quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

SOBREVIVENDO AO NATAL

NOTA 7,0

Como toda boa ceia de Natal,
longa conta com situações
tradicionais à produções do gênero
e ratifica mensagens de solidariedade
Todo Natal é a mesma coisa. As pessoas reclamam da correria, dos compromissos, do estresse das compras e do cansaço para os preparativos da ceia e do almoço, mas que atire a primeira pedra quem nunca parou para pensar o quanto seria chato passar esta data sozinho e ignorando tudo que envolva tal festa? Bem, há quem realmente não goste do período natalino e não tem nada que os faça mudar de ideia, mas é certo que muitos preferem esquecer qualquer imagem que lembre ao Papai Noel por causa de lembranças tristes e esse é o ponto de partida de Sobrevivendo ao Natal, comédia que reúne tradicionais elementos de filmes que comemoram a data e exaltam o espírito de solidariedade e a importância da família e amigos, mas que acabou sendo mal recepcionado pela crítica e público americano e consequentemente chegou chamuscado em outros países. A trama gira em torno de Drew Lathan (Ben Affleck), um executivo bem sucedido, mas cheio de problemas emocionais por causa de seu passado humilde e praticamente solitário. Cansado de passar o Natal sozinho ele é aconselhado a voltar à casa em que morou quando criança e assim realizar uma espécie de simpatia para recuperar sua alegria e entusiasmo a respeito da data festiva. O problema é que o tempo só parou de certa forma para o rapaz e agora a residência está ligeiramente modificada e abriga uma nova família, os Valcos. Dizem que tem coisas que o dinheiro não compra, será mesmo? Acostumado a esbanjar dinheiro com futilidades, Lathan não pensa duas vezes e logo propõe uma insólita, porém, tentadora proposta ao clã: oferece um bom dinheiro para que eles finjam serem os parentes que ele nunca teve e lhe proporcionem uma festa natalina tradicional como ele sempre sonhou. O patriarca Tom (James Gandolfini) aceita a ideia numa boa assim como sua esposa Christine (Catherine O’Hara) e seu filho Brian (Josh Zuckerman), mesmo após uma breve hesitação, mas nada que um polpudo cheque não resolvesse. Todo o acordo foi sacramentado com direito a contrato impresso e cláusulas rigidamente estipuladas, mas os Valcos não esperavam que o tal marmanjo iria mudar suas vidas enlouquecendo-os com seus devaneios de família perfeita e tradições natalinas.

Da compra do pinheirinho ao som de cânticos de Natal até o cúmulo de roteirizar diálogos para a família de aluguel decorar, nem o próprio Lathan parece se levar a sério e não raramente dá a impressão de no fundo ridicularizar a si mesmo, mas não esperava se envolver tanto com os Valcos. Além de bagunçar a vida de Tom e Christine cuja convivência já andava estremecida, quando o rapaz percebe já está completamente apaixonado por Alicia (Christina Applegate), a filha mais velha do casal. A moça logo de cara não se simpatiza com o executivo e este, por sua vez, lhe dá o papel de uma reles empregada em seu teatrinho como resposta às ironias dela, mas aos poucos ambos cedem e se entregam à paixão. Tudo estaria bem entre o jovem casal, porém, quando o prazo acordado para a farsa está prestes a terminar surge Missy (Jennifer Morrison), a namorada de Lathan, que chega de surpresa com seus pais para a ceia. Agora a família de aluguel terá que prestar serviço de verdade para impressionar os convidados, mas Alicia está disposta a atrapalhar os planos do executivo e os ventos parecem soprar a seu favor e ajudam a transformar a noite feliz em uma sucessão de mal entendidos e gafes. O final de tudo isso... Bem, se tratando de uma comédia natalina você já sabe que o happy end está garantido desde os créditos iniciais, mas quem gosta de produções do tipo quer mesmo é curtir o sabor de repeteco. Aliás, os fãs de filmes desta seara, aqueles que não se cansam se assistir Férias Frustradas de Natal e Esqueceram de Mim, sofrem demais. Não é necessariamente pela emoção forçada pelos enredos, mas sim pela vergonha de assumirem que gostam de produções do gênero, ainda mais no Brasil onde o clima frio da neve e a obsessão em ter a casa mais bem decorada da temporada passam longe da realidade do Natal tropical. Todavia, não podemos negar que embora as comédias familiares do tipo sigam sempre a mesma receita básica é impossível não termos um mínimo de identificação com as tramas. Há sempre uma família desconjuntada vivendo situações engraçadas, outras que beiram o absurdo, umas pitadinhas de drama, exaltação à nostalgia e a boa e velha mensagem de união e solidariedade que é sempre bem-vinda. Tais ingredientes unidos às tradições natalinas deixam os críticos de cinema de cabelo em pé e eles não poupam palavras para destruir produções do tipo. Boa parte do público engrossa esse coro, mas é preciso lembrar que muitas vezes essas opiniões acabam desrespeitando os espectadores que buscam justamente a emoção e o riso manipulado. E olha que há muitos defensores do cinema de Natal.

O fato dos filmes com temáticas natalinas inevitavelmente serem obras simplórias e com roteiros manjados nem sempre justifica as palavras depreciativas que os entendidos em cinema tecem, até porque produtos como Sobrevivendo ao Natal claramente não foram feitos para o desfrute dos amantes ferrenhos de trabalhos de Frederico Fellini ou até mesmo de Frank Capra. Os próprios críticos não deveriam se dar ao trabalho de sentarem na frente do computador para redigirem o óbvio, afinal são raras as vezes que elogiam uma produção de cunho natalino. É importante ressaltar que a maioria dos filmes do tipo nem chegam a ser exibidos previamente para a imprensa e o lançamento diretamente para consumo doméstico é praticamente o destino certo. Quando o protagonista da produção em questão também não é muito bem visto pela mídia certamente isso influencia na avaliação da obra. Mesmo com um Oscar em casa pelo roteiro de Gênio Indomável, Affleck na época estava mais em evidência por conta do fim de seu namoro com a atriz e cantora Jennifer Lopez e pelos consecutivos fracassos profissionais, contudo, a história do excêntrico Lathan não é das piores. Roteirizado por Deborah Kaplan, Harry Elfont, Jeffrey Ventimilia e Joshua Sternin, o que pode explicar a acentuada sensação de que o longa é um amontoado de clichês forçosamente conectados, a trama até tem sua dose de sarcasmo. Muita gente sonha em ter o Natal feliz, consumista ou mágico tão propagado pelos filmes temáticos de Hollywood ou no mínimo ter a mesa farta e a família reunida tal qual a publicidade vende como imagem emblemática do festejo. O tom nostálgico da época acaba ampliando o sentimento de solidão e tristeza que muitos sentem, mas os roteiristas neste caso optaram pelo viés do humor mais escrachado, porém, ainda preservando o espaço para a melancolia. O problema é que o protagonista exagera nas caretas e trejeitos e acaba irritando mais do que divertindo, porém, não há como negar que suas exigências para comemorar a data são no mínimo irônicas criticando os hábitos dos ianques. Se o melhor da festa é esperar por ela, Lathan aproveita muito bem o tempo para satisfazer seus desejos deixando latente seu jeito egoísta de ser, contudo, mesmo que por meios torpes, acaba interferindo positivamente na rotina de sua família de aluguel. Após aprontar todas e estragar a ceia, o rapaz acaba percebendo que não tem como recuperar os festejos que perdeu por causa de problemas familiares, mas pode fazer seus próximos natais serem bem diferentes. Esta á grande mensagem da obra que realmente tem um ritmo irregular, diversos exageros, mas cumpre bem seu papel de sessão da tarde. Não é o melhor representante do gênero, mas levando em consideração que a assinatura é do diretor Mike Mitchell, do duvidoso Gigolô por Acidente, na comparação ele se saiu bem melhor ao apresentar as peripécias de um marmanjo se divertindo enfeitando a casa e embrulhando presentes. 
 
Comédia - 91 min - 2004 

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1 – 2 Ruim, uma perda de tempo
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