terça-feira, 6 de setembro de 2016

A MINHA VERSÃO DO AMOR

NOTA 6,0

Longa acompanha os tropeços da
vida de um homem comum por três
décadas em busca do amor pleno,
 mas trama por vezes é tediosa
Todos fazem planos para o futuro, sejam eles de qualquer espécie, e é ótimo alimentá-los diariamente, mas é duro reconhecer quando eles não se concretizam na época em que deveriam, porém, isso não quer dizer que seja preciso os abandonar, tampouco fechar os olhos para o presente. Esse é o grande foco de Minha Versão do Amor, drama com toques de humor adaptado do romance “Barney’s Version”, do canadense Mordechai Richler que se baseou em suas próprias memórias de vida para escrever uma de suas últimas obras antes vir a falecer em 2001. O projeto de adaptação para o cinema demorou doze anos para se tornar realidade, talvez pela dificuldade em encontrar o tom certo para equilibrar comédia e drama, afinal de contas o essencial deveria ser preservado: a lição de vida de um homem apaixonado e sonhador. O roteiro de Michael Konyves acompanha três décadas da vida de Barney Panofsky (Paul Giamatti), empresário judeu do ramo televisivo no Canadá, mais especificamente ele é produtor de novelas. Aliás, sua vida renderia um belo folhetim. Aos 65 anos de idade ele se vê sozinho, doente e obrigado a relembrar seu passado cheio de tropeços, característica que acaba aproximando o espectador de seu universo, afinal ele é um homem comum com qualidades e defeitos que tentou sempre buscar a plena felicidade, mas descobriu que a vida perfeita é um sonho impossível. Suas memórias são relatadas sob seu próprio ponto de vista, assim o personagem fica livre de julgamentos dos demais, o que também justifica o título nacional. Ele se casou três vezes e em cada relacionamento teve uma versão diferenciada a respeito do amor. A viagem no tempo começa quanto ele tinha seus 30 e poucos anos e vivia na Itália sonhando em fazer sucesso no meio cultural, mas ele acabou indo parar no ramo do comércio. O trabalho em si não era ruim, pelo contrário, uma ocupação digna e que lhe dava um rendimento financeiro razoável, mas a inquietação em ver o seu sonho ficar cada vez mais distante o deixava tristonho as vezes. Se acostumar com tal situação tornou-se ainda mais essencial quando descobriu que sua namorada Clara (Rachelle Lefevre) estava grávida. Muito íntegro, ele não pensou duas vezes antes de pedi-la em casamento e assumir suas responsabilidades, ainda que seus amigos o tivessem alertado que a noiva não era nenhuma santa, aliás, seu comportamento esfuziante já dava dicas de seu real caráter, mas na época seguir convenções da sociedade era primordial para um homem de verdade.

A união com Clara não chegou a durar um ano, sendo que o casamento foi desfeito assim que o bebê nasceu e não havia justificativas para a jovem tentar enrolar o marido nem rezando para tudo quanto é santo. A partir deste fato, Panofsky passou a ver a vida de maneira diferente e que devia se acostumar com aquilo que ela poderia lhe oferecer, não necessariamente que seriam coisas boas. No entanto, ele se muda para Montreal por conta de uma nova proposta de emprego, ainda que mais uma vez não fosse o trabalho de seus sonhos. No novo endereço ele conhece a sua segunda esposa (Minnie Driver, cujo personagem não tem nome mencionado), uma solteirona meio enojada, mas que parecia gostar do judeu de verdade. Por uma brincadeira do destino, Panofsky acaba conhecendo a verdadeira sensação de amar alguém justamente no dia de seu casamento, mas não um sentimento despertado por sua noiva, mas sim um inesperado apreço que passa a nutrir por uma das convidadas da festa, Miriam (Rosamund Pike), a quem ele paquera e no mesmo dia propõe que fujam juntos. Diante da recusa da moça, o frustrado recém-casado procura conviver bem com a esposa, mas não consegue esquecer seu verdadeiro amor e está disposto a conquistá-la a todo custo. A certeza que a mulher da sua vida surgiu no momento errado poderia romancear demais a história, mas o diretor Richard J. Lewis prefere seguir outro caminho. Desde o cortejo à sua nova pretendente até chegar a trair seus ideais para vivenciar o desejo de pela primeira vez amar e ser amado de verdade, o longa se apóia nas transformações pelas quais o protagonista passa, um amadurecimento proporcionado por seus erros e decepções, algo visível não só pelo visual do personagem, mas também pela intensidade da interpretação de Giamatti que consegue dar a tônica certa para cada fase de seu papel, privilegiando o entusiasmo da juventude e a melancolia da velhice. O ator, para variar, aparece super natural em cena como se ele não se adaptasse para o trabalho, mas sim o personagem é quem era enriquecido com as experiências de seu intérprete. Sua atuação é ainda melhor quando ele está dialogando com Dustin Hoffman que vive o Sr. Izzy, seu pai, travando diálogos sensacionais, cheios de ironia. O veterano ator consegue arrancar risadas do espectador só com sua aparição em cena, sempre com aquele sorrisinho sacana nos lábios como se estivesse debochando de alguém ou alguma situação. E quando ele abre a boca quase sempre temos a constatação que realmente não tem papas na língua.

Pela forma que iniciou todos os seus relacionamentos amorosos, a premissa pode vender a ideia de uma comédia romântica convencional, mas o viés dramático adotado no ato final colabora para a obra fugir da obviedade. A proximidade da velhice, os problemas que ela implica e a explicação do por que do último relacionamento não ter sido eterno como prometia dão a tônica da reta final. Uma relação a dois não se sustenta apenas com amor, até porque o cotidiano ajuda a dissipá-lo e cobrar cada vez mais dedicação, respeito entre outras coisas de ambos os lados. Panofsky é como um anti-herói. Embora faça tudo por amor, suas ações contraditórias ou impulsivas o fazem meter os pés pelas mãos inúmeras vezes e isso acabou, por exemplo, com seu segundo casamento, um dos momentos mais cômicos da trama. A esposa descobriu que o marido estava mandando presentinhos para uma moça em outra cidade e resolveu pagar a traição com a mesma moeda. Boggie (Scott Speedman), melhor amigo do judeu, não tinha intenções premeditadas para ajudá-lo a terminar esse casamento, mas deu uma mãozinha e tanto. Aliás, a trama tem início justamente porque o protagonista revê sua trajetória de vida a partir do momento em que toma conhecimento que um policial aposentado escreveu um livro sobre o desaparecimento de Boogie há anos atrás, mistério que perdura a quase três décadas. Paixões, traições, brigas, é a soma desses eventos e tantos outros que resultou na figura do protagonista, um idoso rancoroso, cheio de manias, irônico, mas que no fundo tem um bom coração. O que o impede de ser feliz no momento é que ele próprio não se perdoa por ter feito coisas erradas, principalmente ter estragado seu último relacionamento, aquele que faria jus a frase “até que a morte nos separe”. Bem, a cena final mostra que esse amor de certa forma cumpriu tal mandamento do casamento e foi além do túmulo. A Minha Versão do Amor tinha todos os ingredientes para ser uma boa comédia dramática, mas a mescla de gêneros, incluindo uma desnecessária pitada de suspense, acabou deixando a obra com ritmo irregular, algo acentuado pela longa duração. Uns 20 ou 30 minutos a menos seriam benéficos ao conjunto. Apesar deste problema de ritmo, a grande mensagem pode ser compreendida ao refletirmos sobre o conteúdo. Vale mais a pena sonhar com uma vida repleta de felicidade ou aproveitar os bons momentos reais, mesmo que eles sejam poucos? A segunda opção certamente.

Drama - 133 min - 2010 

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