segunda-feira, 7 de dezembro de 2020

MAX PAYNE


Nota 5,0 Adaptação de videogame se resume a clichês de ação disfarçados sob visual chamativo


Há quem critique a falta de originalidade do cinema nos últimos anos por conta das diversas obras oriundas de fontes como livros e quadrinhos. Para a alegria de alguns e tristezas de outros, os mundos imaginários que ganhavam múltiplas interpretações passaram a ter imagens concretas e praticamente definitivas. Com o sucesso de adaptações de HQs, o que praticamente criou um subgênero para as categorias de ação e aventura, logo tornaram-se moda os filmes inspirados em videogames, universos que de certa forma já são apresentados ao público com personagens e ambientações dotados de "vida própria". O que eles poderiam oferecer ao espectador de cinema? Resposta: praticamente nada, apenas produtos rapidamente esquecíveis e de valor apenas para fãs ferrenhos da "malhação de polegares". No passado, games populares como "Super Mario Bros" e "Mortal Kombat" tentaram uma sobrevida nas telonas e decepcionaram, mas esporádicos sucessos como dos filmes de Lara Croft pertencente ao jogo "Tomb Raider" instigam produtores a investir nesta seara. Sem apelo algum infanto-juvenil, Max Payne é mais um equívoco a ser somado à lista de tentativas. O roteirista estreante Beau Thorne procurou ser fiel ao game original mantendo a premissa, nomes de personagens, referências à mitologia da cultura nórdica e até copiando cenas do jogo. 

Max Payne (Mark Wahlberg) é um ex-policial rebelde sem muita consideração por regras e que não tem nada a perder. Determinado a se vingar dos assassinatos brutais de sua esposa e filho, nada o deterá até que encontre os responsáveis que fazem parte de um cartel que lucra com a venda de uma droga chamada Valquíria. Entretanto, sua obcecada investigação o leva a um pesadelo no qual fantasias macabras se chocam com a dura realidade. Ele entra para o departamento antidrogas, mas ao mesmo tempo infiltra-se na máfia. Ao ser injustamente acusado de um homicídio, Payne passa a ser perseguido por policiais e também por criminosos e à medida que se aprofunda no mistério é forçado a lutar com inimigos que não pertencem ao mundo real, extrapolando os limites de sua própria sanidade. Sua falecida esposa trabalhava para uma empresa farmacêutica onde teria sido desenvolvido a tal droga alucinógena na qual era viciada Natasha (Olga Kurylenko), outro assassinato cuja culpa recai sobre o rapaz, entretanto, a irmã da garota, a perigosa mafiosa Mona Sax (Mila Kunis), ficará do lado do justiceiro para encontrar a verdade sobre o caso. Por esse breve resumo, percebe-se que de fato havia uma história razoável a ser contada, mas ela acaba sendo suplantada pela preocupação com a estética e a pirotecnia. 


Com direção do irlandês John Moore, da fracassada refilmagem de A Profecia, a produção não traz absolutamente nada de novo em termos narrativos, apenas apresenta com uma roupagem diferenciada a clássica história do anti-herói truculento que traumatizado tem como único objetivo de vida a vingança. A fotografia escurecida, quase sempre próxima ao preto-e-branco, lembra um pouco o estilo de Sin City, mas a tonalidade aqui não é uma mera diferenciação visual e sim uma forma de realçar o estado de espírito do protagonista. Aliás, o game lançado em 2001 é considerado por muitos fanáticos pelo assunto como um dos poucos realmente com perfil cinematográfico, tanto que faz uso de clichês comuns nos filmes de ação como tiroteios em câmera lenta e efeitos especiais que seguem minuciosamente o trajeto das balas disparadas, recursos que Matrix tratou de popularizar. Como no jogo, a odisseia do personagem-título terá um gancho extra para se sustentar, uma conspiração envolvendo uma droga sintética, mas não espere uma trama mirabolante. Embora surjam vários coadjuvantes ao longo da narrativa para intrincar as coisas, sabemos que o lance é tentar descobrir se alguém irá sobreviver a fúria de Payne ou até mesmo se o próprio não irá sucumbir a sua ira, O roteiro ainda tece uma trama paralela na qual o protagonista é acusado do homicídio de Alex (Donal Logue), seu ex-parceiro de trabalho, e dá mais voltas no mistério do assassinato de sua família acrescentando a dúvida se tais mortes poderiam ter algo a ver com questões sobrenaturais. 

Ajudado por seu mentor, B. B. Hensley (Beau Bridges), Payne está certo que as mortes que o acusam estão ligadas ao fatídico episódio do passado e também ao avanço do consumo de Valquíria, um tóxico que vicia rapidamente e proporciona aos usuários visões de anjos e demônios, aspecto que nos remete ao clima de Constantine, inclusive com alguns efeitos extremamente semelhantes. Ainda que visualmente torne-se uma diversão à parte caçar as referências do diretor à outras produções, é indiscutível que na parte técnica estão as únicas qualidades do longa. Além dos ângulos estilosos que buscou com a câmera e da já citada relação entre os sentimentos do protagonista e os ambientes, o que justifica o tempo nebuloso e clima gélido constantes, Moore buscou atualizar a tradição dos filmes noir. Temos aqui o incessante uso da contraluz, as mulheres fatais são visualizadas com o máximo de fetichismo possível, o sobretudo é a veste de muitos personagens masculinos e é perceptível a preocupação para fazer de cada cena uma imagem digna de fotografia. Para nos trazer de volta a realidade do século 21, o excesso de efeitos digitais para mostrar o ponto de vista dos viciados na droga Valquíria acaba gerando um desagradável impacto, mas sempre há o esforço de levar o espectador de volta para o universo noir em seguida. Contudo, a mescla de trama policial, ação, dogmas religiosos, ficção científica e até toques a respeito de terrorismo em nenhum momento atinge clímax emocional, nem mesmo o trágico passado de Payne causa algum tipo de comoção assim como falha a tentativa de gerar alguma faísca entre o anti-herói e seus possíveis interesses românticos. 


Além dos personagens citados, há muitos outros que entram em cena e desaparecem em um piscar de olhos, mas para quem os percebe o roteiro só tende a parecer mais confuso. Fazer o que se o próprio protagonista é um tipo pessimamente delineado. Wahlberg é talentoso e costuma se dar bem interpretando caras durões, mas perdeu a chance de ter uma franquia de sucesso em mãos, até foi deixado um gancho para uma segunda aventura. Ainda que atue na base do piloto automático, não se pode dizer que a culpa é toda sua já que o conjunto todo do filme é repleto de equívocos. Um drama com pegada de autoajuda ou algo assim até dá para se fazer com um personagem só, mas ação não rola e aqui parece que o lema do um por todos e todos por um passou longe. A sensação é que todos atuaram com o mínimo de esforço na esperança de que na pós-produção além do acréscimo dos retoques visuais também fosse possível animar os personagens. Ao que tudo indica Max Payne não foi aprovado nem mesmo pelos maníacos por games, mas ainda assim para eles a diversão pode ser ligeiramente maior, afinal quando estão no comando dos jogos brincam de certa forma de serem diretores e poderiam imaginar outros rumos para o filme. Para o público leigo, além da trama confusa e cansativa, o clima soturno da fita deve servir como um convite extra para uma soneca.

Ação - 99 min - 2008 

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Um comentário:

Rafael W. disse...

Apenas mediano.

http://cinelupinha.blogspot.com/