segunda-feira, 25 de abril de 2016

CARA, CADÊ MEU CARRO?

NOTA 4,0

Insano, bizarro, criativo, surreal,
tosco, ridículo, confuso... Comédia teen
agrada e desagrada em iguais proporções,
mas é fato que ganhou certa aura cult
Sabe aquele filme que você lembra que detestou, mas que o passar dos anos e o boca a boca positivo de outros trataram de lhe dar certa projeção? Esse é o caso de Cara, Cadê Meu Carro?, comédia adolescente das mais alopradas, porém, com uma incrível legião de fãs que concordam que a produção é imbecil do começo ao fim, mas ainda assim divertida e com boas sacadas. Claro que analisando com os olhos do público-alvo, os adolescentes, a fita pode até ser bacana e apresentar situações pertinentes a seus universos, mas é possível que no futuro as mesmas pessoas que elogiam a fita possam se envergonhar de um dia ter dado atenção ao trabalho do roteirista Philip Stark em uma tentativa de renovar o estilo das comédias teens através de uma história absurda inspirada em fatos que ele próprio e seus amigos viveram na juventude. Você tinha o rosto cheio de espinhas em 2000 e morreu de rir com a fita? Se a resposta for positiva, reveja e faça o teste para ver o quanto amadureceu (ou não). Eis a mirabolante trama. Após uma balada daquelas de virar a madrugada chapadão, Jesse (Ashton Kutcher) e Chester (Sean William Scott), dois grandes parceiros que compartilham o mesmo nível de imbecilidade, acordam sem ter a menor ideia do que fizeram a noite. Todavia, não demora muito para perceberem que se meteram em uma grande confusão. Jesse não encontra seu carro e juntos partem em busca de respostas para uma série de acusações e mal entendidos que passam a sofrer. A cada nova pista que encontram mais evidências surgem de que eles estavam totalmente fora de órbita, pois só assim para explicar como eles conseguiram roubar uma grande quantia de dinheiro de um travesti, passaram por lugares que não costumam frequentar, estão com um estoque de bolo inglês na geladeira para se alimentarem por meses e ainda colocaram as mãos em um misterioso objeto que está sendo procurado por muita gente. Agora a dupla precisa correr contra o tempo para recuperar a memória e livrar suas caras, mas a essa altura já estão metidos em encrencas até o pescoço. Todavia, o maior dilema desses caras é limpar a barra com suas namoradas, as gêmeas Wanda (Jennifer Garner) e Wilma (Marla Sokoloff), que ficam sem chão por acreditarem que eles detonaram a casa delas e esqueceram o presente de aniversário delas. Que problemão, não é?

Se geralmente associamos o trash a filmes de terror, eis a prova que o termo cai como uma luva a produções de outros gêneros também. Falar que essa fita é ruim é quase como fazer um grande elogio ao trabalho do diretor Danny Leiner. Ele próprio assume que caiu na gargalhada logo na primeira leitura do roteiro, mas esta comédia só deve fazer sentido caso o espectador esteja tão chapado quanto os personagens. Difícil entender como pode haver pessoas em Hollywood que ainda investem em bobagens sem pé nem cabeça como esta. A resposta é simples: demanda! O longa custou uma ninharia e rendeu horrores nas bilheterias americanas, mas no Brasil a repercussão foi mínima. É uma produção feita sob medida para agradar aos teens ianques, principalmente os rapazes, e que encontrou certa dificuldade para dialogar com os jovens de outras regiões, nem tanto pelo enredo estapafúrdio, mas muito pela forma como o conteúdo foi apresentado. A sensação de esquetes cômicos alinhavados por um fiapo de trama é constante. Kutcher dava seus primeiros passos no mundo do cinema e se tornou um representante da geração MTV, aquela cujos integrantes queriam saber de curtição em período integral. Seu currículo é composto por títulos que rapidamente foram rotulados como clássicos teens, tendo como destaque Efeito Borboleta. Já Scott vinha do sucesso American Pie e virou figurinha fácil em fitas juvenis que só servem para matar o tempo em uma sessão-pipoca com os amigos. O tempo passo e o ator continua na mesma vibe e preso a um único tipo papel, o de marmanjo que parece recusar de todas as formas amadurecer. O clima de camaradagem da dupla é de longe o que há de melhor no filme e ambos convencem em seus papéis, ao contrário do restante do elenco que está em cena apenas para protagonizar cenas que constrangem o espectador de tão ridículas ou mal feitas que são.

De fato, o filme é esteticamente feio e vexatório em termos narrativos, mas tudo propositalmente e o diretor parece rir de seu próprio trabalho. Todavia, visto hoje e mesmo com todos os seus exageros, é uma obra que de certa forma representa a geração teen da virada do milênio e talvez por isso acolha um grande número de simpatizantes ao seu estilo anárquico e sem noção. Realizar um filme estúpido por opção e não por falta de traquejo com a produção não é uma tarefa fácil. Palmas para Leiner que conseguiu tal proeza e não se intimidou em fazer um trabalho com cenas tão díspares. Em um momento os protagonistas estão fugindo de um travesti cobrando uma noitada e minutos depois os rapazes são prisioneiros de um instrutor de avestruzes (oi?). É uma montanha-russa de aventuras e micos. O pessoal da edição deve ter tido muito trabalho para acompanhar o roteiro, visto que são diversas situações curtas e impossível adivinhar qual será próximo enrosco de Jesse e Chester. A série de absurdos é crescente e culmina num desfecho multicolorido com direito a alienígenas e teóricos vestidos com plástico-bolha confabulando sobre conspirações. O leque de personagens obviamente não descarta os estereótipos tão comuns ao universo juvenil como mauricinhos, nerds, bobalhões, gostosonas e no meio dessa fauna encontramos uma jovem Jennifer Garner ainda aspirando uma boa oportunidade. Pobrezinha, deveria estar com dívidas para aceitar um papel tão bobo, ainda mais tendo a tira-colo a incompetente Sokoloff vivendo sua irmã. Enfim, de tão absurdo que é, Cara, Cadê Meu Carro? pode até provocar algumas boas risadas, gargalhamos de nós mesmo por perder tempo com tanta bobagem. Contudo, mais uma vez palmas para todos os envolvidos. É preciso ter muita coragem para lançar porcarias deste nível, porém, a grana fácil arrecadada certamente compensa qualquer humilhação.

Comédia - 90 min - 2000

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2 comentários:

Tsu disse...

Nossa esse é um verdadeiro clássico bizarro de comédia.
Eu recomendo!

ah acaso vc já visitou o meu blog? Lembro que um Guilherme comentou em algumas postagens minhas mas como no post não havia link não tive como retornar as respostas.

Bom curti muito seu blog já estou seguindo. Se puder, me siga tambem!

http://www.empadinhafrita.blogspot.com

marcosp disse...

kkkkkkkkk, esdrúxulo e muito legal o filme, não é o Roteiro arrebatador, mas vale pela sessão da tarde, com certeza...