segunda-feira, 14 de dezembro de 2020

A CHAMADA


Nota 6,0 Críticas à manipulação tecnológica e ganância humana se esvaem em produção genérica


Já faz muito tempo que o celular deixou de ser apenas um meio de comunicação para quando as pessoas estão fora de casa. Muita gente já abandonou os telefones fixos e optou por ficar apenas com um ou mais aparelhos móveis, assim não raramente encontramos pessoas que chegam a dormir com eles ligados ou viciados que não conseguem mais ficar cinco minutos sem verificar ou enviar mensagens. Coitados dos operadores de telemarketing que simplesmente para cumprirem suas tarefas podem comprar brigas feias com os usuários que podem ser encontrados não apenas na intimidade do lar, mas também no trabalho ou na hora do lazer. É o preço da modernidade. E se uma dessas inconvenientes intervenções pudesse lhe enriquecer? Em tempos em que muita gente cai em golpes sedutores (você foi sorteado) ou angustiantes (manipular a pessoa dizendo que está com algum parente sequestrado) vem muito bem a calhar a premissa do suspense A Chamada que resvala na crítica a dependência da tecnologia, ganância do ser humano e soberania norte-americana aparentemente inabalável. 

O roteiro de Michael Nitsberg e Kevin Elders conta a história de Max Peterson (Shane West), um jovem engenheiro de computação que estava em Bangkok a trabalho e antes de deixar o hotel recebeu um embrulho misterioso. Na caixa havia um moderno celular, um modelo bem mais evoluído que os disponíveis no mercado, e logo depois chega uma mensagem de texto a respeito de uma promoção do hotel para os hóspedes prolongarem a estadia pelo fim de semana. Peterson resolve aproveitar o bônus e se surpreende com a coincidência que o avião em que voltaria para os EUA acabou caindo e não houve sobreviventes. Funcionários do hotel desconhecem tal comunicação e confiando que o celular lhe deu sorte o engenheiro decide seguir o conselho de um novo torpedo e segue para a República Tcheca onde na porta do aeroporto conhece Yuri Melinin (Bergey Gubanov), um rapaz que faz bicos como motorista e vende tudo quanto é bugiganga tecnológica, mas desconhece um modelo tão sofisticado de celular. Mesmo sem conseguir informações sobre o remetente das mensagens, Peterson começa a curtir o que está acontecendo quando passa a receber dicas de jogatinas. Ele vai até um cassino na cidade de Praga e segue as instruções para ir a determinadas máquinas e mesas e faz as apostas que lhe rendem uma boa grana, mas o pessoal da segurança liderado por John Reed (Edward Burns) está de olho pelas câmeras em suas estranhas movimentações. 


Obrigado a frequentar o local sem o celular, norma para evitar fraudes, o rapaz pede ajuda a Yuri para ele ficar com o aparelho e lhe passar as mensagens através de fone de ouvido, contudo, o destino parecia lhe dar um empurrãozinho. No hotel o engenheiro conhece por acaso a bela Kamila Martin (Tamara Feldman) que estava sendo agredida por um homem. Tentando separar a briga, Peterson é golpeado e desmaiado não percebe que a moça introduziu uma espécie de chip em seu celular, um recurso que decodifica mensagens de texto e repassa o conteúdo ao usuário através de mensagens de som. Com o fone e acreditando estar sendo ajudado por Yuri, mais uma vez Peterson prometia levar o cassino à bancarrota, mas agora os seguranças partiram para cima, porém, foram impedidos de capturá-lo graças a intervenção de Dave Grant (Ving Rhames), agente do FBI e antigo desafeto de Reed dos tempos em que o segurança fazia parte do alto escalão de investigadores. É a partir de agora que o rapaz começa a compreender que sem querer virou peça-chave de um misterioso esquema de corrupção. Grant tem informações de que o celular foi comprado com um cartão de crédito roubado e já de olho nos passos do usuário conseguiu interceptar uma de suas ligações para Yuri que na verdade é um conhecido hacker de Moscou e que poderia estar ligado a outros três casos semelhantes ao do engenheiro. O executivo de uma grande empresa de crédito, um corretor da bolsa de valores e uma importante figura do Departamento de Defesa dos EUA também engordaram suas contas bancárias através de dicas que conseguiram via torpedos, mas nenhum deles sobreviveu para usufruir dos lucros. 

Existe a suspeita que depois que as vítimas estão seduzidas pelo dinheiro fácil elas passam a ser manipuladas a aplicarem golpes mais audaciosos, planos que envolvem a invasão de privacidade dos usuários de internet, mas pouco tempo depois todos morrem em trágicos acidentes. Preocupado com o risco de fraudes virtuais, o dono do cassino, o Sr. Mueller (Jonathan Pryce), exige segurança máxima aos seus empreendimentos, que incluem também bancos, e Reed é obrigado a se unir a Grant para armarem um plano tendo Peterson como isca. Até a conclusão de que é preciso um ferrenho esquema de vigilância para se chegar à raiz do problema o diretor Greg Marcks consegue prender a atenção com uma trama ágil e intrigante, mas quando o FBI descobre o remetente dos torpedos as coisas começam a ficar confusas e entediantes. O que parecia ser um golpe de um engenhoso bandido acaba sendo creditado a um computador, isso mesmo, uma máquina equipada com um exclusivo software projetado para promover a proteção do território norte-americano filtrando a comunicação virtual de todo o planeta. Criado a pedido do próprio governo ianque, o invento batizado de Echelson tinha a ver principalmente com o receio de novos ataques terroristas, mas não foi aprovado. A maioria dos votantes justificou que o programa infringia o direito a liberdade inerente ao ser humano previsto na Constituição, mas alguém levou o projeto adiante e com má fé. 


Dotado de “vida própria”, o Echelson tinha o poder de se comunicar com qualquer pessoa, é óbvio que preferencialmente com gente envolvida no mercado financeiro ou ocupando cargos públicos de confiança. Peterson era um cara comum e deu azar, ou melhor, a bugiganga tecnológica é que deu azar.  Como engenheiro da computação, ele teria conhecimentos suficientes para desarmar o esquema, só precisaria chegar à fonte do problema, porém, o caminho é perigoso. O rapaz se vê caçado por uma quadrilha da qual também poderia fazer parte Kamilla e o próprio Yuri, criminosos que visavam causar um colapso financeiro nos EUA tendo acesso facilitado às contas bancárias de milhões de pessoas e assim abalar as estruturas do país. Pensar que um simples programa de computador poderia destruir uma nação merece uma reflexão, mas é uma pena que A Chamada não aprofunde o tema. O roteiro segue cheio de furos, situações mal ou forçosamente explicadas e salpicadas de tiroteios e perseguições. No final o diretor busca deixar uma profética mensagem ao criticar a soberania norte-americana e a obsessão do homem em querer brincar de Deus. Fica clara a mensagem de que nem tudo que o ser humano cria gera algo bom para si mesmo e a escravidão que muitos têm quanto a necessidade de tecnologia comprova a teoria, mas de qualquer forma a premissa poderia render algo bem mais elaborado e impactante.

Suspense - 105 min - 2009

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