NOTA 7,0 Como toda boa ceia de Natal, longa conta com situações tradicionais à produções do gênero e ratifica mensagens de solidariedade |
Todo Natal é a mesma coisa. As pessoas reclamam da correria,
dos compromissos, do estresse das compras e do cansaço para os preparativos da
ceia e do almoço, mas que atire a primeira pedra quem nunca parou para pensar o
quanto seria chato passar esta data sozinho e ignorando tudo que envolva tal
festa? Bem, há quem realmente não goste do período natalino e não tem nada que
os faça mudar de ideia, mas é certo que muitos preferem esquecer qualquer
imagem que lembre ao Papai Noel por causa de lembranças tristes e esse é o
ponto de partida de Sobrevivendo ao Natal, comédia que reúne tradicionais
elementos de filmes que comemoram a data e exaltam o espírito de solidariedade
e a importância da família e amigos, mas que acabou sendo mal recepcionado pela
crítica e público americano e consequentemente chegou chamuscado em outros
países. A trama gira em torno de Drew Lathan (Ben Affleck), um executivo bem
sucedido, mas cheio de problemas emocionais por causa de seu passado humilde e
praticamente solitário. Cansado de passar o Natal sozinho ele é aconselhado a voltar à casa em
que morou quando criança e assim realizar uma espécie de simpatia para
recuperar sua alegria e entusiasmo a respeito da data festiva. O problema é que
o tempo só parou de certa forma para o rapaz e agora a residência está
ligeiramente modificada e abriga uma nova família, os Valcos. Dizem que tem coisas que o dinheiro não compra, será mesmo? Acostumado a
esbanjar dinheiro com futilidades, Lathan não pensa duas vezes e logo propõe
uma insólita, porém, tentadora proposta ao clã: oferece um bom dinheiro para
que eles finjam serem os parentes que ele nunca teve e lhe proporcionem uma
festa natalina tradicional como ele sempre sonhou. O patriarca Tom (James
Gandolfini) aceita a ideia numa boa assim como sua esposa Christine (Catherine
O’Hara) e seu filho Brian (Josh Zuckerman), mesmo após uma breve hesitação, mas
nada que um polpudo cheque não resolvesse. Todo o acordo foi sacramentado com
direito a contrato impresso e cláusulas rigidamente estipuladas, mas os Valcos
não esperavam que o tal marmanjo iria mudar suas vidas enlouquecendo-os com
seus devaneios de família perfeita e tradições natalinas.
Da compra do pinheirinho ao som de cânticos de Natal até o
cúmulo de roteirizar diálogos para a família de aluguel decorar, nem o próprio
Lathan parece se levar a sério e não raramente dá a impressão de no fundo
ridicularizar a si mesmo, mas não esperava se envolver tanto com os Valcos. Além
de bagunçar a vida de Tom e Christine cuja convivência já andava estremecida,
quando o rapaz percebe já está completamente apaixonado por Alicia (Christina
Applegate), a filha mais velha do casal. A moça logo de cara não se simpatiza
com o executivo e este, por sua vez, lhe dá o papel de uma reles empregada em
seu teatrinho como resposta às ironias dela, mas aos poucos ambos cedem e se
entregam à paixão. Tudo estaria bem entre o jovem casal, porém, quando o prazo
acordado para a farsa está prestes a terminar surge Missy (Jennifer Morrison),
a namorada de Lathan, que chega de surpresa com seus pais para a ceia. Agora a
família de aluguel terá que prestar serviço de verdade para impressionar os
convidados, mas Alicia está disposta a atrapalhar os planos do executivo e os
ventos parecem soprar a seu favor e ajudam a transformar a noite feliz em uma
sucessão de mal entendidos e gafes. O final de tudo isso... Bem, se tratando de
uma comédia natalina você já sabe que o happy end está garantido desde os
créditos iniciais, mas quem gosta de produções do tipo quer mesmo é curtir o
sabor de repeteco. Aliás, os fãs de filmes desta seara, aqueles que não se
cansam se assistir Férias Frustradas de Natal e Esqueceram de Mim, sofrem
demais. Não é necessariamente pela emoção forçada pelos enredos, mas sim pela
vergonha de assumirem que gostam de produções do gênero, ainda mais no Brasil
onde o clima frio da neve e a obsessão em ter a casa mais bem decorada da
temporada passam longe da realidade do Natal tropical. Todavia, não podemos
negar que embora as comédias familiares do tipo sigam sempre a mesma receita
básica é impossível não termos um mínimo de identificação com as tramas. Há
sempre uma família desconjuntada vivendo situações engraçadas, outras que
beiram o absurdo, umas pitadinhas de drama, exaltação à nostalgia e a boa e
velha mensagem de união e solidariedade que é sempre bem-vinda. Tais
ingredientes unidos às tradições natalinas deixam os críticos de cinema de cabelo
em pé e eles não poupam palavras para destruir produções do tipo. Boa parte do
público engrossa esse coro, mas é preciso lembrar que muitas vezes essas
opiniões acabam desrespeitando os espectadores que buscam justamente a emoção e
o riso manipulado. E olha que há muitos defensores do cinema de Natal.
O fato dos filmes com temáticas natalinas inevitavelmente
serem obras simplórias e com roteiros manjados nem sempre justifica as palavras
depreciativas que os entendidos em cinema tecem, até porque produtos como Sobrevivendo
ao Natal claramente não foram feitos para o desfrute dos amantes ferrenhos de
trabalhos de Frederico Fellini ou até mesmo de Frank Capra. Os próprios
críticos não deveriam se dar ao trabalho de sentarem na frente do computador
para redigirem o óbvio, afinal são raras as vezes que elogiam uma produção de
cunho natalino. É importante ressaltar que a maioria dos filmes do tipo nem
chegam a ser exibidos previamente para a imprensa e o lançamento diretamente
para consumo doméstico é praticamente o destino certo. Quando o protagonista da
produção em questão também não é muito bem visto pela mídia certamente isso
influencia na avaliação da obra. Mesmo com um Oscar em casa pelo roteiro de Gênio
Indomável, Affleck na época estava mais em evidência por conta do fim de seu
namoro com a atriz e cantora Jennifer Lopez e pelos consecutivos fracassos
profissionais, contudo, a história do excêntrico Lathan não é das piores.
Roteirizado por Deborah Kaplan, Harry Elfont, Jeffrey Ventimilia e Joshua
Sternin, o que pode explicar a acentuada sensação de que o longa é um amontoado
de clichês forçosamente conectados, a trama até tem sua dose de sarcasmo. Muita
gente sonha em ter o Natal feliz, consumista ou mágico tão propagado pelos
filmes temáticos de Hollywood ou no mínimo ter a mesa farta e a família reunida
tal qual a publicidade vende como imagem emblemática do festejo. O tom
nostálgico da época acaba ampliando o sentimento de solidão e tristeza que
muitos sentem, mas os roteiristas neste caso optaram pelo viés do humor mais
escrachado, porém, ainda preservando o espaço para a melancolia. O problema é
que o protagonista exagera nas caretas e trejeitos e acaba irritando mais do
que divertindo, porém, não há como negar que suas exigências para comemorar a
data são no mínimo irônicas criticando os hábitos dos ianques. Se o melhor da
festa é esperar por ela, Lathan aproveita muito bem o tempo para satisfazer
seus desejos deixando latente seu jeito egoísta de ser, contudo, mesmo que por
meios torpes, acaba interferindo positivamente na rotina de sua família de
aluguel. Após aprontar todas e estragar a ceia, o rapaz acaba percebendo que
não tem como recuperar os festejos que perdeu por causa de problemas
familiares, mas pode fazer seus próximos natais serem bem diferentes. Esta á
grande mensagem da obra que realmente tem um ritmo irregular, diversos
exageros, mas cumpre bem seu papel de sessão da tarde. Não é o melhor representante
do gênero, mas levando em consideração que a assinatura é do diretor Mike
Mitchell, do duvidoso Gigolô por Acidente, na comparação ele se saiu bem melhor
ao apresentar as peripécias de um marmanjo se divertindo enfeitando a casa e
embrulhando presentes.
Comédia - 91 min - 2004
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