Nota 7,0 Telefilme presta importante serviço social, mas infelizmente não se aprofunda no tema
Para
realizar um sonho vale a pena pagar o preço que for, mesmo que precise abrir
mão de princípios e ajudar o crime organizado? É essa a discussão colocada em
xeque em Tráfico de Bebês, drama policial feito para a TV, mas bastante
eficiente apesar de sua estética e narrativa de novela. A trama de John Wierick
é inspirada em fatos reais e gira em torno do casal Nathalie (Dana Delanei) e
Steve Johnson (Hart Bochner) que há muito tempo querem ter um filho, mas não
conseguiram por vias naturais e tampouco estão acertando investindo na adoção.
Movida pelo impulso, Nathalie se entusiasma quando encontra na internet um site
que promete facilitar os trâmites para um casal conseguir um bebê legalmente e
ela não pensa duas vezes antes de preencher uma ficha, o que irrita
inicialmente seu marido, pois agora informações confidenciais do casal podem
estar nas mãos de pessoas de má índole. A mesma desconfiança é compartilhada
pela advogada deles, Kathy (Ellen David), que acha esquisito as poucas
informações disponíveis sobre Gabor Szabo (Bruce Ramsey), também advogado e que
passou um email quase que instantâneo para Nathalie falando que deseja entregar
para adoção a sua própria filha, a pequena Gitta. O primeiro encontro entre os
Johnsons e o doador da criança é bastante amistoso e praticamente deixa
acertado que a bebezinha em menos de 24 horas terá um novo lar, porém, na hora
da entrega definitiva um golpe é revelado. Szabo não quer discutir os termos
legais da adoção e sim quanto ela vale financeiramente. Aproveitando-se das
informações sobre o padrão de vida e do estado emocional de seus “clientes”, o
inescrupuloso advogado pede uma alta quantia e enquanto os candidatos a pais
pensam a respeito ele continua oferecendo Gitta para outras famílias. Na época em
que a ação se passa, imperdoavelmente não identificada (talvez 2004, ano da
produção), infelizmente negociar uma criança não era considerado crime em Nova
Iorque, assim o criminoso costumava fechar seus negócios em lugares neutros na
grande metrópole. Mesmo assim, seus passos já estavam sendo vigiados. Joey Perratta (Romano Orzari) e Laura Jackson
(Claudia Besso), dois representantes da polícia, tentam um encontro fingindo
estarem interessados em uma adoção, mas Szabo percebe que eles sabem muito
sobre o esquema, afinal o rapaz toca no assunto pagamento quando a maioria dos
casais se surpreende e se irrita ao saberem que estão fazendo parte de uma
espécie de leilão.
Nathalie
e Steve são procurados pelos policiais da tal tentativa frustrada de prender em
flagrante Szabo e aceitam colaborar no caso, assim eles entram em contato com o
criminoso novamente demonstrando interesse em Gitta, mas cada passo do casal
será agora monitorado através de câmeras escondidas, telefones grampeados e
escutas. Assim o longa dirigido por Peter Swatek, apesar de muito modesto e
sujeito a muitas críticas, não é todo ruim e presta um serviço importante para
a sociedade, e não só americana. O comércio de bebês é uma realidade mundial e
esconde muitos podres em seus bastidores. Por exemplo, as crianças vendidas
geralmente são frutos de sequestros. No caso do filme, a menina é de origem
húngara e sua mãe verdadeira, Janka (Elizabeth Marleau), parece ter algum tipo
de ligação com Szabo ou no mínimo estar sendo mantida em cativeiro, o que
aumentaria a ficha criminal do rapaz que por mais estúpidas que as leis sejam
não poderia negar que é um estelionatário e que assumia uma identidade falsa
para realizar as transações. Pelo menos 14 bebês ele vendeu aumentando o preço
de acordo com a procura, o padrão de vida da clientela e o tipo de criança que
tinha em mãos, ressaltando que as recém-nascidas e de pele clara valem mais.
Apesar de envolvente, é uma pena que a trama não seja ousada e não se aprofunde
no submundo habitado por Szabo que certamente envolve drogas, prostituição,
comércio de armas e quem sabe até tráfico de pessoas adultas e órgãos. Ele pode
ser mais cauteloso e preferir o comércio de inocentes, mas sem dúvidas ele tem
conhecimentos de outros crimes e amizades no meio. Ainda de forma rápida é
feita uma tentativa de mostrar qual o destino de Gitta, visto que para todos os
efeitos a mãe dela seria conivente com a venda da filha, o que não é verdade, e
os Johnsons teoricamente não poderiam adotar a menina por ela ter sido
sequestrada de seu país natal. Ainda que com um tema tão polêmico e cheio de
caminhos a serem trabalhados, a versão compactada de um caso em milhões
apresentada por Tráfico de Bebês consegue envolver o espectador menos exigente,
mesmo com os constantes e irritantemente perceptíveis cortes típicos de
telefilmes. Felizmente é provável que após este fato verídico, ou o enxame de
casos semelhantes que passaram a ser descobertos, as leis foram revistas e a
venda de bebês passou a ser considerado um crime no território nova-iorquino
fechando ainda mais o cerco contra os bandos praticantes deste ato cruel,
porém, não extinguindo a infração totalmente. A frase que fecha o longa é para
guardar em um diário: “o parto é um ato da natureza, mas a adoção é um ato de
Deus”.
Drama - 90 min - 2004
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