Nota 2,0 Mesmo tentando fazer algo levemente diferenciado, longa tropeça no acúmulo de clichês
Os filmes de fantasmas com
certeza eram mais atraentes antigamente quando suas almas vagavam pelos
cemitérios ou se recusavam a abandonar suas antigas casas. Com a invasão dos
filmes de horror asiáticos, infelizmente parece que virou regra que as
assombrações aparecessem em tudo que é canto, independente de o Sol estar
brilhando, e que as histórias sempre envolvam crianças e algum mistério mal
resolvido pinçado do fundo do baú. Embora Almas Condenadas não seja a
refilmagem de nenhum produto oriental, é nítido que sua existência se deve a
tal febre, ainda que tenha sido lançado quando os fantasminhas de olhos puxados
e suas versões americanizadas começavam a dar seus últimos suspiros. O fracasso
então é justificado, ainda mais pela premissa que parece inspirada em programas
sensacionalistas que exploram crendices populares. O roteiro escrito por Brian
e Jason Clevenland gira em torno de Melanie (Leah Pipes), uma jovem que acaba
de escapar da morte por conta de uma overdose de drogas. Após passar um tempo
em uma clínica de reabilitação, ela decide retornar à sua pequena cidade natal
no Texas para voltar a conviver com sua família. Além de se readaptar a rotina,
a garota vai fazer novas amizades que a levam a conhecer uma lenda urbana local
que vai deixá-la ainda mais perturbada. Há cerca de 50 anos um terrível
acidente envolvendo um trem matou grande parte da população infantil da cidade
e depois que Melanie esteve pessoalmente no mesmo lugar da tragédia passou a
ter visões dos mortos que parecem querer se comunicar com ela. Para agravar a
situação, uma sequência de misteriosos assassinatos começa a ocorrer e parece
querer encobrir detalhes do fatídico episódio, assim a jovem se sente no dever
de investigar as relações entre as mortes do passado e as do presente. Como diz
o ditado, quem procura acha e Melanie vai acabar se envolvendo em uma perigosa
situação que pode não ser uma história totalmente do além e correr grandes
riscos.
A sinopse mirabolante é típica de
fitas de horror asiáticas, mas infelizmente as semelhanças não ficam restritas
ao enredo e se estendem a outros pontos, ou seja, os erros comuns aqui também são
repetidos aos montes. Diálogos sofríveis, interpretações fracas, suspense
anunciado por ângulos de câmera manjados ou sons estridentes e o pior dos
pecados de produções do tipo: sustos canastrões que não metem medo. O diretor
Harry Basil até teve boa vontade em tentar fazer algo mais digno misturando os
clichês de filmes de fantasmas com os de fitas de seriais killers, mas em
determinado momento o gancho sobre assassinatos no presente acaba tomando conta
da narrativa parecendo que toda aquela história de assombrações mirins ficaria
registrada como um grande deslize. Contudo, conforme a protagonista vai colecionando
pistas, os dois mistérios começam a se encaixar e se fundem em um final
inesperado, mas nada que torne Almas Condenadas um produto
memorável, pelo contrário, é facilmente esquecível e até o pessoal que cuidou
de sua publicidade deve ter ficado com um pé atrás, provavelmente não
assistiram mais que vinte minutos e fizeram a arte baseando-se em outros
exemplares do gênero, só assim para explicar o porquê de uma criança com cara
de zumbi estampar a capa do DVD. O genérico título nacional já deixa explícito
que se trata de um terror com espíritos afoitos, não mortos-vivos. Aliás, nem
as próprias almas sofredoras são o enfoque principal. Mais puxado para o
suspense do que para o terror em sua melhor definição, o longa no fundo tem
como objetivo discutir a demência do ser humano diante da oportunismo, a chance
de tirar proveito em cima de uma situação sem levar em consideração as
consequências negativas para outras pessoas. Louvável a tentativa de trazer
alguma mensagem dentro de uma narrativa que visa assustar e ser um passatempo
ligeiro, mas as boas intenções vão por água abaixo diante de passagens que
ficam mal explicadas, fragilidade da narrativa e da própria interpretação do
elenco que trabalha no piloto automático como se já soubessem que o destino
desta fita seria o esquecimento. Talvez só não esperavam que o ostracismo viesse
tão rápido.
Terror - 95 min - 2006
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