Nota 2 O final, embora esquemático demais, é o que se salva de longa repulsivo e estranho
Romance, comédia, drama, ação ou simplesmente um lixo. É difícil dar um rótulo específico para O Dia Perfeito, dirigido por Mitch Rouse que divide os créditos do roteiro com Jay Leggett. Nem a última opção citada seria indicada, pois o filme não é necessariamente ruim, mas é um tanto esquisito. A trama começa com David Walsh (Matt Dillon) andando de ônibus e refletindo sobre os rumos que sua vida tomou e o medo que estava sentindo ao ter ao seu lado um homem com o rosto parcialmente queimado, o que lhe conferia um aspecto amedrontador. Todavia, o próprio protagonista sofre com esse problema, ainda que não de forma tão grave, e deveria pensar duas vezes antes de tecer comentários maldosos, mas essa introdução é irrelevante. Sim, a narração em off de Walsh diante deste estranho já denuncia que coisa boa não vem por aí e é o que vamos constando a cada nova cena.
A trama volta no tempo, mais especificamente 36 horas antes desta cena no ônibus, quando o rapaz comemorava seu noivado com Sara Goodwin (Christina Applegate), moça de família tradicional e bem financeiramente, o que impedia o noivo de expor certos hábitos como fumar, beber e falar palavras chulas para não desagradar os sogros, justamente àquilo que ele tinha total liberdade para fazer junto com o amigo Jack (Steve Zahn), um bobalhão que se esqueceu de crescer e é declaradamente contra casamentos e responsabilidades, mas uma coisa que diz é certa: Walsh está vestindo um personagem para agradar a sua nova família. Sua presença na festa sem ser convidado já gera certo estresse entre o casal, mas o inferno do noivo só está começando. Há quase dois anos ele trabalha em um prestigiado banco e parece se relacionar bem com todos e ser um funcionário exemplar, assim ele contava com uma promoção, mas para sua surpresa acaba sendo despedido faltando apenas um dia para completar o tempo mínimo de casa para ter direito a benefícios.
Walsh então terá que contar a péssima a notícia à Sara que logo mais a noite planeja um jantar com seus pais. Lá vem mais bomba. Chegando no restaurante, a moça lê uma estranhíssima e constrangedora carta na qual revela intimidades do casal para, no final, romper o noivado por conta de uma suspeita calcinha que encontrou no meio das roupas do rapaz. A solteirice de Walsh é festejada por Jack que já sonha com as noitadas de sexo e bebidas que poderia viver com o amigo junto a belas e liberais garotas, no entanto, o ex-noivo parece realmente abalado com a separação, ainda que confirme que nem sempre Sara o satisfazia na cama e ele recorria a colega de trabalho Wendy (Andrea Bendewald) para se aliviar. Sem namorada e nem emprego, Walsh decide jogar tudo para o alto e mostrar quem realmente é para todos aqueles a quem até poucas horas ele distribuía sorrisos e gentilezas. Assim, impulsivamente, o azarado invade o banco disposto a matar seu chefe, mas eis que um fato inesperado acontece.
É um pouco difícil se simpatizar com o personagem de Dillon, mas quando ele assume que sempre levou uma vida desregrada e o que o motivou a assumir outra personalidade para vencer na vida até que é possível se envolver um pouco mais com seu drama, mas já é tarde demais para esperarmos que vamos nos surpreender, pelo menos não de forma positiva. A conclusão realmente é inesperada, mas ganha contornos involuntários de humor devido a sua rapidez e esquematismo que chega a irritar, com direito a cenas nos créditos finais que possam explicar possíveis furos da trama que acaba seguindo ritmo de filme de ação envolvendo golpistas. Como diz o ditado quem ri por último ri melhor, mas a moral do longa é nos lembrar que o crime não compensa, embora ressalte a frieza do ser humano que tenta se dar bem mesmo em situações trágicas.
A espinha dorsal de O Dia Perfeito, um homem com traumas do passado tentando ser alguém na vida anulando seu verdadeiro eu para conseguir um bom trabalho e um casamento que lhe geraria benefícios sociais e financeiros, não é das piores, seria até bem tolerável ainda que o gancho romântico fosse extremamente frágil. O problema é que o personagem Jack é extremamente repugnante e desestimula o espectador que logo na primeira aparição do personagem já passa a acompanhar a trama com reticências. Drogado, desbocado, preconceituoso, sem limites, promíscuo e com uma bizarra atração por cadáveres, ele é literalmente aquele amigo que ninguém merece. Zahn já salvou algumas produções do marasmo, principalmente comédias, mas aqui ele funciona como uma verdadeira âncora e infelizmente sua participação está diretamente ligada aos demais eventos que regem a narrativa, assim compromete a obra como um todo.
Drama - 97 min - 2004
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