domingo, 25 de junho de 2017

ARITMÉTICA EMOCIONAL

Nota 4,0 Elenco forte e bons ganchos são desperdiçados por drama que fica só nas boas intenções

O tempo passou e praticamente não temos mais viva uma importante parte da História mundial. Os sobreviventes do Holocausto pouco a pouco foram falecendo, mas suas tristes lembranças continuam a serem perpetuadas através de seus descendentes e registros em jornais, livros, revistas, televisão e obviamente o cinema. Aritmética Emocional poderia ser mais uma obra a ampliar essa extensa lista de produções que preservam momentos históricos, mas infelizmente o tema do extermínio dos judeus serve apenas como uma desculpa para uma trama sobre amores esquecidos e dificuldades para lidar com traumas, porém, tudo tratado de forma muito superficial apesar de contar um quarteto de renomados atores. Não é um trabalho horroroso, pelo contrário, mas a sensação de que poderia ser um daqueles dramas de dar nó na garganta é inevitável. Roteirizada por Jefferson Lewis, a trama se passa em 1985 quando Melanie Lansing (Susan Sarandon) finalmente recebe notícias de Jakob Bronski (Max Von Sydow), um prisioneiro que a ajudou a sobreviver aos horrores da Segunda Guerra Mundial durante o período em que viveu em Drancy, um campo de concentração constituído próximo a Paris, uma espécie de entreposto de prisioneiros antes de serem enviados para os nazistas para realizarem trabalhos forçados ou serem mortos. Sentindo-se com uma dívida de gratidão, ela o convidou via correspondência para ir passar alguns dias junto com ela e sua família, mas isso não agrada muito a David Winters (Christopher Plummer), seu marido, pois acredita que tal visita poderia piorar o estado de sua esposa que recentemente saiu de uma clínica psiquiátrica e tornou-se dependente de remédios para os nervos, tudo por conta das marcas que ficaram de sua traumática infância. Por conta dessas crises, Melanie nunca conseguiu levar uma vida totalmente feliz e isso se refletiu em seu casamento que se já era estremecido ficou ainda mais complicado quando descobrem que Jakob não veio sozinho. Junto com ele está Christopher Lewis (Gabriel Byrne), outro garoto acolhido pelo bondoso senhor nos tempos de Drancy. Mais que relembrar momentos dolorosos, o encontro com esse amigo do passado traz de volta um amor adormecido.

Baseado no romance homônimo de Matt Cohen, esta fita é repleta de boas intenções, mas quando observamos todo o conjunto concluímos que lhe falta emoção e que as situações propostas são desenvolvidas timidamente. Falta uma catarse, aquele grande momento em que as emoções vêm à flor da pele tanto dos personagens quanto do espectador. E olha que ganchos para tanto não faltavam. O reencontro com um amor do passado que poderia incendiar um casamento, a adoção de Jakob como um novo membro da família, o descontrole emocional de Melanie ou até mesmo a relação de seu filho Benjamin (Roy Dupuis) com o passado da mãe que altera os rumos do presente. Tudo é desperdiçado em nome de uma narrativa melancólica adornada por uma bela fotografia que destaca o tom outonal da paisagem. O diretor Paolo Barzman, oriundo de séries de TV, não conseguiu encontrar o tom certo para este trabalho, assim como não soube aproveitar os atores talentosos. Parece que o diretor teve medo de mexer com temas espinhosos, pois bagagem para falar a respeito certamente não lhe faltava. Seus pais eram roteiristas e chegaram a entrar na lista negra durante os tempos caóticos do macarthismo, assim eles passaram a viver exilados na França. Barzman só voltou aos EUA em meados dos anos 70, assim suas próprias experiências de certa forma refletiriam um pouco da tensão da época do Holocausto, mas ele não soube expor essa memória emotiva em seu filme. Para quem está por fora e mal tem ideia do que foi esse triste episódio da História, podem não ficar claras as intenções das cenas em flashback e em preto e branco. Plasticamente as sequências ficaram boas, mas vazias de conteúdo apostando apenas na chantagem emocional. Quem resiste ao choro de crianças, ainda mais quando praticamente estão sozinhas no mundo e na iminência do perigo da morte por motivos torpes? Lançado diretamente em DVD no Brasil, o próprio título Aritmética Emocional não soa muito convidativo e no fundo não encontramos respostas para ele no enredo, a não ser a somatória de oportunidades jogadas fora que poderiam elevar o nível da obra.

Drama - 99 min - 2007 

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