quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

O DESTINO DO POSEIDON

NOTA 8,5

Clássico representante dos tempos
áureos dos filmes-catástrofes, longa
ainda prende atenção com ótimo enredo
e atuações e efeitos visuais convincentes
Virada de ano é tempo de festejar, fazer pedidos e renovar a esperança crente que um novo tempo começará a partir de 1º de janeiro. Nessa excitação de momento, provavelmente nem os mais pessimistas tem tempo ou motivação para pensar que o pior pode acontecer poucos minutos após os estouros de champanhes e do show dos fogos de artifício. Já pensou você estar em um luxuoso transatlântico, curtindo um festão e de repente virar literalmente de cabeça para baixo e ser arrastado para o teto do salão? Pois é isso que acontece durante os festejos de ano novo retratados em O Destino do Poseidon, clássico representante dos filmes-catástrofes, subgênero tão popular na década de 1970. Ele é a prova que para fazer cinema do tipo não é preciso se tornar refém de efeitos especiais de ponta. Basta ter uma boa história para contar e criatividade em sua condução para fisgar o espectador. A trama em si é das mais simples. Durante a noite de reveillon o imponente Poseidon, um tipo de hotel de luxo flutuante, está transbordando (sem trocadilhos) de passageiros que no melhor da festa são surpreendidos com um intenso sacolejar por conta do impacto de uma onda gigantesca que deixa o navio totalmente virado de cabeça para baixo. Dezenas de pessoas morreram na hora, inclusive a tripulação da cabine de comando o primeiro local a ficar submerso, mas muitas sobreviveram e se viram isoladas dentro do salão principal que em um primeiro momento parecia a prova d'água. Contudo, não tardaria para o local ser invadido por uma enxurrada e um pequeno grupo liderado pelo reverendo Frank Scott (Gene Hackman) decide que aguardar resgate era perda de tempo e o melhor seria procurarem por conta própria uma saída. Assim eles se aventuram pelas entranhas da embarcação tentando subir rumo ao casco que ainda está boiando na superfície, mas o tempo está contra eles. Como para a maioria dos espectadores a estrutura de uma embarcação é desconhecida, poucos conhecem até mesmo os ambientes comuns que dirá tudo que necessita para sua engrenagem funcionar, a sensação de pavor é intensificada. A cada desafio vencido não há sensação de alívio e sim a preocupação do que está por vir.

Baseado no livro de Paul Gallico lançado em 1969 inspirado em um episódio verídico durante a Segunda Guerra Mundial, o diretor Ronald Neame não esperou muito tempo o livro criar raízes nas livrarias e logo tratou de transformá-lo em imagens de acelerar o coração e algumas de dar nó na garganta. Contudo, não joga simplesmente personagens em cena á mercê da sorte como tantas produções atuais que economizam em história para abusar de efeitos visuais. A introdução faz uma eficiente apresentação dos personagens centrais, afinal temos que estar familiarizados com eles para nos envolvermos com seus infortúnios e torcer para que escapem com vida. Obviamente tais tipos assumem personalidades de fácil identificação e corriqueiros no gênero. Como já dito, Scott faz as vezes de líder e temos o tenente frustrado Mike Rogo (Ernest Borgnine) como o do contra do grupo que o tempo todo discute com a esposa Linda (Stella Stevens) a quem humilha reafirmando que a tirou da prostituição. Nonnie (Carlo Lynley) é a jovem medrosa que empaca em vários momentos da fuga e provoca algumas mortes por tabela, James (Red Buttons) se ocupa de ser o anjo da guarda da garota e ainda temos duas crianças chatinhas para sumirem nos momentos mais inoportunos. Temos ainda um praticamente irreconhecível Leslie Nielsen com pinta de galã na pele do Capitão Harrison, um dos primeiros a empacotar, e uma carismática relação de amor entre Belle e Many Rosen, um casal da terceira idade vividos por Jack Albertson e Shelley Winters, ela interpretando uma senhora acima do peso que junta todas as suas forças para passar por diversos apuros, inclusive se prontifica a mergulhar em um compartimento submerso para destrancar uma porta confiando em sua experiência como nadadora campeã nos longínquos tempos de estudante. Dispensando dublê e embora não precisasse provar ser boa atriz, ela própria tomou aulas de natação para que seu desempenho fosse o mais realista possível, esforço recompensado com uma indicação ao Oscar como coadjuvante. Aliás, a produção ganhou o prêmio como melhor canção e efeitos visuais, além de ser indicado em mais seis categorias, um feito e tanto para um tipo de filme considerado puro escapismo.

O roteiro de Wendell Mayes e Stirling Silliphant felizmente investe em situações limites que não abusam da inteligência do espectador, sendo tudo bastante realista ou ao menos engana bem para quem não conhece as engrenagens de um navio. Claro que há um ou outro momento em que um personagem faz ou fala algo estúpido em horas impróprias (Nonnie é com você!), mas no geral as cenas de perigo convencem com alto nível de tensão. Obviamente hoje elas já podem não impactar visto a enorme quantidade de filmes similares lançados nos anos seguintes. Daylight com Sylvester Stallone, por exemplo, é praticamente uma refilmagem não creditada visto que as situações se repetem, inclusive a cena da ex-campeã de natação que arrisca a vida, mudou-se apenas o conflito para um túnel que é inundado. O cineasta James Cameron orquestrou com seu Titanic a tragédia como um verdadeiro espetáculo visual usando e abusando de efeitos computadorizados de ponta. Neame pode não ter se estendido apresentando detalhes do momento em que a embarcação vira, mas o pouco que mostrou é bem realizado e a intenção era justamente mostrar os apuros dos personagens pós-catástrofe com a corrente de água inundando pouco a pouco o navio e assumindo papel de vilã. Embora realizado em uma época em que a computação gráfica ainda engatinhava, O Destino do Poseidon apresenta cenas literalmente de tirar o fôlego usando grandiosos sistemas hidráulicos e efeitos mecânicos, o que deixa tudo mais realista, emocionante e sem exageros gráficos. Como era uma produção de grande porte, por problemas financeiros as filmagens foram paralisadas duas vezes, o que pode justificar o final abrupto como se estivessem no prazo limite de finalização. De fato, a conclusão ligeira e simplória é um pouco decepcionante em comparação a tudo que foi apresentado até então, mas nada que estrague a diversão não deixando nada a dever a qualquer filme-catástrofe da atualidade. Em 1979 foi produzida uma sequência, Dramático Reencontro no Poseidon que não chegou aos pés do primeiro, e em 2006 Poseidon fez uma atualização do enredo, mas escorado em um show de efeitos digitais. Fique com o original.

Vencedor do Oscar de efeitos especiais e canção

Aventura - 117 min - 1972

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