sábado, 16 de janeiro de 2016

OPIUM - DIÁRIOS DE UMA MULHER ENLOUQUECIDA

Nota 6,0 Longa enfoca relação doentia entre médico e paciente em um hospital psiquiátrico

A mente humana ainda é um grande mistério e conforme o tempo passa e os estudos psicológicos e clínicos avançam mais complexo este assunto parece ser e ainda nos deparamos com atitudes inexplicáveis de alguns seres humanos. É um tema infinito. Os problemas mentais podem ser de nascença ou adquiridos ao longo da vida devido a traumas, doenças ou até mesmo por uma má educação. Se hoje muitos pacientes que sofrem com doenças do tipo já não recebem tratamentos adequados imagine como as coisas eram no início do século 20. É essa triste realidade que a produção húngaro-alemã Opium – Diários de Uma Mulher Enlouquecida procura nos trazer descrevendo detalhadamente como eram os tratamentos oferecidos na época através da história de uma jovem que sem saber foi usada como cobaia de experimentos clandestinos. Na Hungria, em meados da década de 1900, o escritor e médico Josef Brenner (Ulrich Thomsen) está prestes a começar a trabalhar em uma clínica psiquiátrica. Durante meses ele vem sofrendo com um bloqueio mental que o impossibilita de redigir até mesmo uma única linha e tal problema o levou ao vício do ópio, substância que causa um estado de certa dormência, uma forma de aplacar seu sofrimento. Certo dia chega ao local uma nova paciente, Gizella (Kristi Stubo), uma moça que ao contrário de Brenner está sempre com vontade de escrever, redige com frequência em seu diário, mas também está com um grave problema. Ela está obcecada pela ideia de que um poder cruel e estranho a possui. O médico acaba desenvolvendo um interesse particular por esta paciente que claramente sofre de esquizofrenia, mas sua compulsão pela escrita é o que mais lhe chama a atenção e tentará tirar o máximo de proveito possível deste dom da jovem.

Gizella é submetida a experimentos com direito a terapias de choque, isolamentos, imersões em água fria ou até mesmo a prática da lobotomia (intervenção cirúrgica que interrompe as ligações cerebrais supostamente causadoras da esquizofrenia), ou seja, todos os tratamentos típicos da Era Medieval, assim como o próprio cenário da clínica que nos remete aos tempos em que gente doente era tratada como animais. O roteiro de Andras Szeker e János Szász, este último que também assina a direção, apóia-se basicamente nas ações de sua dupla protagonista. Thomsen vive o psiquiatra de caráter duvidoso. Ele aproveita de sua alcunha de escritor para seduzir as mulheres e seu interesse pela nova paciente, vivida com garra e total desprendimento por Stubo, acaba ultrapassando os limites da ética profissional. Além de se apropriar dos escritos da jovem, praticamente todos envolvendo temáticas sofridas já que ela acredita ser possuída pelo Diabo, Brenner também a abusa sexualmente. Gizella acredita que por conta desse interesse sexual mútuo ela estaria de fato casada com seu médico e seu estado de saúde mental até melhora um pouco, mas não demora muito a surtar novamente. Essa relação médico-paciente é um tanto doentia. Parece que ao mesmo tempo em que sente atração sexual pela moça, Brenner também nutre certa inveja por facilidade com a escrita. É como se ele quisesse sugar dela toda a sua capacidade intelectual e emocional enquanto para Gizella tal relação é sua válvula de escape para seus problemas de possessão. Com um ritmo arrastado e cenas e diálogos fortes, Opium – Diários de Uma Mulher Enlouquecida  é uma opção para quem procura um filme mais cabeça e que esteja preparado para uma trama interessante, porém, angustiante. De certa forma claustrofóbico, vale ressaltar que este trabalho dá um respiro ao espectador em alguns momentos graças à predominância de tons pastéis em algumas sequências belissimamente captadas pelas lentes de Szász que acabou criando uma obra que pode não ser perfeita, mas destoa completamente do glamour que emoldura o conceito que muitos ainda tem do cinema europeu. 

Drama - 109 min - 2007

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