terça-feira, 23 de junho de 2015

A MENTIRA

NOTA 7,0

Comédia adolescente com
roteiro acima da média é
prejudicada por excesso de
coadjuvantes e subtramas
Para variar, mais uma vez a escolha do título brasileiro não foi muito feliz. Será mesmo? A Mentira é muito genérico e poderia sugerir um drama ou suspense, mas quando batemos o olhos em algumas imagens do filme percebemos na hora de que se trata de uma comédia adolescente cuja protagonista tem ares de sósia da atriz Lindsay Lohan, o que convenhamos não é muito animador. A julgar pelos primeiros minutos desta produção também será difícil alguém confiar que ela vá longe. O tema mentiras já foi usado em centenas de filmes, algumas vezes para denegrir imagens, outras para poupar sofrimentos, mas aqui ela é usada para dar um upgrade na vida social de dois adolescentes não muito populares no colégio, sendo o foco principal a garota que ganha fama de mulher fácil de conquistar. Olive (Emma Stone) era uma daquelas estudantes cuja presença ninguém notava até que ela contou uma mentira para Rhiannon (Alyson Michalka), sua melhor amiga, sobre um encontro amoroso e quente com um calouro da faculdade, quando na verdade ela é virgem. O boato sobre o ato promíscuo se espalha rapidamente despertando a ira de Marianne (Amanda Bynes), uma patricinha fanática religiosa, mas Olive não se importa e até gosta da popularidade repentina. Tal fama levou seu amigo Brandon (Dan Byrd), que estava sofrendo horrores na escola pelas desconfianças de ele ser homossexual, a pedir sua ajuda para reverter essa situação e melhorar sua reputação. Eles tiveram a genial idéia de simular em uma festa que transaram. Todos os convidados da escola se amontoaram na frente da porta do quarto para tentar ouvir e espiar o que acontecia lá dentro. Olive e Brandon capricharam nos gemidos e diálogos e de uma hora para a outra passaram a ser o assunto do colégio. No início tudo ia bem, mas aos poucos aquela mentira passou a ganhar outros contornos. A moça acabou levando a sério sua farsa de mulher fatal e viu sua liberdade acabar e os garotos se aproximando dela apenas para se aproveitarem. Definitivamente a mentira foi longe demais. Pronto, o título nacional agora faz todo sentido e cai como uma luva. 
Apesar da história ser basicamente interpretada por adolescentes para entreter espectadores da mesma faixa etária, o roteiro é até um pouco acima da média para seu público alvo e, mesmo usando o sexo como o grande deflagrador da mentira, não cai na armadilha de virar um filme bobo com jovens descerebrados que só pensam naquilo no estilo American Pie. Usando falas cheias de sarcasmos e piadas implícitas, o enredo provoca boas risadas, mas está longe de ser excepcional. O problema não é o mote principal, mas sim as tramas paralelas que acabam desperdiçando um elenco talentoso em papéis secundários pouco explorados e cujas ausências até poderiam beneficiar a história tornando-a mais enxuta. Os professores do colégio interpretados por Lisa Kudrow e Thomas Haden Church têm uma trama boba e totalmente desnecessária, enquanto Stanley Tucci e Patricia Clarkson vivem os pais da protagonista e se mostram moderninhos demais, totalmente inverossímeis e perdidos na trama. É de se estranhar que a conhecida dos teens Amanda Bynes, fadada a viver o papel de adolescente até quando seu rostinho jovem permitir, não tenha sido escolhida para viver a protagonista e acabou ficando com um papel apagadinho. Ela é a líder de um grupo de jovens que apreciam a religião, os bons costumes e que pregam a idéia de que o sexo só deve ser vivenciado após o casamento. Porém, essa turma é retratada de forma estereotipada. Juntos todos declamam frases de efeito e gostam de cantarolar canções de louvor, mas bem que alguns dos rapazes não resistem e também procuram os serviços de Olive que passa a faturar concordando em espalhar novos boatos que salvam a reputação dos contratantes, mas afundam a dela ainda mais. Aliás, o filme é de Emma Stone sem dúvida alguma. Após participar de várias outras produções como Superbad e A Casa das Coelhinhas, finalmente ela teve a grande chance de brilhar e tirou o máximo de aproveitamento. Realmente ela surpreende vivendo uma personagem com diversas nuances. Mostra-se imatura ao se sentir pressionada a revelar suas intimidades para uma amiga, mas tem uma imaginação fértil e avançada para criar contos picantes. Transmite maturidade e autoconfiança trajando roupas sensuais, mas sua banca é desmontada quando é chamada na diretoria para conversar sobre a imagem que está construindo para si própria, momento em que descobre os podres de outras pessoas do colégio e cai a ficha sobre o que ela está fazendo. A dedicação ao personagem lhe rendeu elogios e certamente sua popularidade a levou a protagonizar o bem mais elaborado e relevante Histórias Cruzadas.
A popularidade que esta produção atingiu se deve muito a forma como os temas adolescentes foram jogados na tela quebrando clichês, embora exagerando em alguns aspectos. De qualquer forma, aceitação, bullying, homossexualismo, individualidade, amor e respeito são colocados em discussão por personagens que falam a língua e vivem a vida dos jovens. O importante é que os conceitos trabalhados são universais. É até difícil acreditar que uma história aparentemente tola e que se revela bem divertida e crítica tenha sido dirigida por uma pessoa com pouca experiência. O diretor Will Gluck, cujo trabalho mais famoso seja Pelas Garotas e Pela Glória, uma comédia adolescente, também mostrou habilidade ao inserir literalmente elementos nostálgicos. O longa está cheio de referências a clássicos filmes da década de 1980 como Curtindo a Vida Adoidado, aliás, alguns deles até tem rápidas cenas exibidas para retratar o mundo de sonhos que Olive tinha a respeito da adolescência. A própria essência da história é uma mescla de ingenuidade e certa dose de amadurecimento precoce, marcas registradas do cinema infanto-juvenil de outrora. Para quem já não é mais um jovenzinho, talvez o filme pareça uma bobagem qualquer para passar o tempo, mas para quem está em plena idade dos teens ele já é forte candidato à clássico das sessões da tarde das próximas décadas, aquele que sempre que passar na televisão os trintões do futuro vão tentar dar uma espiadinha para matar saudades de uma época que não volta mais e talvez se perguntar porque curtia aquilo. Uma ressalva: a realidade dos adolescentes e do colégio retratados deve parecer um tanto ficcional em diversos cantos do mundo, inclusive o Brasil, e até mesmo é difícil de acreditar que as coisas sejam assim em solo americano. A Mentira é talhado para agradar a geração MTV cujos representantes querem dar risada, beijar na boca, beber coca-cola e comer pipoca, tudo ao mesmo tempo, e por fim esquecer o que assistiu rapidamente. De qualquer forma, uma diversão bem-vinda.
Comédia - 92 min - 2010 

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Um comentário:

renatocinema disse...

Bom filme. Esperava apenas uma bobagem e achei relevante, apesar de não ser tocado forte no tema. Acho muito válido e recomendo.