NOTA 7,0 Comédia em estilo road movie tem protagonistas que cativam, mas roteiro é irregular e previsível |
Protagonistas com um pé na adolescência e outro na vida
adulta, personalidades conflitantes, uma longa viagem e piadas envolvendo
drogas e comportamento questionável. Você achou esse resumo muito parecido com
a sinopse do já citado Se Beber Não Case? Não devem ser meras coincidências. O
diretor dos dois longas é Todd Phillips que seguiu a máxima de que em time que
está ganhando não se mexe. Além de manter o espírito da fraternidade masculina
em evidência e oferecer às mulheres os papéis coadjuvantes e, diga-se de
passagem, menos interessantes, o diretor tratou de trabalhar mais uma vez com o
rechonchudo Galifianakis cujo perfil é perfeito para fazer o gordinho sem noção
que há décadas é figurinha carimbada em comédias. Aliás, o cinema de Phillips é
carregado de referências à produções de humor dos anos 70 e 80, mas neste caso
ele bebeu uma dose extra de nostalgia e se baseou no longa Antes Só do Que Mal
Acompanhado, de 1987, protagonizado por Steve Martin e John Candy no qual dois
homens completamente diferentes cuja única semelhança é o medo de avião
precisam se unir para fazerem uma viagem. As premissas de ambas as produções
são parecidas, mas nesta homenagem ao longa oitentista, digamos assim, a dupla
principal ganha a companhia de um cachorro um tanto safado e das cinzas do pai
de Tremblay armazenadas em uma lata de café que o rapaz carrega para cima e
para baixo. De qualquer forma o filme não é inovador, pelo contrário, algumas
piadas são previsíveis, mas também está longe de lembrar uma anárquica sessão
da tarde dos tempos em que o politicamente incorreto não sofria tanta pressão
da censura. É perceptível que a narrativa se alterna entre momentos inspirados
e outros de pura enrolação, algumas boas sequências de humor e outras de baixo
nível. Essa falta de unidade do roteiro muito provavelmente se deve ao fato
dele ter sido escrito por Adam Sztykiel, Alan R. Cohen, Alan Freedland e pelo
próprio Phillips, ou seja, muita cabeça pensando em um mesmo produto e cada
qual com sua maneira de imaginá-lo. Caberia ao cineasta dar o tapa final na
história para encaixar tudo da melhor forma possível, mas parece que para ele o
que vale mais é a piada em si do que sua adequação ao enredo, todavia, ele se
mostra mais comportado desta vez do que em seu trabalho anterior. Bem, um
pouquinho só.
O que rende a esta comédia alguns elogios e a coloca em um
patamar um pouco acima do regular é sem dúvida a interpretação de seus
protagonistas, dois homens completamente antagônicos em se tratando do tipo
físico e modo de agir, porém, idênticos no sentimentalismo, uma característica
marcante de um e introvertida do outro. Vivendo o ápice de sua carreira
carregando duas franquias de sucesso em seu currículo, Homem de Ferro e Sherlock
Holmes, Downey tira de letra interpretar um cara comum tentando manter a
serenidade em meio a um amontoado de loucuras e não se importa nem mesmo com uma
ou outra piada sobre drogas, um envolvimento que quase terminou com a carreira
e quiçá com a vida do astro. Já Galifianakis é quem se saiu melhor desta
história colhendo elogios por sua espécie de recriação do personagem Peter Pan.
Tremblay parece agir como uma criança que não quis crescer. Em vários momentos
parece encantado com qualquer bobagem que lhe sirva para passar o tempo, mas
quando precisa encarar problemas do mundo dos adultos se mostra aterrorizado ou
finge tal sentimento, afinal para algumas coisas que não condizem com sua
“idade mental” ele é bem espertinho. Embora o personagem fatalmente caia nas
graças de boa parte do público, é inegável que em alguns momentos é impossível
não odiá-lo com tanta perturbação que ele causa e sua incoerência de
personalidade também não deve passar batida por olhares mais atentos. As
diferenças entre a sisudez de um e a calmaria do outro ajudam a criar situações
cômicas e fazer a dupla funcionar, mas a trajetória dos personagens acaba por
negar algumas das piadas. Se boa parte do roteiro é dedicada ao humor
politicamente incorreto, como Highman agredindo uma criança, a conclusão com um
discurso meloso e selando a paz entre os parceiros de viagem soa um pouco
estranha, mas é totalmente cabível quando lembramos que o filme é bancado por
um dos maiores estúdios de Hollywood onde as lições de moral e os bons costumes
estão sempre em voga. De qualquer forma, Um Parto de Viagem garante uma
diversão sadia que não ofende (pelo menos não tanto) a inteligência do
espectador, mas que já mostra sinais de desgaste da fórmula dos filmes
protagonizados por “garotões” de meia idade. Pelo menos aqui não temos o batido
viés do cara em crise sem saber o que será de seu futuro ou lamentando que não
leva mais a vida que tinha na adolescência. Vale um voto de confiança.
Comédia - 100 min - 2010
2 comentários:
O que achei mais interessante neste filme foi o personagem Ethan que estava entre um cara plenamente fora da realidade e a inocência total. Além do cachorrinho que imitava os hábitos do dono.
Ainda não assisti esse filme, mas vou faze-lo.
Robert Downey Jr. fez Chaplin, nos anos 90. Uma das grandes interpretações desse ótimo ator.
Um abraço
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