sábado, 3 de setembro de 2016

TOQUE DE RECOLHER (2006)

Nota 3,5 A partir de situação caótica, longa coloca em xeque os sentimentos de um casal

Epidemias, tsunamis, terremotos, tufões, erupções de vulcões, doenças sem precedentes e eventos inexplicáveis da natureza. O cinema já achou as mais variadas formas de exterminar a humanidade e destruir o mundo, mas sempre tem algum cineasta de plantão para voltar ao tema. Quando são superproduções, o negócio é investir em efeitos especiais para atrair público, ainda mais em tempos que os cinemas se renderam e se sustentam por conta de firulas tecnológicas, mas quando o orçamento é limitado o jeito é se virar como pode. Existe a opção pelo trash apelando para efeitos precários para ilustrar um provável fiapo de história ou o caminho mais inteligente de focar a atenção no enredo e se preocupar em mostrar como as pessoas reagem diante do desconhecido ou da iminência da morte. Ensaio Sobre a Cegueira e Contágio são bons exemplos desta segunda alternativa com o bônus de contar com um elenco de estrelas e cineastas renomados. O diretor e roteirista Chris Gorak não teve a mesma sorte com seu Toque de Recolher, mas nem por isso quis fazer um lixo qualquer, optando por uma abordagem mais intimista de uma temática tão grandiosa. A trama começa com o início de mais um dia aparentemente normal para a cidade de Los Angeles e para o casal Lexi (Mary McCormack) e Brad (Rory Cochrane). Eles estão vivendo uma fase difícil do relacionamento, mas a aproximação vem ironicamente de uma situação que também implica a separação. Logo após a moça ir para o trabalho, o marido escuta no rádio a notícia de que a cidade está sendo atacada por bombas químicas, verdadeiras armas de materiais radioativos cujos malefícios para os humanos não são totalmente conhecidos. Como prevenção, o governo implanta o toque de recolher, medida para que as ruas sejam evacuadas o mais rápido possível diminuindo ao máximo os riscos a saúde da população até que existam dados mais consistentes a respeito dos efeitos negativos do episódio. Todos devem permanecer trancados em casa e vedar todas as janelas e portas para evitar a inalação do ar contaminado. A deflagração deste conflito é feita de forma rápida e eficiente e o espectador participa do caos a medida que Brad vai colhendo novas informações através das mídias. Ao primeiro sinal de alerta ele tenta ir atrás da esposa, mas é impedido por policiais.

Quando volta para casa, Brad ganha a companhia de Alvaro (Tony Perez), um idoso que trabalhava na reforma de uma residência vizinha, e de Timmy (Scotty Noyd Jr.), garoto que ele encontra sozinho vagando na rua, mas ambos não têm importância nos rumos da trama. O grande lance do enredo é que quanto mais o tempo passa, menores são as chances de Brad poder receber a esposa novamente em casa. Depois de muitas horas, Lexi finalmente consegue voltar, mas seguindo ordens das autoridades o marido a proíbe de entrar até que alguém responsável apareça para verificar se ela está contaminada pela fumaça tóxica. O problema é que ela mesma não sabe se já está sofrendo algum mal, porém, se permanecer do lado de fora fatalmente irá aspirar o ar ruim podendo vir a falecer devido a demora das equipes de ajuda. A premissa do longa não é algo impossível, aliás já tivemos notícias sobre fatos semelhantes e isolados espalhados pelo mundo todo, assim o filme consegue captar a atenção logo no início, pois podemos nos colocar no lugar de Brad diante de tal situação. Se já é desesperador se sentir de mãos atadas quando alguém que amamos está distante e correndo riscos, imagine quando ela está tão próxima, mas ajudá-la poderia acarretar consequências ainda mais graves? Dessa forma, o grande conflito fica na tensão gerada entre marido e mulher. Ela quer ajuda, mas tem consciência de que pode ser uma ameaça. Ele quer lhe auxiliar, mas sabe que precisa colocar a razão acima do emocional neste momento. Infelizmente, a tensão e a identificação inicial com a situação pouco a pouco vão cedendo espaço ao tédio, visto que Gorak concentra a ação apenas na casa e em torno do casal que não tem muito a dizer ou fazer. Ficamos sabendo que autoridades estão tomando providencias pelos diálogos dos protagonistas, mas não há aprofundamento nos aspectos sociais do episódio, o que implica também na ausência de uma abrangência maior de seus danos. A estrutura adotada para Toque de Recolher pode ser vista como um exercício cinematográfico, uma prova de que produções de baixo orçamento podem apostar em temáticas comuns aos filmes-catástrofes, inclusive pelo seu final inesperado, mas é preciso muito talento e criatividade para preencher cerca de uma hora e meia com poucos personagens lutando pela sobrevivência, mas no fundo já se preparando para o pior.

Suspense - 95 min - 2006

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