sexta-feira, 12 de agosto de 2016

ANNABELLE

NOTA 6,0

Embora com furos, clichês e atuações
robóticas, longa ganha pontos por
reverenciar o clássico O Bebê de Rosemary
e usar a boneca do mal eficientemente 
Pode parecer loucura, mas não é de se estranhar caso encontre alguém que tenha fobia de bonecas aparentemente inocentes. Hollywood tem certo fetiche por transformar brinquedos em vilões, ironicamente um prazer que teve seu auge e também seu declínio nas mãos do maquiavélico Chuck de Brinquedo Assassino. Depois dele, qualquer produção semelhante automaticamente era rotulada como trash, até que surgiu Annabelle, cuja primeira aparição ao grande público se deu no bem-sucedido Invocação do Mal, do diretor James Wan. Depois de abastecer sua conta bancária e valorizar seu nome com Jogos Mortais, o cineasta passou a investir pesado no campo sobrenatural, mas desta vez por conta da agenda superlotada decidiu assinar a fita apenas como produtor passando a batuta da direção para um de seus pupilos. John R. Leonetti já era seu habitué colaborador quanto a fotografia de suas obras e como diretor já havia feito Mortal Kombat – A Aniquilação e Efeito Borboleta 2, ou seja, seu histórico é bastante suspeito. A história da boneca amaldiçoada não agrega muito ao seu currículo, mas demonstra um pouco mais de consciência cinematográfica, certamente uma conquista que deve a convivência com Wan. A trama tem como protagonistas um jovem casal que está cheio de expectativas com a chegada da primeira filha. Próximo ao fim da gravidez, John (Ward Horton) presenteia sua esposa Mia (Annabelle Wallis) com uma rara boneca para sua coleção e que obviamente virará adorno no quarto criança. Certa noite a casa deles é invadida por um atormentado e agressivo homem membro de uma seita satânica e a esposa do maluco no meio da confusão acaba se suicidando no quarto do bebê e seu corpo é encontrado abraçado junto a tal boneca. Após a tragédia e mais alguns estranhos episódios, como o fogão que provoca um incêndio como se fosse por vontade própria, o casal decide mudar para um apartamento, mas levam a tiracolo o brinquedo e voltam a colocá-lo em posição de destaque no quarto da filha agora já nascida. Obviamente, eles não terão paz na nova moradia, principalmente Mia que passa a maior parte do tempo em casa e assombrada pelas manjadas luzes que piscam em momentos inoportunos, vultos nas escadarias, crianças que fazem desenhos bizarros, visões a qualquer hora do dia e objetos funcionando como se tivessem vida própria, como uma máquina de costura com som atordoante.

Casal jovem, gravidez, apartamento sinistro, satanismo.... Fica óbvio que o roteirista Gary Dauberman se deixou influenciar pelo clássico O Bebê de Rosemary, aliás deixa bem explícito ao batizar os protagonistas de forma a homenagear Mia Farrow e John Cassavetes, os pais do dito cujo do título da obra de Roman Polanski. O apartamento do casal e o edifício como um todo, com um tenebroso porão e elevador barulhento que funciona a seu bem querer, acentuam a inspiração, assim como um carrinho de bebê que ganha importância especial em determinada sequência, talvez a mais impactante de todo o filme. A trama se passa em meados da década de 1960, mais um ponto que liga as produções, mas é uma pena que Leonetti apenas em sua concepção visual se assemelhe à história de Rosemary e sua amaldiçoada gravidez. Em termos de história e desenvolvimento de personagens fica anos-luz de distância. O roteiro não busca nem mesmo nas questões religiosas algum alicerce sólido, embora conte com a participação do padre Perez (Tony Amendola) que tenta ajudar a família em apuros, mas o espírito de Annabelle não se intimida nem mesmo quando a boneca é levada para uma igreja, teoricamente um solo consagrado e motivo de repúdio por demônios. Aliás, é importante ressaltar que o brinquedo é usado felizmente invertendo expectativas. Ao contrário do citado Chuck, aqui o objeto do mal não fala uma palavra sequer, porém, manifesta-se espiritualmente podendo se locomover e orquestrar sustos com portas, aparelhos domésticos e a boa, velha e sinistra cadeira de balanço. O diretor trabalha de forma eficaz com a presença estática da personagem cujo visual pouco a pouco transparece suas intenções diabólicas. Obviamente, a bonequinha original possui um semblante simpático ao contrário da criação para o filme que conforme o desenrolar das situações vai sofrendo transformações, ficando feia e encardida denunciando a carga pesada de energia que carrega. Para quem desconhece seu histórico, a personagem-título é um brinquedo aparentemente comum que era dividido por duas colegas de quarto que afirmavam que um espírito o possuiu e o casal Ed e Lorraine Warren, conhecidos por lidarem com situações sobrenaturais e exorcismos, acharam melhor leva-lo para casa e guardar no museu que mantinham no sótão com souvenires de seus trabalhos. Annabelle acabou tendo como destino uma caixa de vidro devidamente lacrada e que periodicamente passa por uma benção, ritual mantido por Lorraine mesmo após o falecimento do marido.

Dauberman criou toda uma trama fictícia em cima da tal crendice e Wan, marqueteiro como ele só, conseguiu vender a produção em embalagem de superprodução, enfatizando o fato de ser baseado em fatos reais (excluindo o ligeiramente para não enfraquecer a publicidade) e obviamente frisando que a fita é dos mesmos produtores de Jogos Mortais, Invocação do Mal..... Por afinidade deveriam ter feito o link com um trabalho bem menos popular de Wan, Gritos Mortais, no qual bonecos de ventríloquo são os vilões. Annabelle tem um visual que se assemelha bastante a eles com seus olhos esbugalhados e sorriso suspeito, uma figura assustadora antes mesmo de ser possuída. Por que manter um objeto desses em casa? Mesmo tendo indícios de que a boneca está ligada aos estranhos episódios que passam a atormentá-los, o casal resolve tardiamente se livrar dele. Enfrentando um vilão teoricamente inanimado, os atores atuam deixando quase que explícitas as marcações de direção. Trabalham de forma consciente, mas não convencem como um casal recém-casado, deixando a desejar no quesito emoção. Horton infelizmente não tem muitas possibilidades para tanto, mas Wallis (homônima à boneca, seria coincidência?) tinha praticamente tudo a seu favor, porém, entrega uma atuação robótica, além dos foras como o fato de vira e mexe deixar a filha sozinha em casa mesmo sendo uma criança de poucos meses. Diga-se de passagem, até a bebezinha se sai melhor que ela, inclusive participando de uma cena bastante tensa. Aliás, justiça seja feita, o longa tem uma porção de sequências de sustos, mas se sustenta por esses momentos de forma independente. Não damos muita importância ao destino dos personagens, sendo que Evelyn (Alfre Woodard), uma vendedora de livros que faz amizade com Mia, poderia ser mais explorada na trama. Conhecedora de ciências místicas, além de uma tristeza que guarda do passado, é o perfil mais bem delineado e não por acaso peça-chave no desfecho. No final das contas, Annabelle é apenas um passatempo razoável, longe do filme perturbador que prometia ser. Embora tente manter o clima sombrio da fita que apresentou pela primeira vez a boneca ao público, como tantas outras produções do tipo, Leonetti apoia-se em sustos previsíveis, clichês e trilha sonora que acaba desconstruindo a tensão de momentos impactantes. Para não dizer que não fica nada para amedrontar o sono do espectador, digamos que o barulho da tal máquina de costura vai grudar em seus ouvidos.

Terror - 100 min - 2014

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Um comentário:

Liliane de Paula disse...

Este é assustador. Não consegui vê até o final.
Acho que é BOM para o que se espera dele.