quinta-feira, 18 de agosto de 2016

LIÇÃO DE AMOR

NOTA 5,5

Comédia romântica italiana tenta
se aproximar ao estilo de Hollywood,
mas peca ao rechear a trama com
personagens e situações em excesso
Na Itália não se faz apenas dramas de época ou comédias escrachadas sobre relações familiares. Comédias românticas contemporâneas também têm espaço e isso é provado pela simpática produção Lição de Amor. Ela não é revolucionária e não apresenta novidade alguma que já não tenha sido visto e revisto em similares feitos em Hollywood, mas para os padrões de cinema italiano que estamos acostumados ela acaba se tornando um produto diferenciado, para o bem ou para o mal. É claro que chega a ser um crime querer fazer comparações entre este pequeno enlatado e obras primas de cineastas renomados como Frederico Fellini e Lucino Visconti ou até mesmo do contemporâneo Nanni Moretti, não há possibilidade alguma de identificar possíveis inspirações no trabalho dos mestres, mas é preciso constatar que para esta indústria de entretenimento funcionar é preciso ter algumas engrenagens defeituosas. Só assim para entrar dinheiro que possivelmente irá financiar projetos mais criativos e de melhor conteúdo. A situação é parecida com a que o cinema brasileiro vive. A sétima arte em solo italiano também está ensaiando uma fusão com o estilo televisivo e para cada trabalho relevante, mesmo que de pouca projeção popular, devem surgir mais uns oito ou dez descartáveis, porém, lucrativos, para pagar a conta dos “excessos”. Baseado no livro “Scusa ma ti Chiamo Amore” (ago como “desculpa se te chamo de amor” – também título original do filme) escrito por Federico Moccia, grande sucesso entre as adolescentes de lá, a obra aborda um romance vivido por um homem maduro e uma colegial. Falando assim parece que é a história de um aproveitador e uma menina inocente, mas não é nada disso e a diferença de idade entre eles é de 20 anos, o bastante para a relação ser contestada por sociedades conservadoras e muitas vezes hipócritas. Nikki Cavalli (Michela Quattrociocche) é uma alegre jovem de 17 anos que divide seu tempo entre os estudos e os momentos de diversão com os amigos. Já Alessandro Belli (Raoul Bova), ou simplesmente Alex, é um publicitário de sucesso que adora levar uma vida organizada e sem solavancos. Eis que ironicamente o destino lhe prepara duas surpresas. Abandonado pela namorada Elena (Veronica Logan), a mulher que julgava ser sua alma gêmea, o rapaz entra em uma profunda crise pessoal e sua vida social se restringe aos convites dos seus velhos amigos que tentam tirá-lo da fossa.

A rotina sem graça de Alex muda completamente quando ele bate seu carro acidentalmente na lambreta guiada por Nikki. Como qualquer ser humano consciente ele a socorre, mas felizmente ela não sofreu nem mesmo um arranhão. Apenas seu coração foi tocado. Como o equipamento que ela conduzia ficou danificado, o publicitário se responsabiliza pelos custos de uma reparação em uma oficina e ainda lhe oferece uma carona até a escola, opção que ela aceita sem pensar duas vezes e já cheia de segundas intenções. Educado, ele ainda lhe dá seu número de celular caso ela precise de alguma coisa e eis que para sua surpresa a menina lhe interrompe em meio a uma reunião com uma ligação simplesmente para dizer que tirou nota alta em uma prova. A pentelhinha realmente acredita em paixão à primeira vista e a partir de então vai fazer de tudo para conquistá-lo, no entanto, baqueado pela recente decepção amorosa e também preocupado com a pouca idade dela, Alex se esquiva de qualquer intimidade. Todavia, água mole em pedra dura tanto bate até que fura e Nikki com sua insistência e entusiasmo acaba aos poucos conseguindo amolecer o coração do rapaz que cede aos seus encantos. Enquanto engatam um relacionamento procurando afinar seus sentimentos, vontades e universos, Alex ainda tem o desafio de inventar rapidamente uma campanha criativa e chamativa para uma marca de bombons que pode lhe garantir uma aguardada promoção no trabalho. Não é preciso dizer de onde virá tal inspiração. Assim como nas tradicionais comédias românticas de Hollywood, o final feliz está garantido e o importante é a seleção de eventos que vão marcar a trajetória dos personagens até o momento epifânico, não faltando nem mesmo um estratégico rompimento a certa altura. A principal qualidade da obra está na empatia imediata entre público e protagonistas. Niki é bonita, alto astral e ironicamente de uma chatice cativante, totalmente oposta ao perfil de Alex com quem aparentemente compartilha unicamente a beleza. O rapaz é sério e metódico, mas aos poucos percebemos que os dois acabam se aproximando pelo fato de mutuamente se ajudarem a vencer fantasmas de relacionamentos amorosos malfadados e estarem vivenciando períodos de desafios, ele no trabalho e ela na escola. Quantos casais já foram formados em situações semelhantes? O problema é que aqui existe o agravante da diferença de idade e ainda envolvendo uma menor (o que é um ano para atingir a maioridade?), assunto polêmico, mas como a fita é destinada ao público adolescente são evitados aprofundamentos e críticas comportamentais, assumindo mais a porção conto de fadas da situação que é acentuada pelos belos cenários de Roma.

Qual menina nunca sonhou em se relacionar com um galã do cinema ou da televisão ou até mesmo com um professor? Quatrociocche constrói sua personagem de maneira interessante. Ela é ao mesmo tempo infantil e madura e evita o estereótipo de lolita fugindo das caras e bocas e das armadilhas de apenas mostrar seu corpo, assim torna-se crível que Niki realmente nutre sentimentos por Alex, este que também passa longe do arquétipo de canastrão querendo enganar uma gatinha para reafirmar sua virilidade. O personagem mostra-se reticente a viver esse relacionamento justamente pelas questões que envolvem conceitos de pedofilia, mas mais do que isso pesa em sua decisão suas frustrações com as mulheres. Fugindo da erotização e também evitando florear demais as coisas, Moccia, que também assumiu a direção e o roteiro, crédito este que divide com Luca Infascelli e Chiara Barzini, parece não saber como conduzir o argumento romântico sem ser frouxo e tampouco sem deixar a mão pesar, assim acaba dispersando a atenção do espectador em tramas paralelas envolvendo um excesso de coadjuvantes que pouco ou em nada contribuem à trama central. O único que chama a atenção é o promíscuo Pietro (Francesco Apolloni) cuja função é fazer um contraponto ao estilo recatado de Alex e talvez por isso mesmo não tenhamos simpatia por ele, simplesmente é o popular galinha ou o solteirão inveterado que acha que a vida é uma eterna diversão. É claro que através desses tipos secundários o enredo busca falar sobre assuntos pertinentes como amadurecimento, amizade e até mesmo a valorização da virgindade, mas nenhum é desenvolvido com competência, sendo que o último citado acaba saindo chamuscado na história. A primeira vez de intimidade entre os protagonistas e consequentemente da garota é desprovida de clima romântico, sendo realizada de forma grosseira. Apesar deste deslize e da diluição do tema principal, Lição de Amor não é muito diferente de seus similares americanos. Aliás, não faz questão alguma de ser distinto, assim hits internacionais como os de Amy Winehouse, por exemplo, dividem espaço pacificamente com o romantismo das canções de Eros Ramazotti na trilha sonora afinal trata-se de uma história desenvolvida em tempos de pura globalização. Em tempo: um enredo tão mastigadinho não precisaria de um narrador, mas é até simpática a participação de Tony Costa (Luca Ward), um detetive particular cuja imagem pouco aparece, mas sua voz pontua a narrativa com frases e chavões românticos que ajudam a contar a história ao mesmo tempo em que a ironizam.

Comédia romântica - 82 min - 2008 

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