quarta-feira, 14 de outubro de 2015

A MORTE E A VIDA DE CHARLIE

NOTA 7,0

Zac Efron busca provar
que é bom ator investindo
em drama com temática
espírita para adolescentes
Filmes que abordam o tema espiritismo geralmente pertencem aos gêneros de terror e suspense, mas parece que a onda dos dramas acerca dos mistérios do além ultrapassou as fronteiras brasileiras. As obras adaptadas ou sobre a vida do médium Chico Xavier viraram uma febre nacional, mas a relação entre vivos e mortos levada a sério ganhou caráter internacional e chegou até o público adolescente com A Morte e a Vida de Charlie tendo como garoto propaganda o ídolo teen Zac Efron. Ele vive Charlie, um jovem que sempre se deu muito bem com Sam (Charlie Tahan), seu irmão mais novo. Ambos compartilhavam a paixão pelos esportes e eram grandes amigos. Prestes a passar por mudanças em sua vida, Charlie firma um compromisso com o caçula da família: todos os dias no final da tarde eles iam se encontrar em uma clareira na floresta para treinarem beisebol. Porém, um trágico acidente de carro vitimou Sam e os separou fisicamente, mas não espiritualmente. A ligação entre eles é tão forte que ainda conseguem manter contato mesmo após o fatídico acidente sempre no mesmo local de encontro combinado ainda em vida. Charlie se sente responsável pela tragédia e tornou-se recluso, abandonando seu futuro para trabalhar no cemitério da pequena cidade. Ao reencontrar uma amiga do passado, Tess (Amanda Crew), ele sente uma forte atração por ela e sua vontade de viver ganha um impulso, mas a atenção que dispensa à garota desagrada o espírito do irmão que se sente então abandonado. Agora, Charlie precisa se decidir entre manter a promessa que fez ao seu grande parceiro de nunca mais o abandonar ou aproveitar a chance que ganhou do amor para dar um novo rumo para a sua vida. Porém, outra surpresa será reservada ao jovem pelo destino.

Baseado no livro “The Death and the Life of Charlie St. Cloud”, do jornalista Ben Sherwood, a história, com uma ambientação e fotografia de encher os olhos, é um drama romântico leve com premissa interessante, mas que não empolga totalmente. O pano de fundo é a questão familiar e a dificuldade em se desvencilhar do passado, mas tais aspectos acabam sendo tratados de forma irregular pelo roteiro de Lewis Colick e Craig Pearce. Ok, por ser um trabalho destinado a adolescentes até que o resultado final é bem acima da média, mas o drama vivido pelo protagonista renderia muito mais. O conflito existencial que leva Charlie a se prender ao passado pela culpa que sente e a dúvida em seguir sua vida em frente quando uma nova oportunidade bate à sua parte é demonstrado de forma pouco envolvente por Efron. Percebe-se que o jovem ator tentou dar o melhor de si, mas sua imagem e visual ainda estão muito ligados a produções infanto-juvenis, o que atrapalha um pouco, a não ser que você seja uma fã adolescente que só quer ver o filme por causa do astro. Bem, pelo menos ele está tentando trilhar novos caminhos para sua carreira e mostra que está empenhado, inclusive abriu mão da refilmagem de Footloose para evitar ficar marcado pelos musicais. Ponto para ele que se livrou de um projeto que passou em brancas nuvens. Falando em anos 80, fica nítido que este drama espírita tentou resgatar um pouco da essência dos clássicos teens lançados há cerca de trinta anos. Os personagens principais são jovens, a cidade onde vivem é bucólica, o protagonista respeita a família e compromissos e não há o estereótipo do adolescente rebelde que se droga e bebe para esquecer problemas ou afrontar seus pais. Os diretores John Hughes (já falecido), Richard Donner e Chris Columbus eram mestres na arte de se comunicar com os jovens daquela época. Agora, entre outros diretores, Burr Steers tenta ser o porta-voz da nova geração. Após uma frustrada carreira como ator na década de 1990, ele teve uma estréia promissora como cineasta e roteirista pelo elogiado A Estranha Família de Igby, mas seu reconhecimento veio com 17 Outra Vez, projeto de humor calcado na nostalgia explícita e protagonizado também por Efron. Já a segunda parceria entre eles deixou a desejar.
 
Até o momento em que o acidente com os irmãos ocorre a trama causa expectativas. Logo depois, a tendência é que a atenção disperse, pois o roteiro linear não abre brechas para surpresas, nem mesmo quando um segredo importante envolvendo o novo amor de Charlie é revelado. Aliás, é justamente no segundo ato que a produção desanda. As dúvidas do protagonista passam a cansar o espectador e o grande problema desta história é justamente não ter um clímax bem colocado. Chama a atenção também um erro grave de composição de personagem. Se Charlie passou cerca de cinco anos com depressão e abdicando de sua própria vida para cultivar lembranças e culpas, como ele pode estar fisicamente tão bem? Quem vive tal situação não liga para aparência, assim aparar os cabelos e se exercitar são coisas que não condizem com o perfil de um depressivo. Mudanças físicas são necessárias para compor tipos críveis e colaboram para o próprio ator ganhar um reconhecimento extra. Mesmo com alguns deslizes e roteiro pouco explorado, todavia, A Morte e a Vida de Charlie não é uma obra ruim, longe disso. Simplesmente ela é correta e está no patamar dos produtos aceitáveis, ou seja, é mais uma entre milhares. Infelizmente, os veteranos Ray Liotta e Kim Basinger fazem apenas pontas de luxo, mas se tivessem a participação ampliada poderiam acrescentar uma carga dramática maior à história. Provável que não seja lembrado futuramente pelo título que faz uma alusão ao estado de espírito do protagonista em fases distintas de sua existência, mas fique conhecido como o "drama do carinha do High School Musical". De qualquer maneira, uma diversão de bom gosto e com um algo a mais para platéias que ainda estão vivendo a transição entre a fase infantil e a adolescência, mas nada prejudicial aos adultos.

Drama - 99 min - 2010 

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2 comentários:

renatocinema disse...

Discordo......acho uma obra ruim sim.

Roteiro previsível e atuações abaixo de qualquer média.

Mas, gosto pessoal.

Guilherme Z. disse...

Então Renato, eu escrevi que o filme não é ruim vendo pelo lado do seu público alvo, ou seja, as platéias que buscam apenas se distrair, mas obviamente é ruim vendo com olhos mais críticos, pois realmente não inova, não surpreende... Simplesmente, mais do mesmo.