritos e/ou dirigidos por atores. Fora estes casos atípicos, são vários os intérpretes que já assumiram as rédeas do roteiro e da câmera e que tiveram seus trabalhos exibidos de forma modesta ou praticamente nula. Uma pena. Geralmente esses filmes são bastante interessantes e mereciam um pouco mais de atenção. A situação é ainda pior quando o ator que pretende testar outras áreas não tem seu talento reconhecido à frente das câmeras como é o caso de Ethan Hawke. Considerado um intérprete de talento limitado, seus únicos trabalhos de grande repercussão são Antes do Amanhecer e Antes do Pôr-do-Sol, ambos estrelados e roteirizados por ele próprio em parceria com a atriz Julie Delpy. Será mesmo que ele é um nome qualquer no mundo do cinema? Não é o que ele prova com Um Amor Jovem, drama repleto de elementos autobiográficos o qual ele dirigiu, roteirizou e ainda assumiu um papel pequeno na trama, mas de grande importância para a história do protagonista. Adaptado do livro “The Hottest State” publicado pelo próprio Hawke em 1997, o longa é um daqueles títulos praticamente desconhecidos e que você fica com um pé atrás, mas que pode te surpreender e garantir uma boa sessão de cinema. Pena que a obra teve pouquíssima repercussão em sua terra natal e no Brasil seu lançamento foi feito por uma empresa modesta e especializada em filmes alternativos e participantes de festivais, assim só mesmo chamando a atenção dos ratos de locadora que adoram garimpar tesouros e novidades entre as prateleiras.

Muitos dos problemas do protagonista se devem a falta que lhe fez uma figura paterna em sua vida e o excesso de cuidados da mãe. O resultado foi que ele cresceu mimado e acostumado a sempre ter o que quer e não sabe lidar com as mulheres que aparentemente se resumem a um troféu que ele deseja ostentar, porém, com o desenrolar da trama, percebemos que o rapaz se entregou de coração aberto à paixão ao contrário de sua parceira que demonstra ter medo o tempo todo de se apaixonar e termina o relacionamento friamente, fruto talvez da ausência de laços afetivos fortes em sua vida desde a infância. Aliás, a personagem de Catalina, que ficou conhecida ao ser indicada ao Oscar por Maria Cheia de Graça, gera algumas críticas por reciclar o estereótipo da latina, desde seus figurinos até a posição que assume na trama como a mulher de traços diferenciados, sensual e que conquista o coração de um americano. Vale lembrar a presença da brasileira Sônia Braga como a mãe da moça e a participação rápida de Michelle Willians, atriz praticamente onipresente nas produções menores de Hollywood, mas ambas não têm papéis de destaque. O maior problema e ao mesmo tempo elemento necessário à trama é a narrativa lenta adotada. Essencial em alguns momentos para expor o estado de espírito do protagonista e a passagem do tempo, em outros acaba trazendo uma melancolia adicional e que se acentua pela ausência de cenas mais fortes, como uma discussão mais acalorada. Tudo é tocado de forma passional e a trilha sonora trata de pontuar a história com bons hits nas vozes de intérpretes famosos. De qualquer forma, Hawke se mostra maduro e seguro em sua segunda empreitada atrás das câmeras. Após dirigir em 2001 o desconhecido As Paredes do Chelsea Hotel, o ator mostra que tem apreço aos personagens em cena e procura não ofuscar o brilho dos atores adotando modernidades para o estilo de filmagem. De forma tradicional aos longas independentes, Um Amor Jovem conquista o público com enredo de fácil identificação, envolvente e que deixa uma mensagem ao espectador: na juventude tudo parece belo e sem fim, mas a maturidade, precoce ou tardia, nos ensina a ver as coisas com outros olhos. A ruptura de um amor da juventude logo quando acontece pode deixar qualquer um triste ou amargurado, mas com o tempo aprendemos a guardar apenas as boas lembranças daquele tempo e seguir a vida em frente. E é assim que devemos aprender a encarar muita coisa do dia-a-dia.
Drama - 117 min - 2006
Um comentário:
Parece ser um belo filme, quero conferir.
http://cinelupinha.blogspot.com/
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