segunda-feira, 11 de maio de 2015

UM PARTO DE VIAGEM

NOTA 7,0

Comédia em estilo road
movie tem protagonistas
que cativam, mas roteiro é
irregular e previsível
Adam Sandler, Owen Wilson, Vince Vaughn e tantos outros atores que fizeram fama apostando no humor já não são mais garotões de vinte e poucos anos e certamente precisaram reinventar seu estilo de fazer comédia de forma a acompanhar a nova etapa de suas vidas, a meia idade. Por outro lado, os comediantes Steve Carell e Zach Galifianakis, por exemplo, sentiram o sabor do sucesso já na casa dos trinta anos. A partir de meados da primeira década do século 21, filmes que colocam marmanjos metidos em confusões tornaram-se moda e a produtora Warner é uma das empresas cinematográficas que mais se aproveitou desta oportunidade, até porque investe pesado em seriados de TV com temáticas humorísticas feitas por trintões e justamente para agradar o público dessa faixa etária. Após lançar Se Beber Não Case, Juntos Por Acaso e outras “comédias adultas”, cujos protagonistas ainda podem manter na aparência o frescor e a beleza da jovialidade, porém, oscilam entre a irresponsabilidade da adolescência e o amadurecimento forçado, a produtora apostou suas fichas em Um Parto de Viagem, um amalucado road movie que coloca o regenerado Robert Downey Jr. passando por diversos sufocos durante uma longa travessia de carro e ainda tirando um sarro do seu histórico de experiência com drogas. Peter Highman (Downey) é um arquiteto que está voltando de uma viagem de negócios e que está na euforia do nascimento de seu primeiro filho. Para acompanhar o parto ele tem exatos cinco dias para chegar a Atlanta, algo que um simples vôo de avião resolveria em poucas horas, porém, ele não contava com certos contratempos. Devido a um mal-entendido no avião, o caminho de Highman é cruzado pelo aspirante a ator Ethan Tremblay (Galifianakis), um cara um tanto inconveniente que vai deixar o arquiteto fora do sério. Os dois são proibidos de voar em qualquer vôo disponível e para piorar Highman perde seus documentos e se vê obrigado a aceitar uma carona oferecida por Tremblay, a única saída para chegar a tempo do nascimento de seu filho. A dúvida é saber se o mais novo chefe de família do pedaço vai sobreviver a esta viagem repleta de confusões que irão testar sua paciência.
Protagonistas com um pé na adolescência e outro na vida adulta, personalidades conflitantes, uma longa viagem e piadas envolvendo drogas e comportamento questionável. Você achou esse resumo muito parecido com a sinopse do já citado Se Beber Não Case? Não devem ser meras coincidências. O diretor dos dois longas é Todd Phillips que seguiu a máxima de que em time que está ganhando não se mexe. Além de manter o espírito da fraternidade masculina em evidência e oferecer às mulheres os papéis coadjuvantes e, diga-se de passagem, menos interessantes, o diretor tratou de trabalhar mais uma vez com o rechonchudo Galifianakis cujo perfil é perfeito para fazer o gordinho sem noção que há décadas é figurinha carimbada em comédias. Aliás, o cinema de Phillips é carregado de referências à produções de humor dos anos 70 e 80, mas neste caso ele bebeu uma dose extra de nostalgia e se baseou no longa Antes Só do Que Mal Acompanhado, de 1987, protagonizado por Steve Martin e John Candy no qual dois homens completamente diferentes cuja única semelhança é o medo de avião precisam se unir para fazerem uma viagem. As premissas de ambas as produções são parecidas, mas nesta homenagem ao longa oitentista, digamos assim, a dupla principal ganha a companhia de um cachorro um tanto safado e das cinzas do pai de Tremblay armazenadas em uma lata de café que o rapaz carrega para cima e para baixo. De qualquer forma o filme não é inovador, pelo contrário, algumas piadas são previsíveis, mas também está longe de lembrar uma anárquica sessão da tarde dos tempos em que o politicamente incorreto não sofria tanta pressão da censura. É perceptível que a narrativa se alterna entre momentos inspirados e outros de pura enrolação, algumas boas sequências de humor e outras de baixo nível. Essa falta de unidade do roteiro muito provavelmente se deve ao fato dele ter sido escrito por Adam Sztykiel, Alan R. Cohen, Alan Freedland e pelo próprio Phillips, ou seja, muita cabeça pensando em um mesmo produto e cada qual com sua maneira de imaginá-lo. Caberia ao cineasta dar o tapa final na história para encaixar tudo da melhor forma possível, mas parece que para ele o que vale mais é a piada em si do que sua adequação ao enredo, todavia, ele se mostra mais comportado desta vez do que em seu trabalho anterior. Bem, um pouquinho só.
O que rende a esta comédia alguns elogios e a coloca em um patamar um pouco acima do regular é sem dúvida a interpretação de seus protagonistas, dois homens completamente antagônicos em se tratando do tipo físico e modo de agir, porém, idênticos no sentimentalismo, uma característica marcante de um e introvertida do outro. Vivendo o ápice de sua carreira carregando duas franquias de sucesso em seu currículo, Homem de Ferro e Sherlock Holmes, Downey tira de letra interpretar um cara comum tentando manter a serenidade em meio a um amontoado de loucuras e não se importa nem mesmo com uma ou outra piada sobre drogas, um envolvimento que quase terminou com a carreira e quiçá com a vida do astro. Já Galifianakis é quem se saiu melhor desta história colhendo elogios por sua espécie de recriação do personagem Peter Pan. Tremblay parece agir como uma criança que não quis crescer. Em vários momentos parece encantado com qualquer bobagem que lhe sirva para passar o tempo, mas quando precisa encarar problemas do mundo dos adultos se mostra aterrorizado ou finge tal sentimento, afinal para algumas coisas que não condizem com sua “idade mental” ele é bem espertinho. Embora o personagem fatalmente caia nas graças de boa parte do público, é inegável que em alguns momentos é impossível não odiá-lo com tanta perturbação que ele causa e sua incoerência de personalidade também não deve passar batida por olhares mais atentos. As diferenças entre a sisudez de um e a calmaria do outro ajudam a criar situações cômicas e fazer a dupla funcionar, mas a trajetória dos personagens acaba por negar algumas das piadas. Se boa parte do roteiro é dedicada ao humor politicamente incorreto, como Highman agredindo uma criança, a conclusão com um discurso meloso e selando a paz entre os parceiros de viagem soa um pouco estranha, mas é totalmente cabível quando lembramos que o filme é bancado por um dos maiores estúdios de Hollywood onde as lições de moral e os bons costumes estão sempre em voga. De qualquer forma, Um Parto de Viagem garante uma diversão sadia que não ofende (pelo menos não tanto) a inteligência do espectador, mas que já mostra sinais de desgaste da fórmula dos filmes protagonizados por “garotões” de meia idade. Pelo menos aqui não temos o batido viés do cara em crise sem saber o que será de seu futuro ou lamentando que não leva mais a vida que tinha na adolescência. Vale um voto de confiança.
Comédia - 100 min - 2010 

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2 comentários:

Marcos Rosa disse...

O que achei mais interessante neste filme foi o personagem Ethan que estava entre um cara plenamente fora da realidade e a inocência total. Além do cachorrinho que imitava os hábitos do dono.

Wil disse...

Ainda não assisti esse filme, mas vou faze-lo.
Robert Downey Jr. fez Chaplin, nos anos 90. Uma das grandes interpretações desse ótimo ator.
Um abraço