quinta-feira, 14 de maio de 2015

O VENCEDOR (2010)

NOTA 8,0

Drama real vivido por dupla
de irmãos que encontraram
no boxe a chance de mudar de
vida emociona com sua verdade
Que o mundo dos esportes é uma inesgotável e até repetitiva fonte de ideias para o cinema isso todo mundo já está cansado de saber, mas é curioso como fórmulas requentadas ainda dão certo. Por exemplo, filmes sobre boxe geralmente se equilibram entre a violência e a mensagem edificante de mudança de vida através de uma atividade esportiva. Esse tipo de produção tem seu público cativo. Há quem goste de ver dois homens ou até mulheres trocando sopapos e pingando suor, mas quando a briga tem por trás um bom drama, então o público desse tipo de filme infla. Esse é o caso de O Vencedor que certamente ganhou notoriedade graças as suas sete indicações ao Oscar. Sem elas provável que o longa seria lembrado como apenas mais um entre tantos outros filmes sobre boxe. Aliás, a Academia de Cinema parece ser atraída por este esporte, já tendo premiado como melhor filme no passado Rocky - Um Lutador e Menina de Ouro, além de lembrar de obras do tipo em outras categorias e por diversas vezes. O trabalho em questão do diretor David O. Russell é baseado na história real de dois irmãos que se encontraram em situações opostas em certo momento da vida, uma excelente e cativante narrativa mostrando a queda de um deles e a ascensão no esporte do outro. A trama se passa em meados dos anos 90, quando Dicky Ecklund (Christian Bale) teve seu auge profissional ao enfrentar o campeão mundial Sugar Ray Leonard em uma luta de boxe, assim colocando a pequena cidade de Loweel, nos EUA, no mapa. Apesar da fama, ele acabou desperdiçando a carreira ao se envolver com o mundo das drogas e crimes, o que o levou à prisão diversas vezes. Agora, Micky Ward (Mark Wahlberg), seu irmão mais novo, quer tentar a sorte nesse esporte e passa a ser empresariado pela própria mãe, Alice (Melissa Leo), uma mulher extremamente controladora. Porém, a família sempre se preocupa mais com Dicky, assim Micky é deixado em segundo plano e sente dificuldades para ascender na nova carreira e vai em busca de ajuda fora do seu núcleo familiar. A situação muda quando ele passa a namorar Charlene (Amy Adams), que o incentiva a se livrar da influência da mãe. Batendo de frente com os planos de Alice, Micky segue os conselhos da namorada, mas o retorno de Dicky após mais uma estadia na cadeia o deixa cheio de dúvidas sobre o que fazer com sua vida profissional. Contudo, o ex-detento também fica em uma situação parecida, não sabendo como conduzir sua vida longe dos atos ilegais.

O longa roteirizado por Scott Silver já começa bem utilizando a metalinguagem mostrando um fictício documentário produzido pelo canal HBO sobre a vida do ex-lutador Dicky Ecklund. Os demais personagens assistem ao vídeo com decepção, mas a estrela do programa, que para variar estava na prisão, finalmente se toca do que fez com sua vida, de tudo que jogou fora e decide mudar, o que implicará em mudanças em seu núcleo familiar e é justamente por adotar esse viés que a narrativa consegue sair do lugar comum e se aproximar do espectador mais facilmente. Russell, que até então tinha no currículo como trabalho mais famoso Três Reis, felizmente opta por conduzir sua narrativa sem recorrer às cenas de ringue para tentar preencher lacunas. Sua condução é sucinta, interessante e em nenhum momento percebemos barrigas no texto, aquelas situações que são arranjadas claramente para espichar o trabalho, mas que no fundo não tem muita serventia. Não vemos em cena apenas lutas cujo objetivo é conseguir um troféu ou uma medalha, mas vemos dois irmãos lutando contra as adversidades, apesar de aparentemente um deles estar um passo adiante do outro. É apenas impressão. Se o irmão torto teve sua carreira barrada a força devido a problemas com vícios e atividades ilegais, o outro não consegue decolar profissionalmente graças as interferências que sofre da família. O núcleo familiar desses rapazes é por vezes irritante, um feito e tanto de Melissa vivendo a mãe controladora que deseja chefiar a carreira de ambos os filhos, mas mantendo o primogênito em primeiro lugar. A atriz ganhou muitos prêmios pelo papel, inclusive o Oscar de coadjuvante, categoria na qual Amy também se destacou concorrendo com a colega de elenco. Ela é responsável pela virada na vida do personagem de Wahlberg e tem a coragem de dizer poucas e boas para a futura sogra, concretizando o desejo de muitos espectadores a certa altura do campeonato. Praticamente ela diz o que o público gostaria de extravasar.

Contando com um quarteto de peso encabeçando o elenco, pode parecer que alguns personagens secundários são desnecessários, mas nos eventos da vida real eles tiveram sua importância e o roteiro foi respeitoso e não os omitiu. Falando em realidade, o tom documental dado a obra, a começar pelo recurso da metalinguagem como já dito, deixa tudo muito mais vívido e crível, afastando a impressão ruim que porventura outros filmes do tipo possam ter deixado em alguns espectadores. Até mesmo quem não curte boxe deve dar o braço a torcer. Tudo neste longa funciona perfeitamente e as quase duas horas de duração passam em um piscar de olhos. A única coisa que não se encaixa muito bem é o fato de não ter um protagonista claramente definido. A produção é vendida como uma biografia do pugilista 'Irish' Mick Ward, mas o personagem parece muito pequeno diante da força e entusiasmo do irmão. Bale é tão protagonista quanto Wahlberg, mas acabou sendo indicado como secundário para aumentar suas chances nas premiações. A manobra deu certo e rendeu até um destaque extra para o ator no material publicitário. Para muitos este é apenas mais um filme sobre boxe, mas certamente estas pessoas ouviram o galo cantar, mas não sabem onde. Entre sopapos, suor, gritaria e ânimos exaltados, o que temos é uma bela história sobre duas pessoas que se unem para serem campeões. Se um destruiu em partes sua vida com suas próprias mãos, o outro espera que alguém construa a sua como bem desejar. Se um se conforma que já está velho demais para voltar aos ringues, ao menos enxerga na dificuldade a oportunidade de resgatar um pouco do que perdeu investindo no talento do irmão, este que não confia totalmente em si mesmo, mas se dá uma chance de provar que pode caminhar com as próprias pernas. Confrontando medos, desafios e o julgamento da sociedade e da própria família, O Vencedor é uma bela lição em diversos sentidos. Aprendemos que é preciso tomar as rédeas da própria vida para conseguirmos o que queremos.  Que a célebre idéia da família ser a base da vida de um indivíduo é levada a sério demais por certas pessoas chegando ao ponto de mais atrapalhar que ajudar. Não podemos nos deixar abater devido a tropeços ou dificuldades. Cair e levantar faz parte do crescimento de todos desde que nascemos e são situações fundamentais na trajetória de qualquer um que deseja ser realmente um vencedor. Curiosidade: assista os créditos finais para verem os comentários do Dicky e Micky da vida real.

Vencedor do Oscar de ator coadjuvante (Christian Bale) e atriz coadjuvante (Melissa Leo)

Drama - 115 min - 2010 

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Um comentário:

Rafael W. disse...

Excelente filme. Um tanto convencional, mas bastante sincero no que mostra, e com atuações excepcionais. Bale e Leo mereceram o Oscar, disso não resta dúvidas.

http://cinelupinha.blogspot.com/