NOTA 7,0 Longa faz sátira aos filmes de ação apostando em uma mescla de gêneros, personagens caricatos e edição diferenciada |
Quando chega ao pequeno vilarejo,
Angel rapidamente fica conhecendo boa parte da população e logo de cara já se
estranha com seu novo parceiro de trabalho. Danny (Nick Frost), um rapaz curioso,
inocente e fanático por filmes de ação americanos. Não é a toa a profissão que
escolheu, embora não demonstre ter talento para isso. Em Sandford tudo é muito
tranquilo e todos parecem amigáveis e solidários, mas não demora muito para que
acontecimentos estranhos passem a acontecer. Misteriosos assassinatos e
violentos acidentes chamam a atenção de Angel, mas parece que apenas ele se
preocupa com os fatos. Seu instinto de policial é acionando e o novato na área
passa a investigar por conta própria os crimes, contrariando as ordens do chefe
da polícia local, Frank Butterman (Jim Broadbent), o pai de Danny. Como a ideia
é parodiar os longas de ação e afins é previsível o que acontece deste ponto em
diante. Conforme novas pistas vão sendo encontradas Angel descobre que os moradores
da vila escondem suas verdadeiras personalidades, mas ele não pode contar nem
mesmo com a ajuda de seu parceiro. Geralmente os filmes com duplas de agentes e
atividades do tipo trabalham com a questão do contraponto e aqui não é
diferente, só que de forma um tantinho mais exagerada para causar efeitos de
humor, inclusive em termos visuais. Enquanto Angel é seguro, perspicaz, inteligente,
astuto e de corpo esguio, Danny é inseguro, fala bobagens o tempo todo, come
doces e bebe cerveja a vontade para manter suas formas ligeiramente roliças e
não se cansa de citar o filme Bad Boys 2
sempre que julga necessário para justificar ou complementar suas ideias tolas.
Aliás, se o longa é vendido como uma comédia, o humor de mais fácil
identificação é praticado justamente pelo personagem de Frost que serve como
alívio cômico para as cenas mais pesadas, conseguindo resultados bem superiores
do que quando um longa de ação tenta forçar a barra colocando frases
engraçadinhas em momentos inapropriados. Danny passa longe de ser o estereótipo
de um imbecil, simplesmente ele é um sonhador, um adulto que não amadureceu
totalmente, muito por conta da vila privilegiada onde foi criado. Sendo assim,
não é de se estranhar que volta e meia ele está arreliando a paciência de Angel
com perguntas que ao mesmo tempo em que são engraçadas fazem referências a
título de sucesso do gênero ação e mistérios. Coisas do tipo se existe
realmente um ponto da cabeça que se você atirar ela explode completamente ou se
é possível manejar duas armas ao mesmo tempo enquanto salta no ar são algumas
pérolas que o rapaz solta. A resposta do policial condecorado é curta e grossa:
isso são coisas de cinema, não de vida real. Será mesmo?
Um ponto interessante da
narrativa é que o bucolismo de Standford não se torna um mistério com o qual o
espectador precisa ficar atento aos detalhes para desvendar. Rapidamente Wright
revela que existe um serial killer muito criativo agindo na área. Já fica o
aviso de quem não gosta de sangue e violência não deve se animar por este
produto ser rotulado como uma comédia, pois o diretor não teve pudores para
colocar algumas sequências atípicas para o gênero e mesmo quando elas soam sem
lógica no fundo elas estão presentes para simplesmente reforçar o principal
objetivo da obra que é fazer uma crítica bem humorada a mesmice que toma conta
das produções hollywoodianas. Aliás, o exagero e o bizarro são marcas deste
trabalho, o que pode justificar sua repercussão modesta. No Brasil o longa foi
lançado diretamente em DVD após algumas mudanças de data, como se a própria
distribuidora Universal não confiasse neste produto, no entanto, entre os
cinéfilos o filme acabou se tornando uma pequena jóia que pode não ser
perfeita, mas tem qualidades relevantes. Corajoso, esse pode ser um dos
adjetivos que este trabalho merece. Fazer humor sem apelar para caracterizações
e situações constrangedoras é bem difícil, mas neste caso as piadas são
sutilmente espalhadas ao longo da narrativa, exigindo muita atenção de quem
assiste. Não é difícil que algumas piadas acabem passando despercebidas. Fora
isso, misturar tantos gêneros também poderia resultar em uma verdadeira bomba,
mas Wright soube dosar os elementos característicos de cada um a ponto de
ficarmos na dúvida de classificarmos a obra em apenas duas categorias: comédia
ou ação. Até uma homenagem ao famoso estilo do faroeste espaguete encontra uma
brecha para participar desta produção no mínimo singular. O início já deixa
claro que este não é um filme comum, mais um ponto que revela o seu caráter
corajoso visto que pela introdução boa parte da audiência já sentiria a vontade
de não seguir adiante. A conversa entre Angel e seus superiores a respeito de
sua transferência é muito estranho, mas já prepara o espírito do espectador
para o que vem a seguir. Personagens caricatos, diálogos aparentemente sem
sentido e situações irreais dão a tônica da obra, tudo a favor de mostrar o
protagonista como um peixe fora d’água em um lugar onde tudo é perfeito, o que
chega a ser perturbador até para quem assiste. Embora a temática da cidade
modelo já seja um clichê explorado até mesmo pelo outrora cultuado M. Night
Shyamalan, este filme se segura com uma história bem amarrada na qual é
possível se identificar com o conflito do protagonista. Sabendo de antemão que Standford
não é tão segura e que os habitantes costumam colocar panos quentes nos crimes,
ficamos na expectativa para que Angel consiga desmascarar a situação ou se
Wright surpreenderia fazendo o personagem sucumbir ao sistema de farsa com o
qual o vilarejo sobrevive. O que conta um pouco contra a obra é que ela é acima
do normal para o gênero. Embora o último ato seja divertido e movimentado, as
duas horas de Chumbo Grosso por vezes é um teste de paciência. Muita loucura
para ser servida em dose tão cavalar.
Comédia - 120 min - 2007
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