terça-feira, 26 de abril de 2016

A VIDA SECRETA DOS DENTISTAS

NOTA 6,5

Longa acompanha o cotidiano
de um casal que vive uma união
de fachada, uma situação que traz
consequências para toda família
Mais difícil que escrever um roteiro ou concluir suas filmagens só mesmo a etapa de batizar um projeto. Alguns filmes só ganham título após todas as fases de produção terem sido concluídas, quando já se tem a ideia concreta do que o produto será. Outros trabalhos só ganham seu pontapé inicial, inclusive a redação da história, quando já estão intitulados.  Dar nome a um filme é muito complicado e é curioso quando a junção de algumas simples palavras podem passar ao público sentidos diferenciados. A Vida Secreta dos Dentistas é um bom exemplo. Embora seja claramente uma obra alternativa pela penca de indicações e participações em festivais que ostenta, com certeza quem se arrisca a assistir a este trabalho guiando-se pelo título se decepciona, inclusive os próprios profissionais da área de odontologia que não resistem a dar uma conferida. Ele remete a muitos espectadores a ideia de comédia, mas o nome cai como uma luva para este drama conjugal que envolve obviamente os dentistas, seus assépticos ambientes de trabalho e uma temática universal, mas cujo ritmo lento e ausência de momentos arrebatadores acabam trabalhando contra a obra em termos comerciais. Baseado no romance “The Age of Grief”, de Jane Smiley, o roteiro de Craig Lucas acompanha o cotidiano do casal Dana (Hope Davis) e David Hurst (Campbell Scott) que não dividem apenas a cama, mas também trabalham juntos em um consultório dentário. Quando estão em casa eles dedicam atenção para as três filhas pequenas, porém, no trabalho mal se falam optando por respeitarem suas individualidades. E tempo para eles dois? Perecbe-, portanto, que a aparente limpeza da clínica pode esconder germes e bactérias. Dana é apaixonada por ópera e participa do coro de uma produção teatral e em breve irá fazer uma apresentação. No dia do espetáculo, David encontra motivos para desconfiar que sua mulher o traia e passa a perceber que ela tenta se esquivar constantemente da família e do trabalho, provavelmente para poder ter seus encontros com o amante. Ao contrário da reação da maioria dos maridos traídos, ele resolve levar toda a situação com panos quentes, mas sem tirar os olhos de cima da esposa, chegando até mesmo a ter visões dela tendo relacionamentos com outros homens no próprio consultório. Todavia, a ruptura da família parece eminente, mas um problema inesperado de saúde que atinge a todos os membros pode uni-la novamente.

domingo, 24 de abril de 2016

AMOR OU AMIZADE

Nota 1,5 Sem história para contar, romance parece só existir para promover um jovem ator 

O nome Freddie Prinze Jr. hoje não agrega muito a publicidade de um filme, mas já teve seus tempos áureos. Boa pinta e carismático, o ator é lembrado pelo cabelo platinado usado quando interpretou Fred nos dois primeiros filmes live action de Scooby-Doo e sua turma, mas o auge de sua carreira ocorreu um pouco antes disso. O sucesso do terror Eu Sei o Que Vocês Fizeram no Verão Passado tornou o jovem muito popular entre os adolescentes, principalmente entre as meninas, muitas delas que elegiam suas produções como os filmes de suas vidas. Os enredos pouco importavam, a peça-chave era o galãzinho. Entre 1999 e 2001 o rapaz estrelou uma série de comédias românticas e ganhou contrato de exclusividade com a produtora Miramax, então o berço das fitas independentes e acumuladora de algumas dezenas de troféus do Oscar e tantas outras premiações. A empresa não levou Prinze às badaladas festas do cinema e ironicamente até ajudou a estagnar sua carreira ao se valer da máxima de que em time que está ganhando não se mexe. Em Amor ou Amizade o rapaz vivia pela enésima vez consecutiva o mesmo tipo de personagem com mínimas variações e conflitos tão rasos quanto um pires, mas como o próprio defendia, seus filmes abordavam temáticas relevantes ao público-alvo. Eram filmes feitos por adolescentes para adolescentes, ainda que o ator já estivesse longe da puberdade. Ok, em tempos de comédias que exaltam a liberdade sexual e os vícios como algo inerente a juventude, caem bem historinhas carregadas de ingenuidade com um certo quê de nostalgia, porém, é preciso certo estopo para segurar um roteiro minimamente. Com toda pinta de nerd no início, com cabelos lambidos e óculos de aros grossos, Prinze dá vida a Ryan, o típico bom moço, estudioso e cheio de convenções que nutre uma forte amizade por Jennifer (Claire Forlani), garota com perfil completamente oposto ao seu, liberal, extrovertida e que curte a vida intensamente. Eles se conheceram na fase inicial da adolescência durante uma viagem de avião, mas se estranharam logo de cara. Anos mais tarde, agora com o rapaz ostentando a imagem de boa-pinta, eles se reencontraram no colégio, ainda trocando algumas farpas, mas o destino parecia forçar uma aproximação de qualquer jeito. Embora fazendo cursos diferentes, seus caminhos se cruzaram novamente na faculdade e agora mais maduros finalmente conseguem consolidar uma relação de amizade, mas até que ponto ela iria? Ryan namorava com Amy (Amanda Detmer), a melhor amiga de Jennifer que a partir de então faz as vezes de ombro amigo aconselhando-o a viver novas experiências tal qual ela própria fazia respeitando seu jeito desprendido de levar a vida.

sábado, 23 de abril de 2016

O CONDOMÍNIO

Nota 2,0 Suspense entrega seus segredos logo de cara, assim tornando-se uma opção tediosa

Um antigo e sombrio edifício pode ser o palco perfeito para histórias de horror e suspense e o cinema já deu inúmeras provas disso contando histórias de arrepiar envolvendo assombrações clamando por ajuda, espíritos demoníacos impiedosos e assassinos malucos ou que agem por pura maldade. O suspense O Condomínio aposta em uma morte misteriosa como pontapé inicial, mas o enredo procura seguir uma linha mais policial, assim oferecendo a oportunidade do espectador participar da ação recolhendo pistas para chegar ao autor do crime. Será mesmo? A trama escrita por Alberto Sciamma e Harriet Sand nos apresenta à Leonard Grey (James Caan), o zelador de um antigo condomínio há mais de trinta anos. Ele está lá desde que a ranzinza Lily Melnik (Geneviéve Bujold) comprou o edifício e mandou reformá-lo por completo. Desde um simples cano até o papel de parede do hall de entrada, tudo foi escolhido e colocado pelo próprio Grey. Apesar de tanto anos de serviços prestados e mesmo com o peso da idade, o zelador não abandona sua rotina de cuidados com o prédio, mas não leva uma vida muito agitada. Seu metódico cotidiano muda drasticamente quando um dos moradores é encontrado morto dentro de uma lixeira e todos os que moram ou trabalham no local se tornam suspeitos. Grey, aos poucos, começa a descobrir estranhos objetos que podem ter ligações com o crime escondidos sob o piso de um dos andares. Além disso, este homem sofre de um sonambulismo que apaga totalmente a sua memória, o que o leva a suspeitar que ele próprio possa ser o assassino, ainda que tenha agido de forma inconsciente. Para piorar tudo, Grey não tem uma boa relação com Lily e ainda se envolve com a sedutora Donna Cherry (Jennifer Tilly), cujo marido Bill (Peter Keleghan) é justamente o morador assassinado.

sexta-feira, 22 de abril de 2016

O RITUAL (2011)

NOTA 7,5

Mesmo abordando as possessões
demoníacas por uma ótica
mais realista, longa não deixa
de fazer uso dos clichês
Filmes inspirados em fatos reais têm um forte apelo junto ao público, mas também podem despertar desconfianças. Quando os tais acontecimentos envolvem assuntos do além, as dúvidas quanto a veracidade dos fatos são ainda maiores, embora o número de curiosos pelo tema seja grande. Produções do tipo foram e continuam sendo lançadas aos montes diretamente em DVD e muitas são produzidas exclusivamente para canais de TV, o que já sugere que os argumentos não são dos melhores assim como os produtos também não inspiram confiança em suas partes técnicas, tanto que o subgênero dos longas sobrenaturais vira e mexe está em crise, mas ainda bem que sempre algum produto do tipo ao menos razoável pode ser encontrado em meio ao lixo e dar certo ânimo para confiarmos em sua recuperação. O Ritual é um bom exemplo disso, embora a primeira vista pareça algo descartável. Tendo como grande chamariz o nome do ator Anthony Hopkins nos créditos, a obra é baseada no livro homônimo de Matt Baglio, jornalista que conviveu alguns anos com padres exorcistas, entre eles Gary Thomas, protagonista da trama cujo nome foi trocado. Com tal experiência, o escritor aprendeu a distinguir uma possessão de uma doença mental e acompanhou dezenas de exorcismos. A trama roteirizada por Michael Petroni nos apresenta a Michael Kovak (Colin O’Donoghue), um rapaz que cresceu acompanhando de perto o fim da vida de dezenas pessoas em uma maca sendo arrumados para o enterro pelo seu pai Istvan (Rutger Hauer). Isso o fez crescer sem acreditar que existe algo depois da morte, assim ele se tornou um seminarista cético e decidido a abandonar seus trabalhos na igreja, mesmo após ter aulas sobre os sinais de possessão. Para não se arrepender mais tarde, seu superior o orienta então a passar um período no Vaticano para estudar rituais de exorcismo e quem sabe mudar de ideia e recuperar sua fé. Porém, suas dúvidas e questionamentos só aumentam na medida em que estreita seu contato com o Padre Lucas (Anthony Hopkins), um famoso jesuíta exorcista, e este o apresenta ao lado mais obscuro da religião. É quando Michael conhece a jornalista Angeline (Alice Braga), que investiga as atividades do religioso e as suas reflexões sobre a crença no Diabo e em Deus não param de crescer. Juntos, os dois jovens vão acompanhar os duros trabalhos do padre para tentar tirar o demônio do corpo de Rosaria (Marta Gastini), mas os conhecimentos de psicologia do rapaz o impedem de acreditar no que vê.
               

quinta-feira, 21 de abril de 2016

UM CAMINHO DE LUZ

NOTA 8,5

Drama espanhol baseado
em fatos reais é tocante,
esclarece sobre uma grave
doença e crítica religião
Filmes protagonizados por pessoas que estão sofrendo com algum tipo de câncer existem aos montes. Na intenção de esclarecer dúvidas e incentivar os diagnósticos precoces até pequenos talentos interpretando crianças que sofrem com a doença já brilharam no cinema com atuações comoventes. Por tratar de um assunto difícil e que praticamente mexe com o emocional de todos, afinal aparentemente ninguém está livre desta doença silenciosa que pode surgir por inúmeras razões e que ainda a ciência vem pesquisando, muitas produções do tipo acabam passando em brancas nuvens, principalmente pelos olhos dos espectadores que recorrem a filmes apenas por diversão. Bem, se esse é realmente seu objetivo passe bem longe de Um Caminho de Luz, um drama belíssimo, mas que pouco a pouco nos deixa com um nó na garganta tamanho o sofrimento da jovem protagonista, uma garotinha sonhadora, mas ao mesmo tempo muito pé no chão. Vencedor de seis prêmios Goya, o Oscar Espanhol, esta produção nos emociona até o último minuto, porém, não é recomendada aos mais críticos e principalmente aos insensíveis que certamente vão rotular este trabalho como um manipulador de emoções de marca maior. O longa conta a história de Camino (Nerea Camacho), uma menina de apenas onze anos que está ao mesmo tempo enfrentando duas situações totalmente opostas e inéditas para ela: o nascimento do amor e a aproximação da morte. Após ser diagnosticada erroneamente com simples problemas de coluna, é descoberto que ela possui um estranho e agressivo tipo de tumor que começa a destruir sua vida e vai lhe privando pouco a pouco de cada uma de suas ilusões e vontades para o futuro. As visitas aos hospitais e os procedimentos cirúrgicos cada vez se tornam mais constantes até que Camino fica presa a uma cama definitivamente. A cada novo obstáculo que a vida lhe coloca, ela se enche de forças e faz suas orações para não se deixar abater e procura alguma forma de se adaptar as suas novas condições físicas, vivendo assim cada dia intensamente, ainda que só em sonhos. Mesmo nestas circunstâncias ela ainda sonha com a peça “Cinderela” que faria na escola na qual atuaria com o garoto por quem se apaixonou. A narrativa tem alguns momentos mais lúdicos e que dão um respiro ao espectador graças a inserção de cenas do desenho da Disney e até mesmo da peça escolar sobre a gata borralheira da qual a protagonista participaria. Os sonhos que Camino tem com o conto clássico, com o garoto que gosta, aqueles em que ela aparece curada, entre tantos outros, possuem estéticas que lembram ao filme Um Olhar do Paraíso, outro drama no qual uma jovem menina precisa se acostumar com sua nova realidade e os sonhos surgem como um alívio. Pena que em ambos os casos a realidade sempre chega de supetão para acabar com a fantasia.

quarta-feira, 20 de abril de 2016

UM LUGAR CHAMADO NOTTING HILL

NOTA 9,0

Embora previsível, longa é
agradável, diverte e
emociona justamente por
sua aura despretenciosa
Alguns artistas podem até experimentar diversos gêneros ao longo da carreira, mas sempre tem um que marca mais e do qual o intérprete pode acabar se tornando um símbolo. Nos anos 90 aconteceu um aumento significativo na procura por comédias e dramas com pitadas generosas de romance e duas atrizes despontaram nessa onda, Julia Roberts e Meg Ryan. A primeira é quem se deu melhor conquistando altos cachês, diversos prêmios e se mantendo em evidência até hoje. Tudo bem, atualmente ela vive mais das glórias do passado do que de novos e bem sucedidos projetos, mas ainda assim atrai atenções. Para muitos seu ápice na profissão foi a conquista do Oscar pelo papel-título de Erin Brokovich – Uma Mulher de Talento, mas ela já acumulava antes disso êxitos comerciais que a crítica hesitava em elogiar. Por exemplo, qual o problema em dizer que Um Lugar Chamado Notting Hill é um excelente filme? Embora quando alguém quer dar uma de esperto a tendência seja menosprezar as obras românticas e clichês, não há como negar que esta produção é extremamente agradável e atende com folga as expectativas geradas pela proposta e que se vale do recurso da metalinguagem. Julia interpreta praticamente ela mesma ora sob os holofotes, ora tentando levar uma vida normal, ainda que os produtores na época tentassem desmentir que o enredo foi parcialmente inspirado na vida da estrela. Ela interpreta Anna Scott, uma celebridade hollywoodiana que vive cercada de fotógrafos e repórteres tentando descobrir seus novos projetos de trabalho, mas principalmente desvendar detalhes sobre sua vida pessoal. Durante uma viagem a Londres, a atriz decide fazer um passeio pelo subúrbio (que nem de longe nos remete ao que a palavra representa para os brasileiros) e entra em uma simplória livraria especializada em livros de viagem onde é atendida pelo próprio dono, o pacato William Thacker (Hugh Grant), cuja vida mudará completamente após este dia. Anna fica fascinada com o jeito tranquilo e nada fanático do rapaz, que aparentemente desconhece a fama dela. A partir desse dia, eles passam a ter alguns encontros e iniciam um relacionamento cheio de idas e vindas, mas repleto de bons momentos, afinal essa é a grande chance da diva vivenciar plenamente a simplicidade que existe em um passeio no parque ou em um jantar em família com direito a gafes e rusgas leves. 

segunda-feira, 18 de abril de 2016

DON JUAN DEMARCO

NOTA 8,5

Inspirado por folclórico personagem,
romance usa a fantasia para exaltar
o amor e o valor das mulheres e reúne
dois grandes astros de gerações opostas
Quando um rapaz é metido a conquistador, é comum a brincadeira de rotulá-lo como um Don Juan, mas quem teria sido esse homem? Na verdade ele é um personagem fictício cuja alcunha virou sinônimo de libertinagem. Originado no folclore espanhol, ele tornou-se uma figura do universo literário em meados do século 17 quando foi publicado o romance “El Burlador de Sevilla”, obra atribuída ao dramaturgo Tirso de Molina. O personagem essencialmente é um sedutor que se alimenta do prazer da glória das conquistas. Quanto mais difícil o alvo, maior a satisfação. Geralmente seduz mulheres compromissadas e em espaços públicos, as atraí para um lugar privado e depois que consuma o ato sexual faz questão de divulgar o feito para afrontar rivais e demarcar sua posição de superioridade. Desde que tal arquétipo ganhou seu registro em um livro, ele também serviu como inspiração para muitos outros folhetins, poemas, artes plásticas e peças teatrais que ajudaram a perpetuar a imagem dos conquistadores latinos de sangue quente, ganhando popularidade definitiva através da ópera “Don Giovanni”, de Mozart. O cinema obviamente também não deixou de beber nessa fonte. Além de o mito ter sido explorado nos anos 70 em uma clássica adaptação cinematográfica da opereta, duas décadas mais tarde o sedutor foi inserido na cultura das novas gerações de forma mais ousada. O romance Don Juan DeMarco não se limita a contar a história de um ícone da sedução, mas sim como seu legado pode influenciar visto que muitos estudiosos consideram tal conquistador a personificação do desejo e da frustração em relação ao romantismo. A trama começa com o psicólogo Jack Mickler (Marlon Brando) sendo chamado com urgência para ajudar a polícia a impedir o suicídio de um rapaz que ameaça pular de uma altura considerável. O médico pensa que este é apenas mais um caso corriqueiro dos males causados pelos tempos modernos (se em meados dos anos 90 as coisas já estavam difíceis, hoje em dia nem se fala), mas nem imagina que seu encontro com esse jovem irá mudar radicalmente sua vida pessoal e também profissional. Trajando roupas de época e uma máscara negra, ele é salvo e se apresenta como Don Juan DeMarco (Johnny Depp), o mesmo nome do lendário espanhol que segundo a crença teria se envolvido com cerce de 1.500 mulheres em apenas alguns anos de sua juventude.

sexta-feira, 15 de abril de 2016

PLANETA DOS MACACOS (2001)

NOTA 9,5

Refilmagem de clássica
ficção é divertida, tem bom
ritmo e conta com uma
parte técnica impecável
Fazer um remake de um filme de sucesso e cultuado é uma tarefa de muita responsabilidade e praticamente é como mexer em um vespeiro. Uma coisa fora do lugar ou alguma liberdade de criação e pronto, ferroadas não faltarão. Tim Burton sentiu na pele o peso da crítica ao reinventar a seu modo um clássico da década de 1960 que mexeu com a cabeça do mundo todo. Planeta dos Macacos é até hoje um marco do cinema que mistura ficção científica e aventura em uma trama reflexiva onde os papeis se invertem: os primatas tomam o lugar dos humanos e estes, por sua vez, é que passam a ser escravizados e tratados como animais. Na era contemporânea, Leo Davidson (Mark Wahlberg) é um piloto que treina chimpanzés para vôos em uma estação espacial. Em um dos treinamentos, um deles se perde e o rapaz resolve ir procurá-lo. O problema é que essas viagens no tempo feitas em meio a tempestades eletromagnéticas são traiçoeiras. Após sofrer um acidente na espaçonave em que estava, Leo chega a um lugar estranho e primitivo, como se estivesse nos primórdios da humanidade, mas logo ele encontra os habitantes da região e se depara com uma inversão de posições. Essa terra é habitada por macacos e gorilas extremamente inteligentes e racionais que escravizam os humanos que lutam para sobreviver à tirania dos primatas. Capturado por Limbo (Paul Giamatti), um traficante de humanos, Leo é entregue ao cruel general Thade (Tim Roth) que o aprisiona para usá-lo como serviçal, mas o rapaz logo se torna uma séria ameaça à soberania dos poderosos do local e arquiteta um plano para conseguir fugir com um grupo de humanos. Para tanto contará com a ajuda da primata de bom coração Ari (Helena Bonham Carter), mas terá que enfrentar a ira de Thade e seus comparsas, como o seu braço direito Attar (Michael Clarke Duncan).

domingo, 10 de abril de 2016

BILHETE PREMIADO

Nota 3,0 Previsível, comédia de humor negro, na falta de ousadia, tenta se segurar no romance

A cineasta Nora Ephron sem dúvidas conseguiu com vários de seus trabalhos elevar a cotação do gênero comédia romântica tornando-o popular e rentável com produções como Sintonia de Amor e Mensagem Para Você. Como muitos filmes do tipo e com temática similares começaram a ser lançados, a diretora procurou virar o século experimentando algo levemente novo: o humor negro. Lançado em 2000, Bilhete Premiado teve sua estreia adiada várias vezes até que finalmente chegou às telonas para ficar umas duas semanas em cartaz. Nem mesmo no mercado de locações funcionou. Além do fracasso em solo americano que ajudou na publicidade negativa, o longa ainda tinha outra mandinga: John Travolta. Na época o ator estava com sua carreira indo ladeira abaixo com sucessivos fiascos profissionais e esta comédia só veio a ampliar a lista. Ele dá vida a Russ Richards, o meteorologista de uma famosa emissora de TV, mas seus esforços estavam longe de serem reconhecidos como ele desejava e sua vida profissional ia de mal a pior (seria coincidência ou uma autoironia o ator encarnando tal zero à esquerda?). Praticamente falido depois que suas chances de lucros vendendo motocicletas especiais para neve derreteram devido a um inverno com temperaturas altíssimas, o cara ficou devendo até as cuecas na praça e para conseguir se reerguer resolveu montar um esquema com o amigo Gig (Tim Roth) e Crystal (Lisa Kudrow), sua namorada. A garota é a responsável por sortear os números da loteria na televisão, mas também não vê um futuro profissional promissor para si mesma. É óbvio que a ideia é fraudar o concurso e mais previsível ainda que algo dê errado. O que parecia fácil acaba se tornando uma grande encrenca e o trio de espertalhões se vê envolvido em uma trama com direito a assassinatos e outros pilantras de olho na bolada milionária. O que poderia render uma comedia razoável, mesmo com o enredo transbordando clichês, acaba se tornando um programa tedioso, talvez por culpa da própria Ephron que entende de humor meloso, mas não conhece o universo da malandragem.

sexta-feira, 8 de abril de 2016

COLHEITA MALDITA

NOTA 8,0

Marco do terror da década de
1980, obra envelheceu e hoje não
é tão impactante, mas ainda causa
arrepios com seu clima desolador
O nome de Stephen King atrelado a alguma produção de cinema automaticamente já traz certo prestígio ao projeto. Famoso por seus contos de terror, mas também se arriscando com sucesso no campo dos dramas, o autor tem uma legião de fãs tanto na literatura quanto na área cinematográfica. Entre os anos 70 e 80, ainda em início de carreiro, King viu trabalhos baseados em suas obras conquistarem crítica, público e figurarem em premiações, até mesmo no Oscar. É dessa safra que faz parte Colheita Maldita, considerado um clássico do terror por muitos. É certo que hoje em dia a produção não é tão impactante quanto foi no passado, mas envelheceu bem, não há muitos sinais evidentes de que o tempo passou, aliás, a imagem envelhecida é até um fator positivo neste caso. Baseado no conto “As Crianças do Milharal”, título original também do filme, o próprio King tratou de rascunhar um roteiro, mas ele foi descartado prevalecendo um escrito por George Goldsmith no qual a violência era mais presente e a estrutura narrativa mais convencional. Burt (Peter Norton) e Vicky (Linda Hamilton) estão atravessando de carro uma estrada deserta quando são surpreendidos por um garoto que acabam atropelando acidentalmente, porém, a criança já estava praticamente morta por estar com o pescoço com um corte profundo. O casal parte para a cidade mais próxima em busca de ajuda, mas quando chegam a Gatlin encontram um ambiente estranho e aparentemente abandonado. A introdução apresenta ao espectador um pouco do histórico macabro do vilarejo. A economia local baseia-se na agricultura, principalmente no cultivo de milho, mas certa vez a colheita foi péssima e a população passou a se apegar na fé para tentar garantir uma boa safra da próxima vez. Eis que surge um misterioso menino pregador, Isaac Chroner (John Franklin), que leva todas as crianças para um milharal para falar sobre as profecias de um demônio dos milharais chamado “Aquele Que Anda Por Detrás das Fileiras”. Isaac, através de seu tenente Malachai (Courtney Gains), lidera uma revolução infantil na cidade e todos os adultos são mortos brutalmente. Nos anos seguintes, tais atos passaram a ser praticados sobre o pretexto de serem sacrifícios necessários para uma boa colheita.

quinta-feira, 7 de abril de 2016

UM OLHAR DO PARAÍSO

NOTA 8,5

Peter Jackson aposta suas
fichas em drama narrado
paralelamente entre dois
mundos intimamente ligados
Um diretor de cinema pode escolher entre dois caminhos para definir seu trajeto profissional. Pode optar por trabalhar com um ou dois gêneros constantes, criar uma legião de fãs e marcar seu estilo ou atirar para tudo quanto é lado, ganhar seu dinheirinho e viver no anonimato. Porém, alguns profissionais de trás das câmeras conseguem transitar tranquilamente entre os mais variados tipos de filmes, mas o problema é quando o público petrifica uma imagem deles e passa a repudiar qualquer “pulada de cerca”. Esse mal constantemente é vivido por Peter Jackson que virou um nome quente em hollywood após o sucesso da saga O Senhor dos Anéis, assim tornando-se um sinônimo de megaproduções e efeitos especiais de ponta. Porém, este profissional começou sua carreira de forma bem modesta apostando inclusive no estilo trash como no longa Os Espíritos e ganhou certo prestígio com o drama independente Almas Gêmeas muito antes de enveredar pelo caminho do cinema de fantasia, mas é certo que a recepção pouco calorosa de Um Olhar do Paraíso tem muito a ver com a expectativa que seu nome atrelado a um projeto gera. Para aproveitar da melhor maneira possível esta obra é preciso procurar focar a atenção na história em si e não no currículo do diretor. A trama é narrada pela adolescente Susie Salmon (Saoirse Ronan), um espírito do bem que habita os céus. Ela conta um pouco de sua rápida passagem pela Terra, sua adaptação ao outro mundo, suas novas descobertas e sobre como sua família superou sua perda. No início da década de 1970 ela estava voltando um dia da escola sozinha e por estar atrasada optou por cortar caminho por uma região campestre. No meio do percurso ela encontrou um de seus vizinhos, George Harvey (Stanley Tucci), um novo morador da região que ela já tinha visto conversando com seu pai, Jack (Mark Wahlberg). Inocentemente a garota acaba caindo em uma armadilha e teve sua vida interrompida de forma brusca e precocemente. Após esta introdução, que de certa forma é demorada, mas muito bem realizada, passamos a acompanhar a peregrinação de Susie em busca da paz. Ela está tomando consciência do que lhe aconteceu, não tem noção de como é a vida após a morte e ainda está apegada às lembranças da realidade. Sempre viveu sobre as regras da moralidade e dos conselhos da família e não teve tempo de viver um grande amor e tampouco ter uma profissão. Sofre também vendo a dor de seu pai, da mãe Abigail (Rachel Weisz) e ainda se preocupa com a irmã mais nova, Lindsey (Rose Mclver), que pode ser a próxima vítima de seu assassino.

terça-feira, 5 de abril de 2016

OS SUSPEITOS (1995)

NOTA 8,5

Intricada trama policial não
perdeu o vigor e ainda é uma
opção válida em tempos em que
o espectador é subestimado 
Os filmes policiais já tiveram seus tempos áureos, mas como tudo que é demais enjoa o gênero encontra-se em decadência a alguns anos sobrevivendo as custas de produções medianas ou medíocres que em geral não fazem mais nada que oferecer o arroz com feijão de sempre com direito a final previsível como surpresa. Para os saudosos de brincar de detetive e ladrão junto com os personagens, mas com qualidade e inteligência, o jeito geralmente é recorrer a produções antigas. Uma boa dica é rever, ou para as novas gerações descobrir, Os Suspeitos, uma intricada trama cujo roteiro foi merecidamente agraciado com o Oscar. Livremente inspirado no clássico O Segredo das Jóias, um filme com estilo noir que o famoso John Huston dirigiu em 1950, este é o segundo longa da carreira do diretor Bryan Singer que ficou em evidência nos últimos tempos por causa de suas aventuras com os mutantes dos quadrinhos "X-Men". O novato na época surpreendeu construindo uma boa história sobre homens que sonhavam em chegar ao topo, mas que seguiram caminhos errados para tanto e terminaram encontrando a própria desgraça. Para contar essas desventuras o cineasta contou com um elenco afiado e de peso (bem, hoje em dia alguns são contratados a peso de ouro, mas na época ainda eram estrelas de pouco brilho). Com uma produção modesta, o longa era como o representante dos independentes da temporada de premiações 1995/96 e infelizmente hoje em dia é mais lembrado justamente por suas indicações e prêmios conquistados, uma injustiça que precisa ser corrigida a um trabalho muito superior a produções atuais. Roteirizado por Christopher McQuarrie, a trama começa com um incêndio no cais de Porto de San Pedro, na Califórnia, no qual 27 pessoas morreram e apenas dois homens sobreviveram, um húngaro extremamente debilitado por conta das queimaduras e Roger “Verbal” Kint (Kevin Spacey), criminoso pé-de-chinelo portador de um defeito físico que saiu ileso do episódio e, como seu próprio apelido indica, não é de hesitar em falar mais do que deve. Ele será a principal testemunha que ajudará o detetive David Kujan (Chazz Palminteri) a solucionar o mistério, mas lhe farão companhia na detenção outros quatro suspeitos: o bandido de quadrilhas Michael McManus (Stephen Baldwin) e seu parceiro de crimes Fred Fenster (Benicio Del Toro), o especialista em armas pesadas Todd Hockney (Kevin Pollack) e o ex-tira corrupto Dean Keaton (Gabriel Byrne). Não é apena a quantidade numerosa de mortos que motivam tal investigação mas também o sumiço de uma quantia de dinheiro extraordinária. No barco que explodiu estaria sendo negociado um carregamento de drogas oriundo da Argentina, mas a ação foi sabotada por alguém.  As suspeitas recaem sobre um lendário terrorista da Hungria conhecido como Keyser Soze.

domingo, 3 de abril de 2016

30 DIAS PARA O AMOR

Nota 1,0 Longa aborda a realização do sonho da fama repentina com todos os clichês possíveis

O acervo da “Sessão da Tarde” e também dos canais pagos, principalmente o da Disney que exibe suas próprias produções feitas exclusivamente para a TV, estão lotados de filmes água-com-açúcar que mostram garotas sonhadoras que da noite para o dia se tornam estrelas pop e de quebra conquistam seu príncipe encantado. Essa fórmula de sucesso é pré-histórica e já serviu para lançar muitas meninas que instantaneamente passaram a ser idolatradas por crianças e jovens, como Hilary Duff que aproveitava as oportunidades de atuar para também divulgar sua carreira como cantora. Com o fenômeno High School Musical a trinca adolescentes, música e filmes foi intensificada e mais e mais produções surgiram seguindo esse filão, porém, com raríssimas exceções, eles são apenas passatempos bobinhos para matar o tempo como é o caso de 30 Dias Para o Amor. Cole Thompson (Sean Patrick Flanery) é um caçador de talentos que tem exatos 30 dias para descobrir uma nova estrela da música pop-latina para apresentá-la em um festival e assim conseguir sua tão sonhada promoção na agência. Após uma definitiva reunião com seu chefe, é na recepção da própria empresa em que trabalha que o rapaz encontra por acaso a garota perfeita. Ou quase isso. Maggie Moreno (Camille Guaty) é uma desengonçada entregadora de encomendas que sonha em um dia ser uma diva da música e por isso não demora a aceitar a proposta do rapaz. Com um rostinho bonito e um corpo delgado, o resto dá-se um jeito. Ela se muda para a casa de Thompson para não perder um único minuto de todo o processo de preparação de uma jovem comum à estrela, mas conforme o tempo passa ambos percebem que os interesses de um pelo outro não são apenas profissionais, tudo como manda a cartilha do gênero. Porém, até a data de lançamento desta cantora muita coisa pode acontecer, mas alguém dúvida que nasce uma estrela? Investindo no clichê da latina que desponta no mundo da música, o roteiro de Laura Angelica Simon sofre de uma crise de originalidade e inteligência do início ao fim, resumindo-se a uma colcha de retalhos.

sábado, 2 de abril de 2016

ALMAS CONDENADAS

Nota 2,0 Mesmo tentando fazer algo levemente diferenciado, longa tropeça no acúmulo de clichês

Os filmes de fantasmas com certeza eram mais atraentes antigamente quando suas almas vagavam pelos cemitérios ou se recusavam a abandonar suas antigas casas. Com a invasão dos filmes de horror asiáticos, infelizmente parece que virou regra que as assombrações aparecessem em tudo que é canto, independente de o Sol estar brilhando, e que as histórias sempre envolvam crianças e algum mistério mal resolvido pinçado do fundo do baú. Embora Almas Condenadas não seja a refilmagem de nenhum produto oriental, é nítido que sua existência se deve a tal febre, ainda que tenha sido lançado quando os fantasminhas de olhos puxados e suas versões americanizadas começavam a dar seus últimos suspiros. O fracasso então é justificado, ainda mais pela premissa que parece inspirada em programas sensacionalistas que exploram crendices populares. O roteiro escrito por Brian e Jason Clevenland gira em torno de Melanie (Leah Pipes), uma jovem que acaba de escapar da morte por conta de uma overdose de drogas. Após passar um tempo em uma clínica de reabilitação, ela decide retornar à sua pequena cidade natal no Texas para voltar a conviver com sua família. Além de se readaptar a rotina, a garota vai fazer novas amizades que a levam a conhecer uma lenda urbana local que vai deixá-la ainda mais perturbada. Há cerca de 50 anos um terrível acidente envolvendo um trem matou grande parte da população infantil da cidade e depois que Melanie esteve pessoalmente no mesmo lugar da tragédia passou a ter visões dos mortos que parecem querer se comunicar com ela. Para agravar a situação, uma sequência de misteriosos assassinatos começa a ocorrer e parece querer encobrir detalhes do fatídico episódio, assim a jovem se sente no dever de investigar as relações entre as mortes do passado e as do presente. Como diz o ditado, quem procura acha e Melanie vai acabar se envolvendo em uma perigosa situação que pode não ser uma história totalmente do além e correr grandes riscos.