NOTA 5,5 Comédia romântica italiana tenta se aproximar ao estilo de Hollywood, mas peca ao rechear a trama com personagens e situações em excesso |
Na Itália não se faz apenas dramas de época ou comédias
escrachadas sobre relações familiares. Comédias românticas contemporâneas
também têm espaço e isso é provado pela simpática produção Lição de Amor. Ela
não é revolucionária e não apresenta novidade alguma que já não tenha sido
visto e revisto em similares feitos em Hollywood, mas para os padrões de cinema
italiano que estamos acostumados ela acaba se tornando um produto diferenciado,
para o bem ou para o mal. É claro que chega a ser um crime querer fazer
comparações entre este pequeno enlatado e obras primas de cineastas renomados
como Frederico Fellini e Lucino Visconti ou até mesmo do contemporâneo Nanni
Moretti, não há possibilidade alguma de identificar possíveis inspirações no trabalho
dos mestres, mas é preciso constatar que para esta indústria de entretenimento
funcionar é preciso ter algumas engrenagens defeituosas. Só assim para entrar
dinheiro que possivelmente irá financiar projetos mais criativos e de melhor
conteúdo. A situação é parecida com a que o cinema brasileiro vive. A sétima
arte em solo italiano também está ensaiando uma fusão com o estilo televisivo e
para cada trabalho relevante, mesmo que de pouca projeção popular, devem surgir
mais uns oito ou dez descartáveis, porém, lucrativos, para pagar a conta dos
“excessos”. Baseado no livro “Scusa ma ti Chiamo Amore” (ago como “desculpa se
te chamo de amor” – também título original do filme) escrito por Federico
Moccia, grande sucesso entre as adolescentes de lá, a obra aborda um romance
vivido por um homem maduro e uma colegial. Falando assim parece que é a
história de um aproveitador e uma menina inocente, mas não é nada disso e a
diferença de idade entre eles é de 20 anos, o bastante para a relação ser
contestada por sociedades conservadoras e muitas vezes hipócritas. Nikki Cavalli
(Michela Quattrociocche) é uma alegre jovem de 17 anos que divide seu tempo
entre os estudos e os momentos de diversão com os amigos. Já Alessandro Belli
(Raoul Bova), ou simplesmente Alex, é um publicitário de sucesso que adora levar
uma vida organizada e sem solavancos. Eis que ironicamente o destino lhe
prepara duas surpresas. Abandonado pela namorada Elena (Veronica Logan), a
mulher que julgava ser sua alma gêmea, o rapaz entra em uma profunda crise
pessoal e sua vida social se restringe aos convites dos seus velhos amigos que
tentam tirá-lo da fossa.
A rotina sem graça de Alex muda completamente quando ele
bate seu carro acidentalmente na lambreta guiada por Nikki. Como qualquer ser
humano consciente ele a socorre, mas felizmente ela não sofreu nem mesmo um
arranhão. Apenas seu coração foi tocado. Como o equipamento que ela conduzia
ficou danificado, o publicitário se responsabiliza pelos custos de uma
reparação em uma oficina e ainda lhe oferece uma carona até a escola, opção que
ela aceita sem pensar duas vezes e já cheia de segundas intenções. Educado, ele
ainda lhe dá seu número de celular caso ela precise de alguma coisa e eis que
para sua surpresa a menina lhe interrompe em meio a uma reunião com uma ligação
simplesmente para dizer que tirou nota alta em uma prova. A pentelhinha
realmente acredita em paixão à primeira vista e a partir de então vai fazer de
tudo para conquistá-lo, no entanto, baqueado pela recente decepção amorosa e
também preocupado com a pouca idade dela, Alex se esquiva de qualquer
intimidade. Todavia, água mole em pedra dura tanto bate até que fura e Nikki
com sua insistência e entusiasmo acaba aos poucos conseguindo amolecer o
coração do rapaz que cede aos seus encantos. Enquanto engatam um relacionamento
procurando afinar seus sentimentos, vontades e universos, Alex ainda tem o
desafio de inventar rapidamente uma campanha criativa e chamativa para uma
marca de bombons que pode lhe garantir uma aguardada promoção no trabalho. Não
é preciso dizer de onde virá tal inspiração. Assim como nas tradicionais
comédias românticas de Hollywood, o final feliz está garantido e o importante é
a seleção de eventos que vão marcar a trajetória dos personagens até o momento
epifânico, não faltando nem mesmo um estratégico rompimento a certa altura. A
principal qualidade da obra está na empatia imediata entre público e
protagonistas. Niki é bonita, alto astral e ironicamente de uma chatice
cativante, totalmente oposta ao perfil de Alex com quem aparentemente
compartilha unicamente a beleza. O rapaz é sério e metódico, mas aos poucos
percebemos que os dois acabam se aproximando pelo fato de mutuamente se
ajudarem a vencer fantasmas de relacionamentos amorosos malfadados e estarem
vivenciando períodos de desafios, ele no trabalho e ela na escola. Quantos
casais já foram formados em situações semelhantes? O problema é que aqui existe
o agravante da diferença de idade e ainda envolvendo uma menor (o que é um ano
para atingir a maioridade?), assunto polêmico, mas como a fita é destinada ao
público adolescente são evitados aprofundamentos e críticas comportamentais,
assumindo mais a porção conto de fadas da situação que é acentuada pelos belos
cenários de Roma.
Qual menina nunca sonhou em se relacionar com um galã do
cinema ou da televisão ou até mesmo com um professor? Quatrociocche constrói
sua personagem de maneira interessante. Ela é ao mesmo tempo infantil e madura
e evita o estereótipo de lolita fugindo das caras e bocas e das armadilhas de
apenas mostrar seu corpo, assim torna-se crível que Niki realmente nutre
sentimentos por Alex, este que também passa longe do arquétipo de canastrão
querendo enganar uma gatinha para reafirmar sua virilidade. O personagem
mostra-se reticente a viver esse relacionamento justamente pelas questões que
envolvem conceitos de pedofilia, mas mais do que isso pesa em sua decisão suas
frustrações com as mulheres. Fugindo da erotização e também evitando florear
demais as coisas, Moccia, que também assumiu a direção e o roteiro, crédito
este que divide com Luca Infascelli e Chiara Barzini, parece não saber como
conduzir o argumento romântico sem ser frouxo e tampouco sem deixar a mão
pesar, assim acaba dispersando a atenção do espectador em tramas paralelas
envolvendo um excesso de coadjuvantes que pouco ou em nada contribuem à trama
central. O único que chama a atenção é o promíscuo Pietro (Francesco Apolloni)
cuja função é fazer um contraponto ao estilo recatado de Alex e talvez por isso
mesmo não tenhamos simpatia por ele, simplesmente é o popular galinha ou o
solteirão inveterado que acha que a vida é uma eterna diversão. É claro que
através desses tipos secundários o enredo busca falar sobre assuntos
pertinentes como amadurecimento, amizade e até mesmo a valorização da
virgindade, mas nenhum é desenvolvido com competência, sendo que o último
citado acaba saindo chamuscado na história. A primeira vez de intimidade entre
os protagonistas e consequentemente da garota é desprovida de clima romântico,
sendo realizada de forma grosseira. Apesar deste deslize e da diluição do tema
principal, Lição de Amor não é muito diferente de seus similares americanos.
Aliás, não faz questão alguma de ser distinto, assim hits internacionais como
os de Amy Winehouse, por exemplo, dividem espaço pacificamente com o romantismo
das canções de Eros Ramazotti na trilha sonora afinal trata-se de uma história
desenvolvida em tempos de pura globalização. Em tempo: um enredo tão
mastigadinho não precisaria de um narrador, mas é até simpática a participação
de Tony Costa (Luca Ward), um detetive particular cuja imagem pouco aparece,
mas sua voz pontua a narrativa com frases e chavões românticos que ajudam a
contar a história ao mesmo tempo em que a ironizam.
Comédia romântica - 82 min - 2008
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