quinta-feira, 28 de maio de 2020

OS VAMPIROS QUE SE MORDAM


Nota 1 Longa repete fórmula e erros comuns das paródias que pegam carona no sucesso alheio


Comédias pastelões que tiram sarro de sucessos do cinema não são novidades faz tempo. Em 1991, Top Gang - Ases Muito Loucos já tirava uma onda com o megassucesso Top Gun - Ases Indomáveis. Anos depois, Todo Mundo em Pânico veio para satirizar as fitas de terror adolescentes e gerou continuações que zoaram até mesmo os controversos A Vila e Guerra dos Mundos. Em velocidade recorde produtores antenados tentam tirar uma casquinha de títulos que chamaram a atenção durante certa temporada e apesar de serem produções duvidosas, que abusam da inteligência do espectador, é fato que existe um público cativo para elas, agradando principalmente a crianças e adolescentes, ainda que as piadas em geral sejam impróprias para menores. Assim já fomos brindados com pérolas como Deu a Louca em Hollywood, Espartalhões e Super-Heróis - A Liga da Injustiça. Todos estes títulos tem coisas em comum. São dirigidos e roteirizados pela dupla Jason Friedberg e Aaron Seltzer e paródias que pegam carona em sucessos de época, o que explica o ostracismo precoce. É óbvio que a saga Crepúsculo não ficaria de fora dessa onda e antes mesmo da franquia ser encerrada a obra da escritora Stephenie Meyer já ganhou sua homenagem às avessas em Os Vampiros Que Se Mordam

Os dois primeiros capítulos da saga foram sugados ao máximo e ganharam suas versões escrachadas, embora as originais de forma involuntária já promovem risos fáceis. A trama tem como protagonista Becca Crane (Jenn Proske), uma adolescente que está recomeçando sua vida ao lado de Frank (Diedrich Bader), seu pai totalmente desbocado e nóia, em uma nova cidade e está extremamente ansiosa, afinal terá que enfrentar os problemas de se adaptar a rotina e ser aceita pelos colegas em um novo colégio. Logo no primeiro dia de aula ela se depara com tipos estranhos e fica sabendo de histórias sobrenaturais que acontecem por lá, mas nada que a impressione tanto quanto o pálido Edward Sullen (Matt Lanter), um jovem com pinta de galã por quem se apaixona imediatamente. A atração é recíproca, mas o rapaz esconde um segredo que o impede de se aproximar da moça. Sabemos bem qual é. A novata também faz amizade com Jacob White (Chris Riggi), outro garoto um tanto estranho, mas que também mexe com os sentimentos dela. Entre seus dilemas amorosos, a fase de integração à escola nova e o fato de ter de aprender a lidar com a falta de noção de seu pai, que a trata como uma criancinha e a expõe aos maiores micos, Becca mal sabe que algo pior pode lhe acontecer. 


Para muitos é incompreensível o sucesso deste tipo de produção, mas é certo que o valor humorístico delas depende muito do repertório cinematográfico e cultural do espectador, além do fator tempo geralmente pesar contra as mesmas tornando a maioria das piadas obsoletas rapidamente. Por serem recheadas de citações a outros filmes e até assunto reais ocorridos antes ou durante as filmagens viram matéria-prima, não escapando nem mesmo os micos vividos pelas celebridades, tais comédias inevitavelmente acabam ficando datadas, mas para quem tem boa memória ou riso frouxo a diversão continua garantida sem prazo de validade.  No filme em questão, fora uma ou outra piada, praticamente todas as cenas da caricata história de amor vivida pelos atores Kristen Stewart e Robert Pattinson na saga vampiresca ganhou sua versão escrachada.  Aliás, o elenco da paródia é bem mais expressivo que o original e até perspicaz visto que não deixam escapar nenhum dos trejeitos sonsos dos seus, digamos, homenageados. Para valorizar sua personagem, Proske soube utilizar todos os vícios da atuação de Stewart. A mordidinha nos lábios, o jeitinho de ajeitar o cabelo atrás da orelha e até a boca aberta em várias cenas em um misto de perfil de sonsa e libidinosa. Detalhe, a protagonista, em referências explícitas ao estilo da cantora Taylor Swift, nome então em evidência, interpela a trama cantarolando canções com letras que satirizam o martírio de adolescentes como ela, solitárias e esquisitas.

De qualquer forma, mesmo com alguns momentos engraçados pelo clima nonsense, Os Vampiros Que Se Mordam deixa a desejar, valendo um elogio apenas para o pessoal da cenografia e adereços que devem ter sofrido assistindo repetidas vezes os romances originais para não deixar escapar nenhum detalhe ao recriarem tal universo juvenil e fantasioso. No entanto, falta muita coisa a essa comédia para dizer que ela provoca boas gargalhadas. Provável que até mesmo os fãs de carteirinha desse tipo de humor não tenham aprovado totalmente o resultado final, uma bobagem que se escora em piadas clichês. Além de tripudiar a vontade em cima dos longas que servem como base, não faltam cenas idiotas de gente tropeçando ou dando cabeçadas, escatologia a torto e a direito, pois no fundo é um filme sobre vampiros sedentos por sangue e até por sexo, embora Edward faz de tudo para evitar transar com sua amada por sua condição de morto-vivo, mas ela com sua libido sempre em ebulição não tem pudores em tentá-lo. O título original, algo como "Vampiros Que Chupam", é bastante explícito e vai ao encontro direto com a proposta, ao contrário do escolhido no Brasil, bem mais ingênuo, porém, funcional. 


Como de costume, quem assiste ao trailer tem um resumão dos (poucos) melhores momentos. Praticamente todas as piadas relevantes constam nos teasers promocionais, algo problemático para uma produção que não chega nem a uma hora e meia de duração. Seguindo a cartilha de Friedberg-Seltzer, a maioria das cenas apresenta personagens travando diálogos inúteis em primeiro plano e ao fundo as verdadeiras piadas rolam, sempre com movimentos físicos exagerados como se o espectador não tivesse capacidade para compreender o que está vendo. Mais didático impossível e o amadorismo na direção beira o constrangedor. Fica difícil saber se as falhas são involuntárias ou fazem parte do projeto para acentuar o clima tosco. Felizmente, fomos poupados de continuações, embora uma tal de A Saga Molusco - Anoitecer tenha tentado dar continuidade ao martírio, mas ainda bem que sem sucesso. Em tempo: cheio de trejeitos, o ator Ken Jeong, de Se Beber Não Case, novamente rouba a cena como Daro, um personagem, digamos, bastante alegrinho.

Comédia - 82 min - 2010

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Um comentário:

renatocinema disse...

Fraco. Uma pena ter perdido tempo com esse filme. Uma lástima.