terça-feira, 16 de agosto de 2016

OLDBOY (2003)

NOTA 9,0

Mescla de drama e suspense
é imprevisível, cheio de
reviravoltas e desperta as
mais variadas sensações
É curioso como uma pequena indicação no pôster ou na capa do DVD de que um filme concorreu ou ganhou algum prêmio consiga fascinar tanto o público. Se o Oscar ou o Globo de Ouro para alguns é sinônimo de qualidade, para um nicho apenas aparentemente pequeno outras premiações têm importância bem superior, como é o caso do Festival de Cannes, badalação que tratou de fomentar a fama de Oldboy, misto de drama, ação e suspense oriundo da Coréia do Sul cuja temática e estética estão longe da delicadeza das tradicionais obras locais ou da suntuosidade de seus longas de artes marciais e épicos. Quem encara produções do tipo apenas na lábia de que podem ser considerados intelectuais ou chiques por tal atitude certamente levam um soco no estômago duas vezes mais dolorido que aqueles que já estão acostumados e apreciam um cinema mais visceral. E o que deve ter de gente que se arrependeu amargamente de viver esta experiência proposta pelo cineasta Chanwook Park deve surpreender, mas não tanto quanto o espanto de ver o número de críticas positivas à produção. Goste ou não, é certo que esta obra não deixa de mexer com o emocional de ninguém. Pode arrancar elogios ou xingamentos inflamados, mas ninguém fica passivo à perturbadora e bizarra história de Dae-su Oh (Min-sik Choi), rapaz que é detido brevemente pela polícia após uma bebedeira, foi solto, mas foi novamente retido, porém, não sabe por quem. O fato é que ele acorda em uma espécie de quarto de hotel onde permaneceu enclausurado durante quinze anos. Nesse tempo ocioso ele só consegue pensar em descobrir quem fez aquilo, mas aparentemente existem diversas possibilidades para responder tal dúvida. Entre sessões de hipnose através de um gás que o faz dormir, treinos de boxe com a parede e a escrita de um diário pessoal, este homem vive alimentando o desejo de vingança a qualquer preço. O único contato seu com o mundo exterior é através das informações que consegue através da televisão e assim fica sabendo que sua esposa foi assassinada e que ele é o principal suspeito do crime. Quando libertado, mesmo com a memória comprometida, Dae-su imediatamente quer começar a desvendar o que aconteceu e aos poucos passa a encontrar pessoas que podem ajudá-lo nessa missão, mas nada que o faça esquecer da vingança.

Na saída de sua clausura Dae-su encontra algum dinheiro, roupas e um telefone celular que não tarda a tocar. A ligação misteriosa o desafia a descobrir o motivo de sua clausura e a identidade de seu algoz.  A única certeza deste homem é que ele está sozinho no mundo, qualquer um pode ser seu inimigo já que para todos os efeitos é um foragido da polícia. E o pior de tudo é que toda tortura que passou trancafiado no quarto não é nada perto do que o espera em liberdade. Não bastassem todos esses problemas, ele ainda quer descobrir o paradeiro da filha que viu pela última vez com três anos de idade. Para ajudá-lo com tantos conflitos, o roteiro escrito pelo próprio diretor em parceria com os autores Jo-yoon Hwang e Joon-hyung Im aproxima o protagonista da sushi-woman Mi-do (Hye-jeong Kang) que se compadece com sua situação. Se você já estiver com o estômago revirado até a sequência do encontro dos dois e deseja seguir em frente tome um sal de frutas e prepare o espírito. Não se importe ao ver o protagonista devorar um polvo vivo, esta louca viagem ainda tem muitas surpresas desagradáveis. Para os cinéfilos de plantão, que geralmente detestam o estilo açucarado made in Hollywood, este trabalho é um prato cheio e dos mais exóticos. A receita ganha um tempero especial com as referências culturais inseridas. A clausura e o instinto de vingança nos remetem a um clássico literário e já diversas vezes adaptado para o cinema, O Conde de Monte Cristo. O estilo do herói solitário, destemido e algumas vezes parecendo ser feito de algum material indestrutível é uma marca dos ianques, desde os destemidos príncipes e cavaleiros dos épicos, passando pelos mocinhos dos faroestes até o perfil dos brucutus encarnados Sylvester Stallone, Jean-Claude Van Damme e companhia bela.  O suspense implícito é de qualidade a ser comparada a obra de Alfred Jitchcock e a violência gráfica e a ousadia são típicos da escola de Quentin Tarantino, este que nunca negou sua inspiração nas produções orientais. Não por acaso muitos filmes dos povos dos olhinhos puxados chegaram a ter projeção fora de seus países de origem graças a este cineasta que ajudou a criar interesse nessas culturas e na promoção de diversos títulos, inclusive a produção de Park que ficou famosa após ganhar o Grande Prêmio do Júri em Cannes 2004, evento presidido na ocasião pelo próprio Tarantino. Só assim mesmo para uma obra tão ousada sair consagrada de um festival que é cercado de glamour, mas pouquíssimas obras laureadas no evento conseguem vencer a ação implacável do tempo. Este trabalho de Park não só conseguiu se manter em evidência (ao menos entre os cinéfilos de carteirinha), como também chamou a atenção de produtores de Hollywood que durante anos alimentaram a vontade de fazer uma refilmagem, projeto que mesmo antes de seu lançamento já divide opiniões, principalmente dos fãs do original que temem que o conservadorismo americano imponha sua força e altere a essência visceral do material.

Não é errado dizer que o filme revela o que há de pior no ser humano, o que explica a repulsa da maioria dos espectadores. Até para aqueles que gostam deve ser muito difícil logo numa primeira apreciação se envolver com esta história. O impacto negativo é muito forte e por várias razões. O conto original de Garon Tsuchiya e Nobuaki Minegishi, que deu origem a um mangá japonês homônimo, é transformado em imagens sujas, ora escuras demais, ora com cores vibrantes e por várias vezes o estilo de filmagem lembra a algo amador ou envelhecido, mas tudo isso são opções estéticas do diretor para enaltecer seu trabalho e diferenciá-lo. A pouca iluminação, os cortes rápidos de edição, as tomadas curtas e até as sequências mais grotescas e escatológicas, tudo está a serviço da trama colaborando para que a sensação de claustrofobia seja intensificada. Mesmo quando o protagonista está em liberdade tal desconforto diminui, pelo contrário. Enquanto Dae-su está na sua jornada investigativa, que se apóia em hipóteses curiosas como chegar ao criminoso procurando em restaurantes o mesmo sabor da comida que lhe era servida no cativeiro, paralelamente o sequestrador misterioso está onipresente em toda a narrativa, mas à espreita e revelando cuidadosamente todo o mistério. E Chanwook vai envolvendo ou repudiando cada vez mais o espectador com cenas bacanas como a sequência em que o protagonista é jogado de um lado para o outro atingindo e estilhaçando vitrines de vidros, uma metáfora visual que faz alusão que ele seria uma peça de um jogo articulado pelo vilão, e outras vezes apelando para o estilo trash como na cena em que em poucos minutos Dae-su liquida dezenas de inimigos como se fosse um super-herói, tipo que ele passa longe como fica provado em tantas outras cenas que demonstram suas fragilidades. Este é um filme que em geral sustenta sua audiência na base da curiosidade. São tantas coisas imprevisíveis logo nos primeiros minutos que é difícil não ficar na tentação de ver até onde essa história tão bizarra vai parar. Além do inegável talento do diretor, roteiristas e equipe técnica que criou uma atmosfera perfeita, o ator Min-sik Choi também é o responsável por boa parte das atenções. Com cabelos desgrenhados, aspecto sujo e feições que sugerem inocência e em alguns momentos perversidade, o protagonista não teve medo de se entregar ao personagem e um close seu com um sorriso engraçado, mas ao mesmo tempo perturbadoramente sinistro já virou uma imagem antológica na História do cinema. Ele dispensou dublês, submeteu-se a treinos pesados para as cenas de lutas e emagreceu doze quilos para dar veracidade a sua criação, sem dúvida a alma de uma produção tão mórbida. Participante de uma trilogia em que cada título é protagonizado por uma pessoa injustiçada em busca de reparação e justiça por conta própria (os outros filmes são Mr. Vingança e Lady Vingança), Oldboy é a obra de maior repercussão entre todos eles. Como já dito, você pode gostar ou odiá-lo, cada pessoa tem uma percepção particular acentuada neste caso, porém, não se pode negar que é um projeto que desperta algum ou vários tipos de sentimentos. Veja ou reveja e descubra quais as sensações que ele lhe provoca.
Drama - 120 min - 2003
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1 – 2 Ruim, uma perda de tempo
3 – 4 Regular, serve para passar o tempo
5 – 6 Bom, cumpre o que promete
7 – 8 Ótimo, tem mais pontos positivos que negativos
9 – 10 Excelente, praticamente perfeito do início ao fim
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Um comentário:

renatocinema disse...

Por revelar o pior do ser humano é que amo o filme.

abs