Nota 5,5 Longa se apoia no carisma da protagonista e trata superficialmente tema científico

O assunto de bebês do tipo
“produção independente” hoje é debatido com mais naturalidade, mas ainda assim
não deixa de ser um tabu. Imagine então falar disso duas décadas atrás. Para
afugentar o fantasma da polêmica, nada melhor que trazer a temática para o
campo do humor, embora qualquer questão científica seja descartada ou
minimizada em
Feita por Encomenda, um filme que claramente se sustenta em
cima do carisma e talento de Whoopi Goldberg que dá vida à Sarah Matthews, a
politizada dona de uma livraria na Califórnia especializada em cultura
africana. Ela sempre quis ter filhos, mas acabou ficando viúva antes de
conseguir engravidar. Não se importando em enfrentar as dificuldades de ser uma
mãe solteira, ela acabou recorrendo a um banco de sêmen para realizar seu sonho
e de uma inseminação artificial nasceu Zora (Nia Long). Como a maioria dos
casos do tipo, é óbvio que na adolescência a menina começa a questionar sua
origem, a diferença é que até então ela nem desconfiava que fosse filha de pai
desconhecido. A descoberta foi por um acaso. Durante uma pesquisa escolar, ela
descobre que seu tipo sanguíneo não corresponde com a junção do sangue da mãe
com a do falecido marido. Como toda comédia romântica tradicional, são
perceptíveis só de ler a sinopse todas as peças necessárias para fazer essa
engrenagem funcionar. Após muito esforço, Zora consegue arrancar a verdade de
Sarah, fica em meio a uma crise de identidade e encasqueta de saber quem foi o
doador do material genético. Muito facilmente ela chega até o laboratório onde
foi gerada, arma um plano para ter acesso ao banco de dados e então mais uma
surpresa... Para a filha e também para a mãe. A comerciante havia requisitado o
sêmen de um homem negro, alto e inteligente. Bem, realmente lhe conseguiram um
doador alto, talvez inteligente, mas de pele branca. Ele é Hal Jackson (Ted
Danson), um vendedor de carros falastrão e metido a conquistador que chega até
a dar uma cantada de leve em Zora, mas quase tem um colapso quando descobre que
ela é sua filha. Ao ver o tipo de pai que tem, a menina se decepciona e sua mãe
fica enfurecida pelo erro do laboratório, mas já que agora toda a verdade veio
à tona o melhor seria tentar a convivência pacífica.
O roteiro de Holly Goldberg Sloan
aposta em situações clichês, mas que acabam funcionando nas mãos do improvável
casal protagonista. Aliás, o romance da ficção acabou tornando-se realidade e
os atores namoraram durante algum tempo, o que explica a química convincente
entre seus personagens que tentam várias vezes estabelecer uma relação
harmoniosa em prol da felicidade de Zora. No entanto, sempre alguma coisa surge
para atrapalhá-los, seja a diferença de temperamentos e ideias, o jeito
namorador dele e a seriedade dela ou literalmente serem atropelados pelos
animais que Hal insiste em contratar para “atuarem” com ele nas propagandas de
sua loja. De qualquer forma, o final feliz está garantido para todos. Bem,
Sloan tenta surpreender oferecendo uma leve reviravolta próximo da conclusão,
mas nada muito mirabolante afinal o longa nasceu com todas as características
de uma legítima sessão da tarde. O diretor Richard Benjamin tinha experiência
no gênero familiar, já havia dirigido
Um
Dia a Casa Cai e
Minha Mãe é uma
Sereia, por exemplo. É uma pena que o inocente rótulo de produto livre para
todas as idades diminui o impacto de
Feita por Encomenda, já que, mesmo
superficialmente, este é um dos primeiros filmes da História do cinema
norte-americano a abordar de forma espontânea e natural as relações
inter-raciais, ou seja, sem levantar bandeiras acerca de preconceito. Apesar da
exigência da protagonista que o pai de sua filha fosse negro, uma forma de
colocar seu falecido marido nesta vaga e evitar problemas com Zora futuramente,
em nenhum momento a questão da cor de pele é apresentada como empecilho para
Sarah e Hal ficarem juntos. Simplesmente o destino é um pouco travesso com
eles. Em tempo: apesar das atenções serem voltadas para Goldberg, então
colhendo os louros de
Mudança de Hábito,
quem rouba a cena é Will Smith em um de se seus primeiros filmes vivendo o
melhor amigo de Zora que tenta ser promovido ao posto de namorado. Sua
sequência ajudando a jovem a se infiltrar na clínica de reprodução é impagável.
Comédia romântica - 110 min - 1993
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