sábado, 31 de julho de 2021

A CASA DE CERA


Nota 8 Com ambientação soturna e tensão constante, longa disfarça defeitos e oferece bons sustos


Um grupo de jovens vagando por um lugar isolado precisa correr contra o tempo para sobreviver aos ataques de um serial killer. Essa breve linha poderia resumir grande parte das produções de terror destinadas ao público adolescente, mas, felizmente, sempre existe algum ser pensante que consegue dar uma revigorada a uma fórmula desgastada. O diretor espanhol Jaume Collet-Serra mostrou-se seguro e cheio de boas pretensões quando fez sua estreia em Hollywood com o controverso A Casa de Cera. Nas mesmas proporções, há quem ame o filme e também quem o deteste, mas não se pode negar que é uma obra bem mais caprichada que tantas outras similares, ao menos visualmente. Contudo, os roteiristas Charles Beldlin e os irmãos gêmeos Chad e Carey Hayes investem em um roteiro que não vomita um monte de atrocidades logo de cara. Existe um longo prólogo para conhecermos os personagens e termos subsídios suficientes para mais a frente sofrer ou se alegrar com suas mortes, assim como também já é revelado um pouco do passado e da vida que leva o assassino da vez, ou melhor, os assassinos, coisa que geralmente só acontece nas conclusões de formas rápidas, equivocadas ou revelando parcialmente os mistérios para dar ganchos a continuações. 

As sutis diferenças em relação a outros projetos semelhantes começam pela escolha dos protagonistas  que não formam o costumeiro casal de namorados. Curiosamente, se temos uma dupla de irmãos gêmeos como roteiristas, o tema também se faz presente em peso na trama. Carly (Elisha Cuthbert) e Nick (Chad Michael Murray) são irmãos gêmeos e estão indo com os amigos assistir a um jogo de futebol americano em uma região afastada. Durante a viagem, eles têm problemas com um dos carros e a moça e o namorado Wade (Jared Padalecki) aceitam a ajuda de Lester (Damon Herriman), um estranho homem que os leva até Ambrose, uma pitoresca e pacata cidade que tem como principal atrativo um museu de cera que, ao invés de celebridades, possui apenas estátuas que representam cidadãos comuns, obras assinadas por um grande artista local que as esculpe usando métodos macabros para chegar a resultados tão próximos de corpos humanos perfeitos. Antes de abrir espaço para a sequência de carnificina, temos um bom tempo para nos ambientarmos a uma atmosfera que mescla nostalgia e uma falsa tranquilidade, mas obviamente alguns sustos válidos e outros totalmente equivocados não faltam no decorrer desse período para preparar o terreno para o que está por vir. Ainda assim, Collet faz questão de apresentar por meio de vários takes a grandiosidade do cenário dessa cidadezinha e a riqueza de seus detalhes. 


Ambrose conta com uma igreja, posto de gasolina, lojas e até uma sala de cinema. Tudo leva a crer que é uma típica de cidade de interior, mas as aparências enganam. Praticamente deserta, os poucos habitantes avistados aqui e acolá na verdade são estátuas, todas criações de Vincent Sinclair, um rapaz com o rosto deformado que tem um talento enorme para artes com cera, mas que cultiva os piores sentimentos em relação aos seres humano graças a influência negativa e manipuladora de seu irmão siamês Bo. O ator Brian Von Holt se divide entre esses dois papéis e, como geralmente acontece na seara, os vilões possuem problemas psicológicos com raízes na infância, fato explicitado logo nos primeiros minutos. Quando descobrem a presença de carne nova na cidade, a dupla passa a atacar. Bo é o cabeça de tudo e atrai as vítimas para armadilhas ao passo que seu irmão é o responsável pela matança e por dar uma espécie de sobrevida aos corpos. A partir do momento que os protagonistas percebem a cilada o filme segue o caminho comum de Pânico e similares, mas ainda assim segurando a atenção graças a um clima de tensão constante acentuado pelo excelente trabalho de fotografia, direção de arte e iluminação. Chama muito atenção o ato final quando parece que há uma corrida contra o tempo do próprio Collet para concluir tudo antes que seu cenário vire literalmente cera derretida, mas nada que atropele os desfechos dos personagens. 

Por ser um elenco pequeno, todos tem finais dignos e até fica um elemento surpresa que poderia sugerir uma continuação, embora revelado o segredo de Ambrose, reencontrada após muitos anos sumida do mapa, uma segunda parte dificilmente se sustentaria. Certamente, um dos momentos mais aguardados por muitos é a morte da personagem de Paris Hilton lá pela metade da projeção. A patricinha aparece praticamente fazendo o papel dela mesma, mas talvez sob efeito de tranquilizantes. Vivendo a sensual Paige, a aspirante a atriz está bem calminha e até mesmo na hora de bater as botas não exagera na gritaria. Aos desafetos da moça não se preocupem, sua participação não arruína a produção. Exigir dela uma atuação digna seria demais, então ela faz o que sabe melhor: mostrar seu corpo e fazer caras e bocas para a câmera. Seu namorado Blake (Robert Ri'chard) também não faz nada além do estereótipo do jovem que só pensa em curtição, assim o casal se torna desinteressante, mas rendem boas cenas de assassinatos. Apesar dos vários clichês e previsibilidade, a trama bem amarrada faz de A Casa de Cera um exemplar acima da média para o gênero. Os críticos, obviamente, detonam a fita e a antipatia deles ainda é maior pelo fato da produção ser inspirada em uma obra da década de 1950. Museu de Cera foi estrelado por Vincent Price (perceberam a homenagem implícita?) e ao que tudo indica tinha uma carga de dramaticidade psicológica bem mais acentuada e destinado a um público mais adulto. Collet optou pela adrenalina e o gore para fisgar o público jovem.


São várias as cenas que merecem destaque, como a sequência em que é mostrada como uma pessoa é transformada em estátua ou a curiosa caçada de Bo dentro de um cinema procurando por Carly e Nick enquanto na tela se projeta o clássico O Que Teria Acontecido a Baby Jane? (programado para execução quando houvesse novos visitantes incautos). Não deixa de ser curiosa e ter certa ironia a mistura da tensão presente no ambiente com certa cantoria na projeção. As últimas cenas também são muito bem realizadas e é quase possível se sentir o calor emanado do fogo que consome os cenários. Bem, esmiuçar o filme não adianta, é preciso ver com os próprios olhos. Só o detalhamento e o capricho dos cenários e adereços já valem uma espiada. Ainda tem muita gente que não teve a coragem de assistir por medo ou preconceito, mas é uma produção que sem dúvidas garante uma sessão divertida e descompromissada aos adeptos de horror. Desculpem o trocadilho, mas na comparação com várias produções sobre seriais killers, esta obra derrete seus concorrentes facilmente.

Terror - 113 min - 2005 

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3 comentários:

Rafael W. disse...

Nojento e divertido.

http://cinelupinha.blogspot.com/

marcosp disse...

A Casa de Cera é um filme trash, daqueles básicos dos anos 80, apesar dos efeitos especiais e ter uma patricinha ultra famosa, o roteiro é bem fraco, em relação aos mesmos filmes do gênero. Eu recomendo assistir qdo vc não tiver outra opção de filme...

Marcos disse...

Apesar de não ser o melhor filme de terror, como dito na crítica traz detalhes e elementos que não estão mais presentes neste tipo de filme que praticamente se tornou produto do mercado cinematografico. Ainda assim considero nos termos apresentados um filme fraco.

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