domingo, 11 de junho de 2017

PÁSSAROS LIVRES

Nota 3,0 Apesar da animação caprichada, produção latina sofre com roteiro frágil e sem clímax

Produções vindas de outros países são sempre bem-vindas para oxigenar o mercado, mesmo que lançadas direto para consumo no aconchego do lar. Vários países já provaram que podem fazer excelentes filmes e nos mais variados gêneros, mas a demanda de animações ainda é muito tímida, talvez pelo medo de bater de frente com os gigantes hollywoodianos que com seus desenhos produzidos com alta tecnologia, narrativas inteligentes e humor por vezes ácido conquista espaço facilmente e não deixa brecha para amadores. Realmente, os custos de uma animação são consideráveis e não ter a publicidade do cinema é um empecilho até mesmo para o lançamento em DVD e outras mídias domésticas, assim no mínimo devemos aplaudir o trabalho de pessoas que topam investimentos de risco do tipo, ainda mais quando representam países sem tradição no ramo. A Argentina já provou ser brilhante para dramas e comédias, mas Pássaros Livres foi lançado com o intuito de dar um passo adiante em sua cinematografia. A atitude é louvável, mas o resultado é no máximo regular, infelizmente. Com roteiro e direção de Daniel De Felippo, o longa acompanha as aventuras de dois passarinhos em situações opostas. Juan é um pardal que tem complexo por se achar uma ave comum, o que o leva a viver de certa forma recluso, sempre escondido sobre o disfarce de penugem em tons marrons. Ele adora se sujar na lama para que suas penas ganhem um tom diferenciado e assim consiga se destacar e chamar a atenção das fêmeas que geralmente o ridicularizam. No momento ele está empolgado com uma competição das aves mais rápidas e conta com a torcida de seus amigos, como o beija-flor Pipo e a pomba Líbia, mas um incidente com latas de tinta acaba desviando seu foco. Com coloração exótica como sempre desejou, ele está se achando “o cara” e só pensa em paquerar e se exibir. Antes desta transformação, Juan havia conhecido por acaso Feifi, uma canarinha que passou a vida dentro de uma gaiola, estava infeliz e por um descuido acabou tendo que enfrentar os perigos da cidade grande. Para ajudá-la nesse primeiro contato com a liberdade, ela ganha a improvável ajuda de Clarita, uma morceguinha boa-praça.

Juan e Feifi então se conhecem, se apaixonam e vivem felizes para sempre. Bem, é mais ou menos isso que acontece. O roteiro não constrói bem o sentimento que surge entre as aves protagonistas, no máximo uma amizade que começa por conta das circunstâncias. O pardal começa a ficar assustado com as histórias que ouve sobre doenças e deformações causadas pela tinta no corpo dos passarinhos e resolve procurar o sábio Sr. Abutre que o aconselha a procurar ajuda com os humanos, pois eles é quem tem os conhecimentos necessários para ajudá-lo. Feifi também procura a ave-mestra por estar se sentindo desprotegida e é recomendada a voltar para o seu antigo dono, pois é uma espécie criada com todos os tipos de cuidados e mimos e seria tarde para aprender a sobreviver em um mundo tão selvagem. Juan sabe que depois de recuperado voltará a ser livre, mas se a amiga retornar à sua antiga gaiola dificilmente voltará a vê-la, então bola um plano para resgatá-la. A trama até insere cenas mostrando alguns dos perigos aos quais os passarinhos estão expostos tanto no cativeiro, como as bugigangas tecnológicas que assustam ou não funcionam direito, ou em liberdade, como os predadores e a urbanização desenfreada, mas não se aprofunda. Apesar de uma animação primorosa e colorida feita em computação, é uma pena que Pássaros Livres não dedique a mesma atenção dispensada ao visual para o roteiro que poderia ser ousado e explorar mais a questão das metrópoles invadindo o espaço da natureza sem se preocupar com o destino dos animais. A introdução prometia uma reflexão do tipo, mas no final das contas o filme se resume a apenas uma animação bonitinha e com uma ou outra piada aproveitando-se de particularidades das espécies de animais, como o fato dos morcegos não enxergarem bem durante o dia ou o bater de asas acelerado do beija-flor que não sofre impacto em uma cena em câmera lenta. Até os possíveis vilões da história, o gato Fredie e o Sr. Puertas, tem participações desperdiçadas e o desenho fica devendo um clímax convincente, mesmo a produção tendo a assistência luxuosa do famoso Juan José Campanella, de O Segredo dos Seus Olhos e muitos outros sucessos, talvez o cineasta mais famoso da Argentina no momento.

Animação - 80 min - 2010 

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