quarta-feira, 10 de junho de 2015

ALÉM DA VIDA

NOTA 7,0

Clint Eastwood dirige drama
cujo foco é especular sobre as
coincidências da vida e as
reações sobre o tema morte
Todo mundo pelo menos uma vez já se perguntou como seria a vida depois da morte e esse é um tema bem intrigante que acaba chamando a atenção de muita gente independente da religião, pois diz respeito a uma dúvida universal. Por mais estudos e relatos que possam ser encontrados, ninguém sabe ao certo como seria o paraíso e o inferno, se é que eles existem, ou o que nos espera depois que partimos, mas o cinema está aí para criar e perpetuar imagens e tentar vender uma ideia de como funciona o além. Ficcionais ou não, estas especulações podem nos confortar ou nos amedrontar, mas servem principalmente para mudarmos nossas condutas e pensamentos no presente e no futuro. O espiritismo tem sido uma corrente forte no cinema nacional, tendo seu ápice entre os anos de 2009 e 2011, mas parece que o modismo atravessou os oceanos e também se espalhou por outros países, incluindo os EUA. Foi o Brasil que influenciou os gringos ou foram nossos cineastas que buscaram inspiração numa temática em alta mundo afora? Tanto faz, o fato é que os mistérios que envolvem o tema vida após a morte já estiveram presentes em inúmeras produções, sejam elas de terror, suspense, alguns bem intencionados dramas e até mesmo em comédias. O artifício que antes era usado com mais frequencia para assustar plateias parece que agora está sendo levado mais a sério e recebendo o merecido respeito, tanto que até o conceituado ator e diretor Clint Eastwood foi seduzido pelo assunto e assinou Além da Vida, uma interessante obra que visa tocar o emocional de todos os tipos de público independente de suas crenças, mas que encontra certas dificuldades para atingir tal objetivo. O roteiro de Peter Morgan nos apresenta a três personagens distintos que apesar de morarem longe e não serem parentes ou amigos acabam sendo muito próximos devido as circunstâncias que estão passando em um determinado período de suas vidas. Literalmente é a morte que os une e todos eles têm contato com ela de alguma forma diferente. O enredo converge no terceiro ato todas estas histórias paralelas. Apesar de ter com pano de fundo o espiritismo, a produção enfoca na realidade a relação do ser humano com a morte, mas infelizmente não chega a conclusões definitivas, apenas despertando o espectador à reflexão. Na melhor das hipóteses, a obra procura explorar as misteriosas coincidências que fazem com quem pessoas completamente estranhas possam de repente encontrar pontos em comum que as unem.

Eastwood continua sendo muito lembrado pelos brucutus que interpretou no passado em filmes de faroeste, mas toda vez que se coloca atrás das câmeras demonstra muita sensibilidade. Aqui ele trata o espiritismo sem ser piegas e nem tentando conquistar novos fiéis à crença de que existe vida após a morte. Ele simplesmente sugere que há um mistério quando partimos, mas não sabe o que é e nem tem a pretensão de desvendá-lo. Cada um terá sua hora de descobrir e por mais que doa a saudade de alguém ou o medo de partir o tempo se encarregará de colocar tudo no lugar. A história começa em 2004 na Indonésia onde a jornalista francesa Marie (Cécile De France) está passando férias em plena época em que um grande tsunami atingiu a região e por pouco ela não perdeu a vida. De volta a Paris, agora ela quer publicar sua visão a respeito dessa experiência de quase morte em um livro. Em Londres, o menino Marcus (Frankie McLaren/George McLaren) perde seu irmão gêmeo Jason repentinamente e está desesperado para entender o porquê disto ter acontecido e deseja alguma mensagem do além para confortá-lo já que não pode contar com o apoio nem mesmo da mãe, uma viciada em narcóticos. Por fim, em San Francisco, vive George (Matt Damon), um rapaz que desde pequeno consegue manter contato com as pessoas que já partiram deste mundo e foi incentivado a lucrar com seu dom. Considerando-se um charlatão e que seu poder na verdade é como uma maldição, o jovem quer levar uma vida normal, inclusive disposto a jogar para o alto sua carreira como médium, e encontra em Melanie (Bryce Dallas Howard), uma colega do curso de culinária, a sua válvula de escape para o carma que o aflige. A introdução já se mostra muito eficiente por fisgar a atenção retratando uma catástrofe natural que o mundo todo acompanhou quase que em tempo real através dos noticiários da TV e da internet, um gancho estratégico que cria uma identificação imediata do espectador com a trama. Essas cenas são ricas em intensidade dramática e os efeitos visuais discretos ajudam a dar certa dose de adrenalina ao longa, mas logo a narrativa abre espaço para um ritmo lento dominá-la, porém, essa opção é importante para a condução da história. Vale ressaltar que os efeitos especiais são raros na filmografia de Eastwood, mas aqui tem papel importante. Apesar de serem poucas as cenas em que eles são usados, foram empregados na medida certa para impactar as plateias, ainda mais porque o longa chegou aos cinemas em meio a acontecimentos semelhantes no Japão que também sofria com a passagem de um tsunami, todavia, tal coincidência não colaborou para o sucesso do longa.

Apesar de o início focar a personagem feminina principal, a espinha dorsal do enredo é o personagem de Damon que vive um dilema entre aceitar o seu dom ou renegá-lo. O ator parece muito a vontade no papel, as vezes até em demasia como, por exemplo, nas cenas em que George fala com os mortos. Seu gestual e modo de interagir com eles não se encaixaram bem no contexto. O rapaz luta para se livrar desse dom, mas parece muito a vontade quando ele se manifesta. Já nas cenas em que divide seus dilemas com a atriz Bryce Dallas Howard, o ator se recupera e consegue dar um clima romântico ao longa. Os outros dois protagonistas não ficam para trás no quesito atuação e seus personagens oferecem bons entrechos à narrativa e são de suma importância para dar suporte ao conflito do médium. Tanto Marie quanto Marcus a ajuda de George para compreenderem melhor a morte, mas ele próprio também busca respostas para lidar com seu poder. O roteiro tem a proeza de criar interessantes ligações entre estes personagens e cada trama é tratada com apuro semelhante até que se misturam e se transformam em uma só. Esta é uma história que envolve amor, coincidências, sofrimento e solidão, porém, existe certa superficialidade no ar. Por mais que as três tramas sejam interessantes e os atores empenhados a entregar um bom trabalho, fica uma sensação que faltou alguma coisa para tornar o filme mais consistente e consequentemente envolver mais o espectador. A melancolia e a insatisfação presente nas vidas dos protagonistas acabam refletindo no conjunto de todo o longa. A frieza e o ritmo lento são marcas registradas da obra, pois o diretor quis se aprofundar nos sentimentos de cada um. Mesmo assim, a produção não é nenhum cult ou filme de arte, além de estar longe de ser um dos melhores títulos de Eastwood como diretor, mas é inegável que destoa no cenário do sub-gênero dos dramas espíritas. A longa duração e o clima triste onipresente não animam muitas pessoas e também deve decepcionar aos amantes do estilo legitimamente espírita, algo semelhante ao modelo imposto no cinema nacional através das obras adaptadas dos livros escritos por Chico Xavier por exemplo. Porém, justamente por ter achado um caminho novo para lidar com o espiritismo, Além da Vida se destaca e merece uma conferida.

Drama - 129 min - 2010 

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Um comentário:

Cine Mosaico disse...

Gostei muito da forma que a morte e a vida foram retratadas nesse filme. Não soa forçado em momento algum, nem mesmo nas cenas em que o protagonista se comunica "com o outro lado". Matt Damon tem se superado como ator a cada filme.

Abraços.

http://www.cinemosaico.com