Nota 0,5 Romance afunda pelo excesso de açúcar e exageros e não envolve em momento algum
O cinema não tem o poder de transmitir cheiros e tampouco
sabores, mas o mundo das cozinhas é uma grande fonte de inspiração,
principalmente para histórias românticas. O problema é que alguma delas levam a
sério a alcunha de água-com-açúcar e exageram na sacarose como é o caso do
esquecido (e com razão) Simplesmente Irresistível, inadvertidamente comparado
por alguns com o famoso, premiado e infinitamente superior romance mexicano Como
Água Para Chocolate. Este filme na verdade é talhado para agradar adolescentes
na idade de acreditar em paixão à primeira vista e usado como veículo para
alavancar a carreira de Sarah Michelle Gellar na época em alta com o sucesso do
seriado de TV “Buffy – A Caça Vampiros” e dos filmes Eu Sei o Que Vocês Fizeram
no Verão Passado e Segundas Intenções, este que parecia ser um divisor de águas
em sua carreira. Tentaram fazer a atriz se tornar uma nova queridinha da
América da noite para o dia, mas na verdade sua trajetória prova que lhe faltou
orientação para seguir em frente e certamente o açucarado romance em questão
ajudou e muito a degringolar as coisas. Gellar interpreta Amanda Shelton, uma
jovem que herdou um pequeno restaurante da mãe, mas não o seu talento para a
culinária. Ela tentou pôr a mão na massa literalmente, mas a clientela pouco a
pouco foi sumindo e assim ela teria que encerrar as atividades, mas de repente ganha
uma ajuda vinda dos céus e estranhamente manifestada na forma de um caranguejo
mágico que consegue em uma feira. No mesmo instante ela conhece Tom Barlett
(Sean Patrick Flanery), um jovem produtor de eventos que está prestes a
inaugurar um restaurante para o empresário Jonathan Bendel (Dylan Baker), este
que quer assegurar que seu empreendimento tenha pelo menos uma cotação de
quatro estrelas pelos críticos gastronômicos. O tal crustáceo já começa a mexer
seus dedinhos, ou melhor, suas patinhas, e faz com que surja uma atração
instantânea entre os dois, mas reserva outras surpresas para Amanda.
Sem um mínimo de embasamento na área, a novata chef de
cozinha começa repentinamente a fazer pratos que usam e abusam de misturas
exóticas, refeições que atraem novos e antigos fregueses e que conquistam o
estômago principalmente de Barlett que desconfia que esteja apaixonado por uma
feiticeira, mas que não consegue se manter longe dela. É claro que o rapaz vai
convidá-la para fazer o menu de inauguração do tal restaurante que planeja a
festa, o problema é que a essa altura Amanda percebe que suas emoções são
passadas para suas comidas, o que desperta reações inesperadas de quem as
provas, assim ela acredita que não é amada de verdade e que apenas manipula os
sentimentos do rapaz a seu favor. Para uma comédia romântica que visa o público
adolescente até que o argumento é condizente, o problema é que o roteiro de
Judith Roberts é tão inconsistente quanto o creme de baunilha e flores que a
protagonista considera sua melhor receita. Difícil acreditar que tenha alguma
jovem sonhadora que se envolva nesta overdose de sacarose, o que deve explicar
o fracasso da fita dirigida por Mark Tarlov. Produtor de sucessos como Christine
– O Carro Assassino, Mamãe é de Morte e Copycat – A Vida Imita a Morte, sua estreia
e única experiência como diretor parece um trabalho de amador. Sem um mínimo de
discernimento, ele parece rechear seu longa com as piores cenas que filmou. O
romance dos protagonistas não convence em momento algum, as reações das pessoas
que comem as refeições supostamente mágicas são constrangedoras de tão
exageradas, o tal caranguejo da sorte insere um quê de infantilidade à trama
que em nada agrega e a cereja do bolo são as cenas finais com direito a névoa
com perfume adocicado e flutuação. Isso sem falar na trilha sonora repleta de
modinhas-chiclete e sem um pingo de personalidade. Simplesmente Irresistível enjoa
logo na sua introdução quando percebemos a total falta de química entre Flanery
e Gellar, esta, diga-se de passagem, que se mostra visivelmente incomodada em
cena, como se estivesse envergonhada de atuar em algo tão patético. A própria
atriz declarou que este é um dos trabalhos que menos gosta. Se a mais
interessada em vender o peixe diz isso, quem irá discordar?
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