quinta-feira, 5 de março de 2015

EU E AS MULHERES

NOTA 6,0

Jovem se envolve com os dramas
de três mulheres com idades
distintas, mas longa trata todos
eles de forma superficial
Existem alguns filmes que parecem ser realizados já com o intuito de angariar críticas negativas e por isso testam a paciência dos espectadores, mas outros até são feitos com boas intenções, porém, deixam a desejar em alguns quesitos. Em situações assim as próprias distribuidoras procuram esconder seus produtos e quando eles não são muito divulgados é inevitável que surjam dúvidas quanto aos seus predicados, mas nem sempre devemos julgar um filme por sua publicidade. Embora a maioria destes casos resulte em trabalhos que nada mais são que repetições de clichês e que ninguém morreria se não assistisse, todavia, eles podem servir para preencher com qualidade o tempo livre e ainda ficar na memória como algo agradável. Se não são inesquecíveis ao menos não te fazem mal algum. É a essa categoria de filme que pertence Eu e as Mulheres, o primeiro trabalho do diretor Jonathan Kasdan que também assina o roteiro, uma obra com premissa interessante, mas que não encontra sua tônica e segue arrastada e sem grandes momentos até subirem os créditos finais. A trama gira em torno de Carter Webb (Adam Brody), um jovem escritor de contos eróticos que foi dispensado por Sofia (Elena Anaya), sua namorada, e deprimido resolveu abandonar a agitada Los Angeles e passar uns tempos nos subúrbios de Detroit na casa de Phyllis (Olympia Dukakis), sua avó que há anos não via. Sua intenção na realidade era concluir um livro que nem havia começado, mas os novos acontecimentos não permitem que ele se concentre. Além de ter que lidar com a demência da avó, que fala e faz muitas bobagens, Webb acaba se aproximando da família Hardwicke, seus novos vizinhos que levam uma vida perfeita de fachada. Sarah (Meg Ryan) sofre em silêncio com a traição do marido e está passando por vários exames médicos torcendo para que não tenha nenhuma doença grave. Ela tenta forçar uma relação entre o jovem e sua filha mais velha, Lucy (Kristen Stewart), com quem mantém um relacionamento difícil, mas aos poucos ela própria parece estar querendo algo a mais que a amizade de Webb. E assim o rapaz passa a dividir o seu dia-a-dia entre as preocupações com estas três mulheres, mas apenas a relação avó e neto é razoavelmente bem trabalhada. As outras duas que pendem para o lado do relacionamento amoroso acabam colocando o protagonista como uma espécie de psicólogo que se limita a ouvir problemas e aconselhar.

Kasdan, após muitas experiências como ator, resolveu ir para trás das câmeras, mas parece não ter herdado totalmente o talento do pai, embora o famoso diretor e roteirista Lawrence Kasdan, de Grand Canyon – Ansiedade de Uma Geração, também tenha nos últimos anos dado suas escorregadelas como no caso do pavoroso O Apanhador de Sonhos. Talvez por influência de seu trabalho como intérprete, o novato diretor tenha optado por realizar um filme que privilegiasse as emoções e consequentemente o trabalho dos atores na construção dos personagens, porém, acabou perdendo a mão e entregando um trabalho superficial, até porque provavelmente trabalhou sob a pressão de produtores que queriam uma obra light e sem restrições de idade. Embora o título deixe explícita a importância das mulheres na trama, é realmente Brody quem chama a atenção, de longe o melhor personagem, até porque ele tem o reforço do excepcional trabalho da veterana Dukakis, se virando com o raso perfil de sua vovó senil, porém, ela é a dona das melhores cenas e falas, praticamente todas divididas com o neto. Tal relacionamento é de fácil identificação com o espectador, mas o mesmo não se pode dizer do contato do jovem com suas vizinhas. Stewart, para variar, está bastante insossa no papel da adolescente problemática, não conseguindo passar as emoções necessárias para tornar crível sua relação conflituosa com a mãe e tampouco nos convencer de seu amor por Webb. Desculpe os fãs da atriz, mas infelizmente ela compromete um gancho significativo do enredo, embora a culpa da superficialidade do longa deva ser dividida a outros fatores. Já a outrora “senhora sucesso” Meg Ryan é quem decepciona mais. O problema não é sua atuação em si, mas sim o tipo que vive, uma mulher que não deixa claro seus objetivos com o novo vizinho. Genro ou namorado, qual dessas vagas o escritor ocuparia em sua vida? Sinceramente ficamos sem resposta simplesmente porque os encontros entre os dois soam como sessões de terapia. Descobrindo estar com câncer no seio, o drama da personagem é até bem abordado, inclusive com uma tocante cena em que ela revela ao jovem seu segredo sob uma pesada chuva que ajuda a construir o clima melancólico do momento, mas Kasdan limita-se a oferecer o básico para o espectador se envolver, procurando não se aprofundar na temática.

De qualquer forma, sem grandes pretensões, Kasdan consegue bons resultados visualmente, concentrando sua trama em um ambiente bucólico, assim como o desenrolar de sua história que é bem leve e nada constrangedora. O fato de o protagonista escrever roteiros eróticos não deu asas a imaginação do diretor para passear pelo mundo da libido, assim o rapaz é retratado como uma pessoa normal que só possui uma profissão um pouco diferente, descartando o clichê do homem sem limites que bebe, se droga e se mete com prostitutas para reforçar seu caráter libertino. Seu sonho na realidade é escrever livros infantis, o que explica sua personalidade mista. Ele é bastante maduro para a idade e um tanto sério, mas tem sempre na ponta da língua alguma fala divertida carregada de sarcasmo e em alguns momentos demonstra certa fragilidade para lidar com os problemas. O protagonista aprende a lidar com o mundo feminino entrando em contato diariamente com as mais diversas gerações vivendo com cada uma situações e sentimentos diferentes, desde a inocência de uma criança até a morbidez de uma idosa que parece clamar pela morte, contudo, por vezes parece insensível aos problemas que o cerca. Alicerçado basicamente em cima de cenas cotidianas e banais, Eu e as Mulheres, no conjunto, é uma obra regular com alguns bons momentos, mas que deixa a sensação de que poderia ser melhor. Este drama romântico peca não só na construção rasa dos personagens, mas também pelo roteiro que parece flertar com o estilo independente do cinema americano, mas lhe falta ousadia para tanto. Poderia render um bom melodrama a disputa de uma mãe doente e uma filha completamente saudável pelo amor de um mesmo homem, mas tal viés perde completamente a força no ato final. Uma polêmica que poderia turbinar o projeto, mas que é descartada a fim de uma conclusão sem emoção e totalmente esquecível. Talvez pelo fato de Kasdan acumular duas funções em um mesmo filme ele acabou tendo uma visão geral comprometida da obra, faltando carga emocional aos conflitos e correções de perfis dos indivíduos envolvidos conforme problemas fossem sendo identificados, alterações que poderiam ser feitas conforme as filmagens avançassem. A premissa é boa e renderia bastante, mas Kasdan optou por fazer algo tão leve que faltou energia para alcançar bons resultados. Todavia, uma pedida válida para uma tarde chuvosa que, aliás, combina muito bem com o clima do filme como já dito.

Drama - 97 min - 2005 

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