Nota 6,5 Drama aborda como judeus tentavam sobreviver na Europa durante a Santa Inquisição
Costumamos ligar a perseguição
aos judeus ao período do Holocausto, mas tal situação vergonhosa já vem de
longa data, de tempos em que nem o Brasil havia sido descoberto. E quem pensa
que os alemães são os únicos grandes vilões desse triste capítulo fique sabendo
que antes deles outros povos também demonstraram cruelmente sua aversão ao
judaísmo, como os espanhóis. O drama Passagem Secreta especula através de
um pequeno grupo de personagens como parte da Europa estava reagindo aos tempos
da inquisição. Em 1492, a Espanha decretou que todos os judeus que não se
convertessem ao catolicismo seriam conduzidos ao exílio ou até mesmo julgados,
podendo ser levados à execução em praça pública ou não. Representantes do
governo invadiam as casas para confiscar dinheiro, joias e bens materiais de
valor e quem contestasse a ação era eliminado imediatamente. As irmãs Judith e
Sara viram ainda pequenas muitas atrocidades, mas foram salvas por seus pais
que aceitaram que elas se tornassem cristãs. Rebatizadas respectivamente de
Isabel (Katherine Borowitz) e Clara (Tara Fitzgerald), elas se separaram da
família e foram viver na cidade de Antuérpia onde, embora ainda tendo que
esconder suas origens, as irmãs tiveram alguns anos de felicidade. Isabel, a
mais velha, nunca se casou, mas conseguiu para Clara um casamento arranjado com
outro judeu convertido que morreu quinze anos depois tentando ajudar membros de
sua religião. A inquisição voltava a assombrar os “hereges” e o testamento do
falecido guardava surpresas. Deixando a dúvida de que poderia ter tido um caso
com a cunhada, algo não explorado no roteiro, ele deixa todos os seus bens para
Isabel e a tutela da única filha, Victoria (Hanna Taylor Gordon). Em comum
acordo elas decidem ir viver em uma das propriedades da família em Veneza, na
Itália, cidade rica em cultura e tolerância e também um importante ponto
comercial devido as facilidades de acesso pelo mar, porém, ainda teriam que
bancar as católicas e adorando ídolos falsos. Todavia, a mudança coincide com
uma brusca ruptura na harmonia do clã. Até então as irmãs nunca tinham tido
problemas de convivência, nem mesmo por conta da tal herança.
Logo que chega à Veneza o trio é
bem recebido pela alta sociedade e a amizade com o Conde Foscari (Anton
Rodgers) é de suma importância para a adaptação. Isabel vai cuidar dos negócios
da família e deseja participar dos lucros dos famosos vidros vienenses, um dos
grandes e valiosos produtos de exportação da cidade, mas mesmo com todo o
respeito que lhe dedicam ela tem dificuldades para alcançar seu objetivo. Os
nomes mais influentes têm medo de que o segredo de uma atividade tão lucrativa
caia em mãos erradas e a fama dos judeus, mesmo convertidos, não inspira
confiança. O receio será justificado. Na realidade, Isabel quer informações
sobre a fabricação de vidros para repassá-las a um grupo de turcos mercenários
que oferecem em troca um barco para levar os judeus até Istambul, o único lugar
onde poderiam viver sossegados. O primo dela, Joseph (Richard Harrington), está
para chegar com um grupo de refugiados para colocar em prática um plano. A
residência das moças esconde uma passagem secreta que oferece uma rota de fuga
marítima, assim os fugitivos teriam acesso mais facilmente à embarcação, mas
tudo só seria possível através da duplicidade de acordos. Além das dificuldades
para negociar com os vienenses, Isabel ainda terá problemas com Clara que acaba
se apaixonando por Paolo Zane (John Turturro), um nobre viúvo e falido que
sobrevive às custas da fama e da tradição de sua família. Pensando até em um
possível casamento entre Victoria e seu filho Andrea (Marc Pickering), este
homem realmente parece estar interessado na jovem viúva, mas seu impulso para
conquistas amorosas vai abrir caminho para um grave problema. Com roteiro de
Dominique Bursztejn, Olivier Bonas, Jean-François Goyet e Ademir Kenovic, este
último também assinando a direção, Passagem Secreta é uma grata
surpresa, aquele tipo de filme que nos faz repensar os rumos do cinema. Está
longe de ser uma obra-prima, mas também bem distante de ser qualquer abobrinha,
pelo contrário. Tem conteúdo, reconstituição de época impecável, bela
fotografia, mas pesa o fato de não contar com elenco de peso ou um grande
estúdio por trás. Só por documentar fatos históricos sua importância já estaria
assinalada.
Drama - 90 min - 2004
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