Nota 6,5 Suspense policial prende atenção com duas tramas paralelas violentas e impactantes

O ator Jean Reno
é uma espécie de Juliette Binoche da calças. Trabalha muito na França, assim
como também não lhe faltam convites para produções hollywoodianas. Ele é o
grande nome do suspense policial
Império
dos Lobos, produção do diretor francês Chris Nahon, de
O Beijo do Dragão, que recicla a velha
fórmula da caça a seriais killers. A trama escrita pelo próprio cineasta em
parceria com Christian Clavier e Franck Olliver, é uma adaptação do romance de
Jean-Christophe Grange, mesmo autor do livro “Rios Vermelhos”, que também
ganhou uma adaptação cinematográfica protagonizada por Reno que aqui da vida ao
policial aposentado Jean-Louis Schiffer. Na realidade este investigador foi
afastado do cargo e até sua carteira de motorista foi apreendida por conta de
um fato de seu passado. De qualquer forma, sua ajuda foi requisitada por Paul
Netteaux (Jocelyn Quivrin), um policial mais jovem que está às voltas com um
complicado caso. Existe a suspeita de que um assassino em série está a solta e
que já vitimou três imigrantes turcas, todas vivendo ilegalmente na França,
portanto, não há documentos para descobrir suas identidades. Em comum, todos os
corpos foram encontrados mutilados e com suas faces extremamente desfiguradas o
que leva a crer que o assassino faz isso como uma espécie de assinatura ou
ritual. Schiffer desconfia que o criminoso faz parte de uma máfia especializada
em imigrar pessoas ilegalmente e as venderem para trabalho escravo. O líder
seria Malek Dfessur (Vincent Grass), também conhecido como Marius, bandido
famoso na região, mas que acaba agindo com liberdade pelo medo que as pessoas
tem de denunciá-lo. A dupla de policiais então decide se infiltrar no submundo,
mas o modo violento de Schiffer agir bate de frente com o estilo mais racional
de Netteaux. Possivelmente tal agressividade é o motivo do veterano
investigador ter sido obrigado a aceitar uma aposentadoria forçada, mas Nahon
felizmente evita aqueles clichês envolvendo pessoas completamente opostas
obrigadas a trabalhar juntas levando com seriedade o entrosamento da dupla em
busca de um bem maior. O perfil dos atores também colabora para não existir um
choque visual e sim uma explosiva combinação entre astúcia e força bruta,
racionalidade e rapidez.

Paralela a essa
trama, acompanhamos também o sofrimento de Anna Heymes (Arly Jover), uma mulher
que sofre de terríveis alucinações, lapsos de memória e que não reconhece nem
mesmo Laurent (Philippe Bas), seu marido, a quem por vezes considera um
completo estranho. Por outro lado, outros rostos que ela não lembra a
identidade acabam por lhe causar um desconforto inexplicável. Preocupa com a
saúde mental da esposa, Laurent a submete a um inovador tratamento neurológico,
inclusive expondo-a a substâncias controladas pelo exército, mas Anna começa a
questionar que possa existir uma conspiração entre o marido e a equipe médica
para persuadi-la quanto a sua loucura. Ela procura a ajuda da psicóloga
Mathilde (Laura Morante) e juntas tentam encontrar razões lógicas para esses problemas
mentais, mas jamais podiam imaginar o que iam descobrir. Tal qual a trama do
livro, o gancho policial e o drama particular de Anna vão sendo narrados
alternadamente até que os dois se encontram e culminam em um desfecho
perturbador ao revelar a que ponto chega a maldade do ser humano.
Império dos Lobos pode não envolver
o espectador logo pelos primeiros minutos, mas quem se esforçar certamente terá
uma agradável surpresa e mais uma vez ter a chance de desmistificar a ideia de
que filme francês é chato. Aliás, a indústria de cinema do país está cada vez
mais se especializando em produções de orçamento baixo, mas com ares de
superprodução. Neste caso não temos apenas um bom enredo que recicla clichês
com perfeição, mas também uma história com fundo político e social relevantes.
Além da ambientação soturna, vale a ressalva para as fortes cenas de violência,
uma forma de mostrar que por trás de toda beleza que costumamos associar à
França existe um submundo tão cruel quanto o que acostumamos a ver nos subúrbios
retratados nos filmes norte-americanos. Realmente esta é uma produção que
mostra que os franceses estão no caminho certo para competir no mercado
cinematográfico mundial, pena que o preconceito enraizado nas massas fez com
que este trabalho tenha sido lançado diretamente em DVD em brancas nuvens.
Encontrá-lo hoje para venda ou aluguel é raro, mas vale a pena insistir.
Suspense - 128 min - 2005
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