sábado, 30 de julho de 2016

TRÁFICO DE BEBÊS (2004)

Nota 7,0 Telefilme presta importante serviço social, mas infelizmente não se aprofunda no tema

Para realizar um sonho vale a pena pagar o preço que for, mesmo que precise abrir mão de princípios e ajudar o crime organizado? É essa a discussão colocada em xeque em Tráfico de Bebês, drama policial feito para a TV, mas bastante eficiente apesar de sua estética e narrativa de novela. A trama de John Wierick é inspirada em fatos reais e gira em torno do casal Nathalie (Dana Delanei) e Steve Johnson (Hart Bochner) que há muito tempo querem ter um filho, mas não conseguiram por vias naturais e tampouco estão acertando investindo na adoção. Movida pelo impulso, Nathalie se entusiasma quando encontra na internet um site que promete facilitar os trâmites para um casal conseguir um bebê legalmente e ela não pensa duas vezes antes de preencher uma ficha, o que irrita inicialmente seu marido, pois agora informações confidenciais do casal podem estar nas mãos de pessoas de má índole. A mesma desconfiança é compartilhada pela advogada deles, Kathy (Ellen David), que acha esquisito as poucas informações disponíveis sobre Gabor Szabo (Bruce Ramsey), também advogado e que passou um email quase que instantâneo para Nathalie falando que deseja entregar para adoção a sua própria filha, a pequena Gitta. O primeiro encontro entre os Johnsons e o doador da criança é bastante amistoso e praticamente deixa acertado que a bebezinha em menos de 24 horas terá um novo lar, porém, na hora da entrega definitiva um golpe é revelado. Szabo não quer discutir os termos legais da adoção e sim quanto ela vale financeiramente. Aproveitando-se das informações sobre o padrão de vida e do estado emocional de seus “clientes”, o inescrupuloso advogado pede uma alta quantia e enquanto os candidatos a pais pensam a respeito ele continua oferecendo Gitta para outras famílias. Na época em que a ação se passa, imperdoavelmente não identificada (talvez 2004, ano da produção), infelizmente negociar uma criança não era considerado crime em Nova Iorque, assim o criminoso costumava fechar seus negócios em lugares neutros na grande metrópole. Mesmo assim, seus passos já estavam sendo vigiados.  Joey Perratta (Romano Orzari) e Laura Jackson (Claudia Besso), dois representantes da polícia, tentam um encontro fingindo estarem interessados em uma adoção, mas Szabo percebe que eles sabem muito sobre o esquema, afinal o rapaz toca no assunto pagamento quando a maioria dos casais se surpreende e se irrita ao saberem que estão fazendo parte de uma espécie de leilão.

Nathalie e Steve são procurados pelos policiais da tal tentativa frustrada de prender em flagrante Szabo e aceitam colaborar no caso, assim eles entram em contato com o criminoso novamente demonstrando interesse em Gitta, mas cada passo do casal será agora monitorado através de câmeras escondidas, telefones grampeados e escutas. Assim o longa dirigido por Peter Swatek, apesar de muito modesto e sujeito a muitas críticas, não é todo ruim e presta um serviço importante para a sociedade, e não só americana. O comércio de bebês é uma realidade mundial e esconde muitos podres em seus bastidores. Por exemplo, as crianças vendidas geralmente são frutos de sequestros. No caso do filme, a menina é de origem húngara e sua mãe verdadeira, Janka (Elizabeth Marleau), parece ter algum tipo de ligação com Szabo ou no mínimo estar sendo mantida em cativeiro, o que aumentaria a ficha criminal do rapaz que por mais estúpidas que as leis sejam não poderia negar que é um estelionatário e que assumia uma identidade falsa para realizar as transações. Pelo menos 14 bebês ele vendeu aumentando o preço de acordo com a procura, o padrão de vida da clientela e o tipo de criança que tinha em mãos, ressaltando que as recém-nascidas e de pele clara valem mais. Apesar de envolvente, é uma pena que a trama não seja ousada e não se aprofunde no submundo habitado por Szabo que certamente envolve drogas, prostituição, comércio de armas e quem sabe até tráfico de pessoas adultas e órgãos. Ele pode ser mais cauteloso e preferir o comércio de inocentes, mas sem dúvidas ele tem conhecimentos de outros crimes e amizades no meio. Ainda de forma rápida é feita uma tentativa de mostrar qual o destino de Gitta, visto que para todos os efeitos a mãe dela seria conivente com a venda da filha, o que não é verdade, e os Johnsons teoricamente não poderiam adotar a menina por ela ter sido sequestrada de seu país natal. Ainda que com um tema tão polêmico e cheio de caminhos a serem trabalhados, a versão compactada de um caso em milhões apresentada por Tráfico de Bebês consegue envolver o espectador menos exigente, mesmo com os constantes e irritantemente perceptíveis cortes típicos de telefilmes. Felizmente é provável que após este fato verídico, ou o enxame de casos semelhantes que passaram a ser descobertos, as leis foram revistas e a venda de bebês passou a ser considerado um crime no território nova-iorquino fechando ainda mais o cerco contra os bandos praticantes deste ato cruel, porém, não extinguindo a infração totalmente. A frase que fecha o longa é para guardar em um diário: “o parto é um ato da natureza, mas a adoção é um ato de Deus”.

Drama - 90 min - 2004

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